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Náuseas e Vômitos na Gestação e Hiperêmese Gravídica

Náuseas e vômitos na gestação

As náuseas e os vômitos são sintomas muito comuns no início da gravidez, especialmente no primeiro trimestre.

Eles atingem até 70% a 85% das gestantes. Geralmente entre a 5ª e a 6ª semana de gestação, com pico por volta da 9ª semana. Em mais de 90% dos casos, os sintomas desaparecem até a 20ª semana.

Embora geralmente sejam leves e autolimitados, em alguns casos podem ser intensos e comprometer a qualidade de vida da gestante, exigindo avaliação e tratamento adequado.

Hiperêmese gravídica

A hiperêmese gravídica é a forma grave e persistente de náuseas e vômitos durante a gestação. Ela vai além dos sintomas comuns do início da gravidez, levando a desidratação, desequilíbrios eletrolíticos, perda de peso significativa e, em casos severos, à necessidade de hospitalização. Ela ocorre em cerca de 0,3% a 2% das gestações.

Mostramos na tabela abaixo as principais diferenças entre as náuseas e vômitos fisiológicos da gestação e da hiperêmese gravídica.

 

Aspecto Náuseas e vômitos fisiológicos (NVP) Hiperêmese gravídica (HG)
Prevalência Muito comuns  (70% – 85 % das gestações) Raras  (0,3% – 2 % das gestações)
Início típico 5-6 sem de gestação 6-10 sem (pode ser mais precoce)
Pico / duração Pico na 9ª sem; melhora até 16-20 sem Pode persistir bem além de 20 sem
Frequência dos vômitos Esporádicos, controlados com certos ajustes na dieta Frequentes, incapacitantes, quase contínuos
Perda de peso Nenhuma ou ≤ 5 % do peso pré-gestacional > 5 % do peso pré-gestacional
Hidratação Ausência de desidratação Desidratação marcada (sede, hipotensão, taquicardia)
Achados laboratoriais Geralmente normais • Cetonúria• Hipocalemia, hiponatremia• ↑ enzimas hepáticas (às vezes)• Pode haver hipertiroidismo gestacional transitório
Impacto funcional Desconforto, mas gestante mantém atividades Incapacidade para atividades diárias; ausência ao trabalho
Abordagem inicial Medidas dietéticas, vitamina B6, doxilamina; antieméticos leves Internação frequente; hidratação IV, correção eletrolítica, antieméticos potentes; suporte nutricional
Necessidade de hospitalização Rara Comum aproximadamente 50 % dos casos)
Prognóstico materno-fetal Excelente; autolimitado Geralmente bom com tratamento rápido, mas com risco de déficits nutricionais, perda ponderal e estresse psicológico

 

Causas e fatores associados

A etiologia exata não é totalmente compreendida, mas acredita-se que envolva múltiplos fatores, incluindo:

  • Altos níveis de gonadotrofina coriônica humana (hCG): correlação com o início e a gravidade dos sintomas.
  • Aumento dos níveis de estrogênio e progesterona.
  • Alterações do trato gastrointestinal (redução da motilidade gástrica).
  • Fatores psicológicos e história pessoal ou familiar de náuseas/vômitos na gestação.

Complicações

As náuseas e vômitos fisiológicas da gestação, embora possam levar a desconforto considerável, geralmente tem pouco impacto na vida de gestante e evolui sem complicações, com resolução espontânea com aproximadamente 20 semanas de gestação.

Já a hiperêmese gravídica, quando não identificada e tratada adequadamente, pode levar a diversas complicações maternas e fetais, em decorrência da desnutrição, desidratação e distúrbios metabólicos prolongados.

Abaixo estão listadas as principais:

Complicações Maternas

  • Metabólicas e nutricionais: desidratação grave, distúrbios eletrolíticos (hipocalemia, hiponatremia, hipocloremia), cetonemia e cetonúria, hipoglicemia, deficiências vitamínicas, perda de peso significativa (> 5% do peso corporal).
  • Gastrointestinais: Esofagite e refluxo gastroesofágico.
  • Neurológicas: encefalopatia de Wernicke (por deficiência de tiamina). Ela pode deixar sequelas graves se não tratada.
  • Renais: Insuficiência renal aguda, por conta de extremos de desidratação.
  • Psicológicas: Ansiedade, depressão e sofrimento emocional.

Complicações Fetais

Quando há tratamento adequado, o risco de complicações fetais é baixo. No entanto, em casos graves e persistentes, pode haver:

  • Restrição do crescimento intrauterino (RCIU).
  • Baixo peso ao nascer.
  • Parto prematuro.
  • Desnutrição fetal.
  • Alterações do desenvolvimento neurológico (em casos graves e prolongados com deficiência de nutrientes).

Tratamento das náuseas e vômitos

Mulheres com náusea ou vômitos na gestação podem controlar os sintomas por meio de algumas medidas comportamentais, incluindo:

  • Fracionar a alimentação (refeições pequenas e frequentes).
  • Evitar jejum prolongado.
  • Consumo de alimentos secos e de fácil digestão (biscoitos, torradas).
  • Evitar cheiros e alimentos que desencadeiam os sintomas.
  • Boa hidratação.

Quando essas medidas não forem suficientes, poderá ser considerado o uso de medicação antiemética, incluindo:

  • Doxilamina + vitamina B6 (primeira escolha).
  • Metoclopramida, dimenidrinato e ondansetrona podem ser usados com critério.

Tratamento da Hiperêmese Gravídica

O tratamento da hiperêmese gravídica tem como objetivo principal controlar os vômitos, corrigir distúrbios metabólicos e prevenir complicações materno-fetais.

Ele deve ser individualizado de acordo com a gravidade do quadro, podendo ser feito em nível ambulatorial ou hospitalar.

As mesmas medidas gerais indicadas acima para o tratamento das náuseas e vômitos na gestação são válidos também nos casos mais graves, com hiperêmese gravídica.

Em relação ao tratamento farmacológico, diferentes opções podem ser consideradas, de acordo com a gravidade dos sintomas e outras queixas relacionadas.

Mostramos na tabela abaixo as principais opções de tratamento farmacológico.

Classe Medicamento Observações
Vitaminas Vitamina B6 (Piridoxina) Primeira escolha em casos leves; segura na gestação
Antihistamínicos Doxilamina Geralmente usada em associação com B6; segura
Dimenidrinato Pode causar sonolência
Antieméticos Metoclopramida Ação procinética; risco de efeitos extrapiramidais
Ondansetrona Eficaz; usar com cautela (possível risco de malformações em uso prolongado)
Prometazina Anti-histamínico com ação antiemética. Pode causar sedação.
Antipsicóticos Haloperidol Apenas em casos refratários; monitorar efeitos colaterais
Corticoides Metilprednisolona Usado após 10–12 semanas se refratária a outros tratamentos
Prednisona Igual ao metilprednisolona em eficácia; preferir após 1º trimestre
Tiamina (Vit. B1) Tiamina (Vitamina B1) Necessária em quadros graves com vômitos prolongados

O tratamento Hospitalar deve ser considerado nos casos mais graves, incluindo:

  • Perda de peso > 5% do peso corporal
  • Sinais de desidratação e/ou cetonúria
  • Distúrbios eletrolíticos
  • Incapacidade de ingestão oral

O tratamento hospitalar tem como objetivos principais a hidratação intravenosa, correção de distúrbios metabólicos e a melhora do suporte nutricional.