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Nutrição e Nutrologia em Oncologia

 

Importância da alimentação em pacientes oncológicos

Poucas doenças conseguem afetar tanto o estado nutricional de uma pessoa como o câncer.

Diversos aspectos contribuem para isso, incluindo:

  • Efeitos diretos do câncer: o tumor pode aumentar o gasto energético do corpo, o que costuma gerar uma maior necessidade de calorias e nutrientes;
  • Efeitos do tratamento: tratamentos como a quimioterapia e a radioterapia tendem a causar efeitos colaterais (náuseas, vômitos, diarreia) que afetam a ingestão de alimentos e a absorção de nutrientes. Além disso, esses tratamentos tendem a levar a uma redução no apetite.
  • Fatores psicológicos e sociais: manter uma boa alimentação é um desafio no paciente oncológico, devido a todos os efeitos da doença e do tratamento, incluindo a perda de apetite. Os efeitos psicossociais que são esperados nos pacientes com câncer podem tirar sua motivação para superar esses desafios.
  • Comprometimento do aparelho digestivo: embora a desnutrição seja comum para qualquer tipo de câncer, a preocupação será ainda maior no caso de comprometimento do aparelho digestivo, o que inclui câncer de cabeça e pescoço, câncer gástrico e câncer do intestino, entre outros.

Por conta disso, estudos mostram que cerca de 80% das pessoas em tratamento por câncer estão desnutridas.

A desnutrição aumenta muito o risco de complicações diversas relacionadas ao câncer, além de reduzir a resposta ao tratamento e aumentar o risco de desfechos desfavoráveis da doença. Isso inclui:

  • Diminuição da resposta ao tratamento e da qualidade de vida do paciente;
  • Complicações pós-cirúrgicas;
  • Aumento do risco de infecções;
  • Fraqueza, perda de peso e fadiga.

Por fim, nos pacientes curados do câncer, os cuidados nutricionais podem ajudar a reduzir o risco de recorrência da doença.

Demandas nutricionais do paciente oncológico

Proteínas

As proteínas são importantes não só para o crescimento, como também para reparar os tecidos do corpo e manter o sistema imunológico saudável. Considerando que o câncer é uma doença catabólica, em que o tumor consome as reservas corporais, pessoas com câncer geralmente precisam de mais proteína do que o habitual.

Quando o indivíduo não ingere proteínas suficientes, há uma maior perda muscular, menor capacidade de cicatrização dos tecidos e maior vulnerabilidade para infecções.

Carboidratos

Os carboidratos são a principal fonte de energia do corpo. No paciente oncológico, o gasto energético aumenta, de forma que o consumo de quantidades adequadas de carboidratos é fundamental. Sem o carboidrato, o corpo passa a utilizar proteínas para a geração de energia, podendo contribuir para a perda de massa muscular e maior suscetibilidade para infecções.

Imunomoduladores

Muitos estudos afirmam que alguns nutrientes como a arginina, o ômega-3 e os nucleotídeos, considerados imunomoduladores, auxiliam na resposta imunológica do paciente com câncer, podendo levar a resultados mais favoráveis, pois apresentam benefícios como: melhora do peso corporal, aumento da massa muscular e melhora da resistência contra novas infecções.

Desnutrição no paciente oncológico

A desnutrição é um problema comum entre pacientes oncológicos. Ela acomete ente 15 e 20% dos pacientes no momento do diagnóstico e até 80 a 90% nos pacientes em estágio avançado da doença (1).

Esta prevalência varia especialmente em decorrência do tipo de câncer e do estágio de evolução da doença.

A desnutrição é considerada grave quando a perda de peso supera os 10% em seis meses, o que acontece em cerca de 15% dos pacientes.

Em muitos casos, a perda de peso não intencional é o primeiro sintoma do câncer e pode ser notada antes mesmo de o diagnóstico de câncer ser estabelecido.

Quais as causas da desnutrição no paciente oncológico?

A desnutrição no paciente oncológico se deve a diferentes fatores, incluindo:

  • Efeitos catabólicos da doença;
  • Efeitos colaterais dos tratamentos;
  • Perda do apetite;
  • Dificuldade em deglutir e engolir os alimentos;
  • Problemas para absorver e armazernar os nutrientes.

Sintomas Gastrointestinais

Constipação

A constipação intestinal, também conhecida como prisão de ventre, é uma alteração no funcionamento do intestino caracterizada por fezes ressecadas ou endurecidas, dificuldade ou desconforto para evacuar e por uma frequência de evacuação menor que três vezes por semana.

Para combater a constipação, recomenda-se aumentar a ingestão de fibras alimentares, diminuir os alimentos que prendem o intestino e melhorar a hidratação.

A fibra é a parte dos alimentos vegetais que o corpo não consegue digerir. Existem 2 tipos de fibra. A fibra insolúvel que ajuda a remover rapidamente os resíduos de alimentos digeridos do corpo e a fibra solúvel que se liga à água nas fezes para ajudar a mantê-las moles

Náuseas e vômitos

Mesmo com o uso de medicamentos antieméticos, náusea e vômito são queixas comuns durante o tratamento com a quimioterapia.

Para reduzir as náuseas e vômitos, é importante fracionar a dieta em pequenas porções, evitar comidas gordurosas, beber líquidos em pequenas quantidades e preferir alimentos frios.

Diarreia

No caso de pacientes com diarreia, é necessário dar preferência para comidas constipantes e manter distância dos alimentos ricos em fibras alimentares.

Aftas

Aftas na boca é um problema comum durante a quimioterapia. Caso isso aconteça, deve-se considerar:

  • Evitar alimentos muito salgados e ácidos.
  • Escolher alimentos cremosos, fáceis de mastigar e deglutir, como purés, sopas, gelatinas, pudins, iogurtes, queijos macios, ovos e gelados.
  • Comer alimentos à temperatura ambiente ou frios.
  • Fracionar as refeições, comendo pouco de cada vez e mais vezes ao longo do dia.
  • Beber 1,5 a 2 litros de água ao longo do dia.
  • Evitar alimentos muito doces, gordurosos, fritos, picantes ou muito condimentados.

Alterações no paladar e olfato

O câncer e seus tratamentos podem alterar o paladar e o olfato. Essas alterações podem afetar o apetite e, frequentemente, são descritas como um sabor amargo ou metálico.

Perda do apetite

A falta de apetite é um efeito colateral esperado com o tratamento oncológico.

Uma forma de minimizar os efeitos da falta de apetite é comendo pequenas refeições mais vezes ao dia, escolher alimentos com textura e aroma agradáveis e não beber líquidos durante as refeições. Além disso, é preciso que se dê mais tempo para as refeições e idealmente que se tenha um ambiente adequado, onde o paciente se sinta confortável. Fazer uma atividade física antes do horário da refeição pode contribuir para a melhora do apetite.

 

Quais as consequências da desnutrição do Paciente Oncológico

A alimentação saudável é fundamental para que o paciente com câncer mantenha um peso corporal saudável, a massa muscular adequada e para minimizar os efeitos colaterais do tratamento.

Sem uma oferta adequada de nutrientes, a defesa do organismo contra as células cancerígenas fica comprometida e o risco de o câncer crescer e se espalhar é maior.

Durante o tratamento, o corpo precisa de energia e nutrientes extras para curar feridas, combater infecções e se recuperar de cirurgias.

A desnutrição tem desta forma um impacto negativo tanto na sobrevida como na qualidade de vida do paciente oncológico. Ela faz com que o paciente fique fraco, cansado e incapaz de combater a infecção ou terminar o tratamento do câncer.

Estima-se que aproximadamente 20% das mortes relacionadas ao câncer ocorram em decorrência da desnutrição e das complicações causadas pela desnutrição (2)

A história de perda de peso nos últimos seis meses aumenta a probabilidade de complicações pós-cirurgias oncológicas, como infecções, estando associado inclusive com um aumento do tempo de internação.

A desnutrição no paciente oncológico está associada principalmente a dois fatores, que podem acontecer de forma isolada ou combinada:

Anorexia

A anorexia se refere à perda de apetite ou desejo de comer.

Este é um sintoma comum em pacientes com câncer. A anorexia pode ocorrer no início da doença ou mais tarde, se o câncer crescer ou se espalhar. A maioria dos pacientes com câncer avançado terá anorexia.

Caquexia

A caquexia é uma condição marcada por fraqueza, perda de peso e perda de gordura e músculo.

Ela é comum em pacientes com tumores que afetam a alimentação e a digestão.

Ela também pode ocorrer em pacientes com câncer que estão se alimentando bem, mas não estão absorvendo os nutrientes ou armazenando gordura e músculo devido ao crescimento do tumor.

Avaliação nutricional do Paciente Oncológico

A avaliação global subjetiva produzida pelo paciente (AGS-PPP) é o método padrão de avaliação nutricional do paciente com câncer (3).

Medidas antropométricas e bioquímicas, comumente utilizadas na avaliação nutricional de pacientes não oncológicos, não são fidedignos para a avaliação do paciente oncológico, uma vez que podem sofrer influência de fatores não nutricionais na vigência do câncer (4).

Abordagem da Nutrição do Paciente Oncológico

Uma vez que os efeitos colaterais do câncer ou do tratamento do câncer estejam afetando a alimentação normal, mudanças na alimentação podem ser feitas para ajudar o paciente a obter os nutrientes de que precisa.

A abordagem da nutrição do paciente oncológico deve ser individualizada, de acordo com os sintomas apresentados por cada paciente.

Anorexia

O paciente com anorexia deve buscar comer alimentos ricos em proteínas e calorias.

Os alimentos ricos em proteínas devem ser consumidos no início da refeição, quando o apetite é maior.

O consumo de bebidas durante as refeições deve ser limitado, já que ele pode encher o estômago e reduzir ainda mais o apetite.

Beber milkshakes, smoothies, sucos ou sopas ao invés de água pode ser uma forma de se aumentar o consumo de calorias, especialmente para aqueles que não se sentem confortáveis comendo alimentos sólidos.

O uso de suplementos alimentares pode ser considerado, quando a alimentação regular não estiver sendo suficiente.

Ao invés de concentrar a alimentação em poucas e grandes refeições, comer pequenas refeições e lanches saudáveis ​​com frequência ao longo do dia tende a ser melhor tolerado.

Assim, o paciente deve ter sempre à sua disposição pequenas quantidades de seus alimentos favoritos, para ir comendo sempre que tiver apetite.

Manter uma rotina regular de atividades físicas é outra forma de estimular o apetite.

Em casos mais avançados, a alimentação por sonda pode ser necessária para que o paciente obtenha todos os nutrientes de que necessita.

Náusea

As seguintes medidas podem ajudar os pacientes com câncer a controlar a náusea:

  • Dividir a alimentação em pequenas refeições, ao invés de se alimentar apenas nas três refeições principais;
  • Evitar grandes quantidades de líquido durante as refeições, para evitar sentir-se cheio ou inchado;
  • Não pular refeições e lanches, já que a náusea tende a piorar quando o estômago está vazio;
  • Lavar a boca antes e depois de comer e escovar os dentes, para tirar resquícios do alimento da boca;
  • Não comer em uma sala que tenha cheiro forte de comida ou que esteja muito quente;
  • Alimentar-se em um ambiente bem ventilado;
  • Escolher alimentos que pareçam mais atrativos. O paciente não deve se forçar a comer alimentos que façam ele se sentir mal;
  • Comer alimentos leves, macios e fáceis de digerir, ao invés de refeições pesadas;
  • Comer alimentos secos ao longo do dia, como bolachas ou torradas;
  • Comer torradas secas ou bolachas antes de sair da cama, caso sinta náuseas pela manhã;
  • Ingerir líquidos e alimentos à temperatura ambiente (nem muito quente nem muito frio);
  • Comer e beber mais lentamente;
  • Chupar balas duras, caso sinta um gosto ruim na boca;
  • Evitar alimentos e bebidas com cheiros fortes.

Aftas

As seguintes medidas são indicadas para os pacientes com aftas na boca:

  • Comer alimentos macios e fáceis de mastigar, como milkshakes, ovos mexidos e cremes;
  • Cozinhar mais os alimentos, até que eles fiquem bem macios;
  • Cortar os alimentos em pedaços pequenos;
  • Chupar lascas de gelo para anestesiar a boca;
  • Enxaguar a boca 3 a 4 vezes por dia. Para isso, misture ¼ colher de chá de bicarbonato de sódio, ⅛ colher de chá de sal e 1 xícara de água. Não usar enxaguante bucal que contenha álcool;
  • Comer alimentos frios ou em temperatura ambiente. Alimentos quentes podem machucar ainda mais a boca.

Não consumir os seguintes alimentos:

  • Frutas cítricas, incluindo laranja, limão, uva, abacaxi, morango, kiwi ou maracujá;
  • Alimentos picantes;
  • Vegetais crus;
  • Salgados;
  • Alimentos crocantes;
  • Bebidas alcoólicas.

Dor de garganta e dificuldade para engolir

As seguintes medidas podem ser usadas por pacientes com câncer que têm dor de garganta ou dificuldade para engolir:

  • Comer alimentos macios que sejam fáceis de mastigar e engolir, como milkshakes, ovos mexidos, aveia ou outros cereais cozidos;
  • Cozinhar os alimentos até ficarem macios e macios;
  • Corte os alimentos em pequenos pedaços;
  • Consumir alimentos e bebidas ricos em proteínas e calorias, para suprir a deficiência causada pelo menor consumo de alimentos sólidos;

Evitar os seguintes tipos de alimentos:

  • Alimentos e bebidas quentes;
  • Alimentos picantes;
  • Frutas cítricas, incluindo laranja, limão, uva, abacaxi, morango, kiwi ou maracujá;
  • Alimentos crocantes;
  • Bebidas alcoólicas.

Suplementos Alimentares

As dificuldades alimentares inerentes ao câncer e ao tratamento oncológico faz com que a maior parte desses pacientes tenha indicação para o uso de um ou mais suplementos alimentares.

Infelizmente, a regulação existente sobre os suplementos alimentares é muito menor do que com os alimentos. Assim, alguns cuidados precisam ser considerados.

Muitos suplementos disponíveis no mercado contêm substâncias que não estão indicadas nos rótulos, mas que podem ter efeitos negativos para o paciente oncológico. Algumas dessas substancias podems ser introduzidas intencionalmente nos produtos, com o objetivo de potencializar o efeito prometido pelo suplemento. Em outros casos, pode haver contaminação cruzada, em decorrência da manipulação prévia no mesmo local de suplementos contendo essas substâncias.

A melhor forma de se evitar isso é consumindo produtos de marcas que sejam reconhecidas e que estejam bem estabelecidas no mercado.

Nutrição Enteral

A nutrição enteral se refere à alimentação na qual os nutrientes são administrados através de um tubo (sonda) inserido no estômago ou intestinos.

Quando o suporte nutricional é esperado que tenha duração de poucas semanas, a sonda pode ser introduzida através do nariz (sonda nasogástrica).

Para uma nutrição enteral de longo prazo, a sonda é introduzida através de uma abertura feita na parte externa do abdômen, chamada de gastrostomia. Quando a sonda é introduzida no estômago, ela é chamada de gastrostomia. Quando é introduzida no intestino delgado, ela é chamada de jejunostomia.

A gastrostomia ou a jejunostomia também pode ser indicada quando existe algum impeditivo para a passagem da sonda pelo nariz ou garganta.

Nutrição Parenteral

Na nutrição parenteral, os nutrientes são infundidos diretamente na corrente sanguínea, sem passar pelo trato digestivo.
Ela pode ser indicada para o paciente gravemente enfermo, que não pode ingerir alimentos por via oral ou por alimentação enteral.

Cuidados com infecções

O câncer e seus tratamentos podem comprometer o sistema imunológico do seu corpo, favorecendo a ocorrência de infecções e doenças. Todo o cuidado deve ser feito pelo paciente oncológico para minimizar o risco de infecções. Do ponto de vista nutricional, os seguintes cuidados devem ser considerados:

  • Lavar as mãos com água morna e sabão por 20 segundos antes e depois de preparar os alimentos e antes de comer.
  • Não descongelar carne, peixe ou aves à temperatura ambiente. Descongele no microondas ou na geladeira.
  • Lavar as folhas dos vegetais folhosos uma de cada vez, em água corrente.
  • Jogar fora alimentos vencidos ou que estejam com aparência ou cheiro estranhos.
  • Usar facas limpas sempre que for cortar alimentos diferentes.
  • Na geladeira, guardar a carne crua bem fechada e longe de alimentos prontos para consumo.
  • usar uma tábua diferente para vegetais e para carnes cruas.
  • Limpar a bancada e as tábuas de corte frequentemente com água quente e sabão
  • Não consumir carnes cruas ou mal passada
  • Não comer ovos crus ou com a gema mole
  • Evitar alimentos vendidos a granel ou que não sejam vendidos lacrados.
  • Não usar ovos rachados.
  • Ao se alimentar na rua, evitar fontes alimentares de alto risco, incluindo saladas, delicatessens, frutas, buffets e vendedores de rua.

Alimentos potencialmente cancerígenos

Pacientes oncológicos ou sobreviventes de câncer devem ter cuidado em manter uma alimentação saudável pela vida toda.

Muitos alimentos já foram associados a maior risco de câncer. Para alguns deles, existem de fato evidências de fato de que podem contribuir para isso, de forma que devem ser evitados. Em outros casos, essa associação não foi confirmada.

Ter esse cuidado e a avaliação de um profissional especializado é fundamental, de forma a ter uma alimentação segura e ao mesmo tempo sem restrições em excesso.

A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) é uma organização que faz parte da Organização Mundial da Saúde (OMS). Suas recomendações são consideradas  como as mais confiáveis nessa relação entre os diferentes tipos de alimento e o risco de câncer.

Classificação IARC

Os compostos ou fatores físicos avaliados pela IARC são classificados em quatro grupos com base nas evidências científicas existentes de carcinogenicidade:

Grupo 1: “Cancerígeno para humanos”

Inclui produtos aos quais existem evidências suficientes para concluir que pode causar câncer em humanos.

Grupo 2A: “Provavelmente cancerígeno para humanos”

Existem fortes evidências de que pode causar câncer em humanos, mas atualmente ainda não é conclusivo.

Grupo 2B: “Possivelmente cancerígeno para os seres humanos”

Existem algumas evidências de que pode causar câncer nos seres humanos, mas atualmente está longe de ser conclusivo.

Grupo 3: “Inclassificável quanto à carcinogenicidade em humanos”

Não há atualmente provas de que cause câncer em humanos.

Grupo 4: “Provavelmente não cancerígeno para humanos”

Há fortes evidências de que não causa câncer em humanos.

Carne vermelha

A carne vermelha é classificada pela IARC no nível 2ª, ou seja, como um alimento provavelmente cancerígeno. Isso inclui carnes como bovina, suína, cordeiro, carneiro, cavalo e cabra. Vale reforçar que, embora a carne de porco seja branca, ela é nutricionalmente equivalente às carnes vermelhas.

O risco está associado especialmente ao câncer de cólon, reto. No entanto, há também evidências de associação com câncer de pâncreas e de próstata.

Ainda não está claro em que medida o consumo de carne vermelha aumenta o risco de câncer. No entanto, acredita-se que tenha relação com o ácido siálico Neu5Gc, uma molécula de açúcar presente na carne vermelha que é naturalmente encontrada na maioria dos mamíferos, mas não nos seres humanos.

Dessa forma, o sistema imunológico humano reconhece o Neu5Gc como  uma substância estranha, produzindo então produz uma resposta inflamatória contra ele.

A OMS recomenda um consumo limitado a até 500 gramas de peso cozido de carne por semana, o que equivale a aproximadamente 750 gramas de peso cru.

Carnes processadas

Carne processada refere-se a carne ou a miudos que foram salgadas, fermentadas ou transformadas por outros métodos para melhorar a preservação ou realçar o sabor.

Entre elas, incluem-se salsichas, carne enlatada e carne seca.

Esses produtos são classificados pela IARC como Nível 1. Isso significa que existem evidências suficientes para concluir que podem causar câncer em humanos. Essa associação está relacionada especialmente ao câncer coloretal.

O risco de câncer está associado aos nitratos e nitritos utilizados para curar carnes. Essas substâncias podem ser transformadas por bactérias no trato digestivo humano em compostos N-nitrosos, alguns dos quais são cancerígenos.

Aflatoxinas

As aflatoxinas (AFs) são um grupo de contaminantes tóxicos naturais produzidos por certos fungos. Elas estão relacionadas ao câncer de fígado, especialmente em populações com hepatite B.

Ela está classificada no Nível 1 pela IARC, o que significa que existem evidências suficientes para concluir que podem causar câncer em humanos.

Foi relatado que as FA causam até 30% de todos os casos de câncer de fígado no mundo.

A principal fonte de exposição humana é através do amendoim e do milho, embora os FA também sejam encontrados em frutas secas, nozes , especiarias, óleo vegetal bruto, arroz, etc.

Recomenda-se comprar esses produtos de varejistas confiáveis, armazenar adequadamente os produtos de grãos em locais frescos e secos, ficar atento ao prazo de validade dos alimentos e descartar alimentos mofados ou danificados, a fim de reduzir a exposição às aflatoxinas.

Álcool

O álcool é um agente cancerígeno do grupo 1. Isso significa que existem evidências suficientes para concluir que podem causar câncer em humanos.

Ele foi associado especialmente aos seguintes tipos de câncer:

  • Boca
  • Garganta
  • Esôfago
  • Mama
  • fígado
  • cólon e reto

O aumento no risco está relacionado à dose, de forma que quanto mais uma pessoa bebe, maior é o risco.

Peixes salgados

Carnes salgadas, como o bacalhau, charque ou carne de sol, foram associados a maior risco de câncer, quando consumidos em excesso. Ainda assim, o consumo moderado dessses produtos é recomendado, já que são boas fontes de Vitamina B12, ômega 3 e ácidos graxos.

O risco envolve especialmente o câncer de estômago ou de nasofaringe.

O peixe salgado chinês é classificado como nível 1 pela IARC.

Adoçantes

O adoçante aspartame é classificado pela IARC na categoria 2B. Isso significa que há evidências limitadas de que ele pode causar câncer em humanos. O risco foi associado especialmente ao carcinoma hepatocelular, um tipo de câncer de fígado.

O aspartame é um adoçante muito mais doce que o açúcar, por isso é usado em pequenas quantidades para dar o mesmo nível de doçura. Além de ser vendido na forma de adoçante de mesa, ele pode estar presente em alimentos e bebidas preparados, especialmente aqueles classificados como “diet”ou “zero”.

No entanto, o Joint Expert Committee on Food Additives (JECFA) manteve a ingestão diária aceitável de Aspartame em até 40 mg/kg de peso corporal.

Stevia, xilitol e o eritritol são exemplos de adoçantes considerados menos prejudiciais que o aspartame.

Alimentos ultraprocessados

Alimentos ultraprocessados são formulações industriais feitas inteiramente ou majoritariamente de substâncias extraídas de alimentos (óleos, gorduras, açúcar, amido, proteínas), derivadas de constituintes de alimentos (gorduras hidrogenadas, amido modificado) ou sintetizadas em laboratório a partir de matérias orgânicas como petróleo e carvão.

Esses alimentos modificam a flora intestinal, causam inflamação crônica no trato gastrointestinal, desregulam o metabolismo, sobrecarregam órgãos como o fígado e o pâncreas e oferecem quantidade excessiva de calorias sem provocar saciedade, aumentando com isso o risco de obesidade.

Além disso, o s alimentos ultraprocessados são consumidos em substituição aos alimentos in natura. Não ingerir alimentos in natura leva à falta de uma série de micronutrientes, incluindo vitaminas e minerais, necessários ao metabolismo.

De acordo com estudo recente publicado na renomada revista Lancet, a alta ingestão de ultraprocessados aumentou em 7% o risco de câncer em geral, em 25% o risco de câncer de pulmão, em 52% o risco de câncer de cérebro e em 63% o risco de linfoma, quando comparados com indivíduos com baixa ingestão desses produtos (3).

Agrotóxicos

Agrotóxicos são produtos químicos sintéticos utilizados para controlar pragas, doenças e plantas daninhas em lavouras e pecuária.

Eles estão presentes em frutas e verduras, além de produtos industrializados feitos a partir dessas frutas e verduras. Carnes e leites também contêm os agrotóxicos, devido à dieta dos animais. Enfim, estão presentes em quase tudo o que se compra nos supermercados.

O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Muitos agrotóxicos já proibidos na União Europeia e Estados Unidos ainda são largamente utilizados pela agropecuária brasileira.

Agrotóxicos podem causar diversas doenças, incluindo:

  • Problemas neurológicos, incluindo a Doença de Parkinson;
  • Distúrbios de comportamento;
  • Problemas na produção de hormônios sexuais, podendo levar a Infertilidade, puberdade precoce e atrofia dos testículos;
  • Má formação fetal e aborto;
  • Endometriose;
  • Diferentes tipos de câncer.

Estudo inédito realizado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) revela que 30% dos agrotóxicos aplicados de avião em plantações de cana-de-açúcar de São Paulo têm associação ao desenvolvimento de câncer.

Eliminar a exposição aos agrotóxicos é praticamente impossível. No entanto, essa exposição pode ser minimizada.

Algumas dicas devem ser consideradas para reduzir o consumo desses produtos:

  • Escolher alimentos de época;
  • Preferir alimentos da região;
  • Evitar alimentos ultraprocessados;
  • Optar por alimentos orgânicos;
  • Lavar bem os alimentos;
  • Retirar a casca das frutas.

Leite e derivados

Diferentes estudos sugerem que o leite pode atuar tanto na prevenção como na causa de certos tipos de câncer.

A IARC aponta uma provável ligação entre o consumo de laticínios e o aumento do risco de câncer de próstata. No entanto, as investigações sobre a associação desses produtos com outros tipos de câncer, incluindo o câncer de mama e de ovário, são fracas ou ausentes.

A preocupação do consumo de leites e derivados está relacionado especialmente a hormônios como o IGF-1  e o estrógeno. Além disso, existe preocupação com a caseína, uma proteína que está associada à coloração branca do leite.

No entanto, a quantidade de IGF-1 e de estrógeno no leite de vaca são muito menores do que aquilo que é naturalmente produzido pelo ser humano.

Soja

A soja contém um composto chamado Isoflavona, com estrutura semelhante ao do estradiol. Considerando que níveis elevados de estrogênio estão associados a um maior risco de câncer de mama, o consumo destes alimentos foi no passado contraindicado para pessoas em tratamento por câncer de mama ou que tenham um antecedente de câncer de mama.

Entretanto, diferentes estudos mostram que os produtos de soja não contêm níveis suficientemente elevados de estrogênio para aumentar as chances de desenvolvimento de câncer de mama, de forma que a soja não tem qualquer influência sobre os prognósticos de um câncer de mama.

Um estudo recente de metanálise mostra inclusive um efeito protetor da isoflavona presente na soja contra o câncer de mama (2).

Assim, não se justifica a retirada da soja da dieta considerando-se apenas o risco relacionado ao câncer de mama.

Enlatados

A maioria das embalagens de alimentos enlatados contém Bisfenol A (BPA), uma substância química que pode causar desequilíbrios hormonais, alterações no DNA e câncer.

Além disso, alguns enlatados contêm nitritos e nitratos, que se transformam em nitrosaminas no estômago, substâncias com ação carcinogênica.

Frituras

Fritar os alimentos pode desencadear a formação de substâncias cancerígenas que serão consumidas junto com os alimentos.

A concentração desses compostos tóxicos aumenta com a reutilização de óleo e o aumento do tempo de fritura.

De acordo com estudo publicado por Janet Stanford e colaboradores, homens que relataram comer batatas fritas, frango frito, peixe frito ou outros alimentos fritos pelo menos uma vez por semana tinham risco aumentado de ter câncer de próstata de 30% a 37% em comparação com os que disseram que comiam esses alimentos menos de uma vez por mês (1).