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Medo da Morte na Terceira Idade

Medo da morte na terceira idade

O medo da morte na terceira idade é a realidade de muitos idosos que, à medida que o tempo passa, deparam-se com a deterioração física e até mesmo mental, vivida nesta fase da vida.

Além disso, os diagnósticos de doenças crônicas podem ocasionar um aumento na angústia e na aflição frente à possibilidade de perder a vida.

Por isso, reunimos diversas informações que podem contribuir para uma visão mais positiva da morte e do fim da vida, visando oferecer dados que possam elevar a qualidade de vida do idoso. Acompanhe.

Como lidar com o medo da morte na terceira idade?

Um ponto que devemos refletir, antes de qualquer coisa, é que o medo da morte na terceira idade é uma realidade de todas as pessoas que se vêem mais frágeis nesta fase da vida. Isso quer dizer que não existe um ato milagroso que faça essa angústia desaparecer, pois faz parte da natureza humana temer a perda da vida, mesmo que de uma forma mais branda e serena.

Dito de outro modo, ter medo da morte é algo extremamente comum, inclusive em diferentes fases de nossas vidas. Quando estamos diante de um diagnóstico ou de um declínio, como a mobilidade reduzida ou os sinais do envelhecimento, o medo da morte tende a surgir, afinal, sabemos que a vida é finita.

Desse modo, podemos encarar a situação por novas vias, não no intuito de extinguir completamente o que a morte causa dentro de nós, mas com o intuito de produzir ambientes e vivências que aumentem o bem-estar e a qualidade de vida.

Isso porque o excesso de medo da morte pode ocasionar o aparecimento de comportamentos hipocondríacos, por exemplo, que podem prejudicar o bem-estar e a vida funcional do sujeito.

Por isso, tenha em mente que as considerações abaixo são orientações para aumentar a qualidade de vida, mas que não necessariamente servirão de método “infalível” para perder o medo da morte.
Dito isso, vamos adiante com as nossas considerações:

1. Desmistificação da morte

Ressignificar e desmistificar o conceito de morte é algo que pode ser bastante valioso na terceira idade. Isso porque, muitas vezes, a morte pode estar associada com algo terrível, e até mesmo pode ser vista como uma punição para aqueles que não foram bons em vida. Porém, a verdade é que a morte é o destino de todos os seres vivos, uma vez que não existe vida eterna aqui na terra.

Contudo, a morte não precisa ser vista apenas como algo horrível e que necessariamente será doloroso. Isto é, nem toda morte é dolorosa e sofrida, pois tudo depende de como ela ocorre e quais as condições da saúde do sujeito.

Dessa maneira, buscar compreender a morte como um ciclo de vida que se encerra é algo que pode minimizar o medo e a angústia de passar por ela. Além disso, quebrar tabus que relacionam a morte como a coisa “mais horrível do mundo” também é um caminho que pode minimizar o peso que ela tende a ter no psicológico das pessoas.

Obviamente, não estamos dizendo que esse processo de ressignificação é simples e rápido. Reconhecer a existência da morte e vê-la como algo natural não é simples, mas com a ajuda da psicoterapia, por exemplo, é viável encontrar novas maneiras de entender a morte e a perda da vida.

2. Espiritualidade

Se o idoso possui uma religião na qual ele acredita, a espiritualidade pode servir de base para mudar as suas perspectivas quanto à morte.

Não estamos aqui para dizer que existe uma forma certa ou errada de encarar a morte e a espiritualidade, contudo, a religião pode oferecer um amparo emocional que instiga visões diferentes sobre o fim da vida na terra.

Estudar o que a sua religião retrata sobre a morte pode aumentar a sensação de conforto e até mesmo de preparo para o fim da vida.

Em caso de idosos ateus, a compreensão da vida por outra via, como algo que finda a existência de um ser, mas inicia a existência de outros seres – uma vez que, nosso corpo, que é orgânico, dará continuidade a outras vidas depois do nosso falecimento – também pode ser um caminho.

Cabe ao indivíduo pensar sobre a sua forma de enxergar a vida e a morte pela via espiritual, respeitando as suas crenças e visões de mundo, e enxergando esse momento como parte de um ciclo.

3. Foco no presente e no aqui e agora

Trazer a atenção para o presente também é algo que pode ajudar em casos de medo da morte na terceira idade. Às vezes, o foco dos pensamentos está na morte, o que minimiza as interações com o meio no qual o sujeito está inserido.

Por isso, pensar em viver um dia de cada vez, aproveitando os instantes que são compartilhados com os outros e com a própria companhia, é uma ação que pode, em muitos casos, diminuir os pensamentos repetitivos sobre a morte.

Podemos mentalizar que, neste exato momento, o nosso corpo e a nossa mente estão vivos, então, podemos usá-los para viver experiências, demonstrar afeto para as pessoas que são importantes para nós, aprender coisas novas, vivenciar prazeres da vida, etc.

Quando trazemos a atenção para o que ocorre neste exato momento, podemos minimizar a sensação de insegurança que a morte pode gerar muitas vezes.

Sendo assim, quando os pensamentos sobre a morte estiverem ocasionando angústia e temor, tente focar no que está acontecendo agora: como está a iluminação do ambiente? Quais os cheiros presentes no ambiente? Quais cores você enxerga? E sobre as sensações na sua pele, com relação à roupa que você veste, quais são elas? O que você pode fazer neste momento para se divertir? Pense em questionamentos nesse sentido e traga a sua atenção para o aqui e agora.

4. Vivência dos lutos da terceira idade

Vivenciar os processos de luto na terceira idade também é importante. Isso porque, em algumas situações, a falta das vivências de luto pode resultar em problemas emocionais relacionados à visão da morte. E isso vale tanto para situações nas quais o sujeito perde um ente querido, como em situações nas quais ele lida com perdas pessoais em sua vida.

Por exemplo, quando um idoso se dá conta de que não consegue mais caminhar sozinho, isso é a vivência de um luto.

Ele precisa atravessar as etapas de um luto, pois perdeu a sua mobilidade que fazia parte da sua vida até então. Quando esse luto não é respeitado e não há a vivência da aceitação da nova realidade, é possível que o indivíduo encare a situação de uma forma ainda mais negativa, enxergando a perda da mobilidade como um requisito para o fim da vida, por exemplo.

Já com relação à perda dos entes queridos, o desabafo e a elaboração do luto podem quebrar com aquela carga intensa que a morte pode ter. Afinal, quando apenas “engolimos” as angústias relacionadas à morte de uma pessoa querida, podemos ter dificuldades para enxergar a finitude em nossa própria existência.

5. Cuidados com a saúde que aumentam a qualidade de vida

Focar nos cuidados com a saúde física e mental, que podem elevar a qualidade de vida e aumentar a sensação de prazer, também são bons caminhos. Isso porque quando temos uma vida plena, baseada em boas sensações e momentos felizes, tendencialmente teremos menos pensamentos focado na morte e na finitude da vida.

Claro que isso não quer dizer que o indivíduo deva ignorar a existência da morte, mas ter uma vida mais plena e feliz pode nos preparar para o encerramento de um ciclo, reduzindo a sensação de culpa e de arrependimento que podem estar associados à morte.

Por isso, praticar atividades físicas, alimentar-se bem, cuidar do sono, praticar hobbies e atividades que aumentam a sensação de felicidade, como encontros com amigos e familiares, tendem a ser práticas que oferecem uma nova visão sobre a vida e, consequentemente, sobre a própria morte.

6. Psicoterapia

A psicoterapia também é uma grande aliada na hora de lidar com o medo da morte na terceira idade. Por meio das sessões com o terapeuta, você poderá discutir o que está por trás do medo da morte, como ele costuma aparecer, quando aparece, com qual intensidade, entre outros questionamentos que podem ajudar a lidar melhor com o que se sente.

Além disso, é possível quebrar tabus associados à própria existência, à própria trajetória nessa vida e ao próprio “destino”, podemos assim dizer. Ou seja, você pode quebrar tabus associados ao que você visa para o seu futuro, além de ter um olhar um pouco mais atento para o que acontece no seu presente e o que te moldou, desde o passado, até aqui.

As emoções também são ouvidas nas sessões com o terapeuta, o que dá margem para que você as detecte e as entenda com mais facilidade, no dia a dia, minimizando aqueles momentos em que a sensação de medo tende a aparecer e a provocar efeitos intensos que atrapalham a rotina.

Vale ressaltar que a psicoterapia não é formada apenas por momentos bons e felizes, pois há situações que causam desconforto, mas que fazem parte do processo de descobertas e de construção de novas perspectivas para a vida e para a morte. Experimente.

7. Entender a vida como um ciclo

Compreender que a vida é um ciclo, com começo, meio e fim, é um caminho para lidar com o medo da morte na terceira idade. É o famoso ato de “aceitar” para “doer menos”. Claro que isso não é fácil… Compreender que temos um fim inevitável é algo que tende a ser assustador.

Ao mesmo tempo, quando reconhecemos que a vida é finita e aprendemos a vê-la dessa forma, podemos começar a aproveitar as nossas vivências sob uma nova perspectiva.

O processo tende a mudar, pois passamos a enxergar cada pequena vitória como um passo que damos em nossa existência. Existência essa que, querendo ou não, é finita.

Faz parte da natureza humana e de todos os seres vivos nascer, crescer e morrer. Quanto antes internalizarmos essa realidade, pode ser que se torne mais fácil compreender que a finitude existe, diminuindo aqueles comportamentos que tentam fazer com que a morte nunca seja comentada ou pensada.

8. Falar sobre a morte

E por falar em comentar ou pensar sobre a morte, muitas vezes o medo está associado com a visão de total desconhecido que o fim da vida pode parecer.

Sendo assim, falar sobre o que se sente e sobre o que se pensa da morte é um caminho para quebrar tabus internos, externalizar angústias, rever pontos de vista e, até mesmo, minimizar o mal-estar que os pensamentos sobre morte podem gerar.

Querendo ou não, vivemos em uma sociedade na qual o assunto “morte” parece, até certo modo, “interditado”. Ou seja, comumente as pessoas fogem do tema morte, vendo-o como algo horrível e indigno de ser comentado.

Porém, a morte existe e ela é real. Por isso, falar sobre os sentimentos envolvidos com os conceitos de perda da vida é uma ação que pode minimizar o medo da morte na terceira idade.

Falar sobre sentimentos, pontos de vista, ouvir o que o outro tem a dizer e pensar na morte de uma forma mais prática, sem velá-la como se fosse algo que jamais deve ser comentado em público, são ações que podem ajudar a quebrar tabus.

9. Fortalecimento das relações sociais

O fortalecimento das relações sociais, como o relacionamento com a família na terceira idade, é uma ação que também pode minimizar o medo da morte.

As interações sociais aumentam a qualidade de vida, oferecem suporte emocional, “distraem” as pessoas em momentos de lazer e diversão, entre outros benefícios interessantes.

Além disso, estudos apontam que as interações sociais bem-sucedidas podem reduzir as chances de um idoso desenvolver um quadro de depressão, por exemplo.

Tendo em vista que os transtornos do humor podem tornar os pensamentos sobre a morte mais recorrentes, as interações sociais podem servir de alicerce na hora de minimizar essa realidade e oferecer mais bem-estar para o sujeito viver, plenamente, a sua vida.

10. Entender que o medo faz parte

Outro ponto que também é interessante e pode ser considerado é o simples fato de que o medo faz parte da existência humana. Embora tenhamos comentado isso anteriormente, é interessante destacarmos esse fator mais uma vez.

Isso porque algumas pessoas passam horas e dias tentando extinguir completamente o medo da morte, evitando pensar ou falar sobre ela. Porém, o medo faz parte da sobrevivência, pois ele nos ajuda a manter a nossa saúde e integridade.

Sendo assim, aceitar que em determinadas situações nós sentiremos medo é algo que pode minimizar a angústia de querer apartá-lo, a todo custo, de dentro de nós.

O medo da morte e a insatisfação com a vida que foi e está sendo vivida

Muitas vezes, o medo da morte na terceira idade também pode estar associado com o fato de que a vida vivida, ou que está sendo vivenciada, não é exatamente aquilo que a pessoa gostaria. Isto é, a insatisfação com as experiências aproveitadas, com os conhecimentos adquiridos e com os momentos vividos até então pode ser uma mola propulsora que gera medo da morte.

É como se a pessoa sentisse que não fez o bastante em vida e que poderia ter vivenciado situações diferentes, mais felizes e divertidas, o que gera arrependimento, culpa e medo de morrer sem ter feito o que desejava.

Neste caso, é interessante refletir que enquanto existe vida, existem possibilidades de se viver sonhos e desejos. Claro que, em algumas situações, haverá limitações físicas e até mesmo mentais, mas não precisamos abrir mão de tudo apenas por achar que chegamos ao fim.

Podemos adaptar nossos sonhos e objetivos para a nova realidade, vivendo situações incríveis, mesmo que não do modo como imaginávamos viver outro dia.

O ideal é mentalizar que a vida ainda existe, buscando a satisfação nas mais diversas esferas da existência, como na vida amorosa, familiar, social, sexual, enfim! Sempre respeitando os limites, mas nunca se limitando a ponto de dizer que não há mais tempo.

Enquanto há vida, há tempo.

Medo de repetir situações negativas que foram vivenciadas

Outro ponto que pode estar associado com o medo da morte na terceira idade é o fato de o indivíduo ter presenciado a morte de outras pessoas, e essas mortes terem sido agressivas, assustadoras, dolorosas, etc.

Essas situações podem causar o medo da repetição, ou seja, o sujeito pode ter medo de viver exatamente o que o outro viveu, sentindo-se angustiado sobre o que aconteceu com outra pessoa que ele conhecia.

Esse tipo de situação pode ficar ainda mais evidente nos casos de doenças crônicas e graves, como o câncer. A pessoa pode comparar a sua situação com a de outros indivíduos, ocasionando uma angústia intensa.

Nesses casos, o ideal é buscar saber mais sobre o próprio prognóstico, evitando comparações com outras pessoas que vivenciaram diagnósticos semelhantes. Quanto mais o indivíduo sabe sobre a sua saúde e as suas condições, mais confiança ele poderá sentir com relação ao que pode ou não pode acontecer com ele.

O conhecimento pode ajudar a lidar com sintomas, crises, medos e angústias referentes ao famoso “desconhecido” que uma doença pode carregar.

Portanto, conversar com os profissionais da saúde pode ser um caminho muito interessante nesse sentido. Considere essa possibilidade e muna-se com conhecimentos que possam ajudar a lidar com o medo da morte na terceira idade.

Referências

Morte e desenvolvimento humano / Maria Júlia Kovács coordenadora. – São Paulo: Casa do Psicólogo, 1992. Bibliografia. ISBN 85-85141-21-2.

RIBEIRO, D. F. C. Das representações ao medo da morte na terceira idade. ANAIS da 8ª JEPEHA – Jornada de Estudos e Pesquisas sobre Envelhecimento Humano na Amazônia. Universidade Federal do Pará – UFPA. Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Envelhecimento Humano na Amazônia – SENECTUS. Programa de extensão Universidade da Terceira Idade – UNITERCI. De 24 a 27 de novembro de 2009. Belém – Pará – Brasil.