Medicina no futebol
Aspectos médicos no futebol
Os resultados no futebol dependem basicamente de quatro variáveis:
- Aspectos técnicos / qualidade técnica dos jogadores;
- Aspectos táticos;
- Aspectos físicos
- Saúde mental.
A atuação do departamento médico no futebol profissional atua especificamente sobre os dois últimos fatores acima, físico e mental. Desta forma, podemos dizer que podem ser determinantes para o desempenho do atleta e da equipe.
O mesmo é válido no caso de atletas amadores que, ainda que não tenham profissionais de apoio na beira de campo, podem se beneficiar de um acompanhamento regular por meio de clínicas médicas.
O futebol tem características que levam a um risco elevado tanto para lesões traumáticas como para lesões por esforços repetitivos, sendo que um único jogo perdido por um atleta pode representar prejuízos na casa dos milhões.
O número excessivo de partidas faz também com que a recuperação pós treino ou jogo seja um elemento determinante. Por fim, podemos dizer também que o futebol de alto rendimento deixa os atletas bastante vulneráveis para problemas de saúde mental. Tudo isso justifica os altos investimentos nos departamentos médicos dos clubes de maior renome.
Discutimos nesse artigo sobre como o médico do esporte pode ajudar os atletas de futebol, nos diversos níveis de desempenho.
Discutimos também sobre os cuidados específicos em relação ao futebol de base (infância) e também ao futebol feminino.
Lesões musculares
As lesões musculares representam aproximadamente 45% das lesões no futebol. Elas levam à perda de ao menos um treino ou jogo ao ano para cerca de 40% dos jogadores.
Os quatro principais grupos musculares dos membros inferiores podem ser acometidos nos jogadores de futebol:
- Quadríceps (musculatura anterior da coxa);
- Isquiotibiais (posteriores da coxa);
- Adutores (músculos da virilha);
Essas lesões acometem jogadores de todos os níveis e em qualquer idade, embora sejam pouco comuns antes da maturidade esquelética.
Uma vez que a lesão aconteça, o tratamento é feito sem cirurgia na maior parte dos pacientes. Mesmo em lesões completas com GAP (com a formação de um “buraco”na musculatura) apresentam bom resultado com o tratamento sem cirurgia. No entanto, o tempo de afastamento dos gramados pode ser prolongado, de até 3 meses.
A recorrência é o maior problema relacionado às lesões musculares no médio ou no longo prazo. Para minizar esse risco, o trabalho com a fisioterapia desde o momento inicial da lesão e fundamental, especialmente nas lesões mais extensas.
Fatores como fadiga, carga excessiva de treino, preparação física inadequada, aquecimento pré-jogo inadequado e desequilíbrios de força entre grupos musculares opostos estão associados a maior risco de lesão.
Além disso, pessoas com histórico de lesão muscular apresentam risco aumentado para outras lesões.
As lesões musculares são mais comuns no início do treino ou jogo, quando a musculatura ainda está fria, ou no final da atividade, devido a fadiga.
O risco de lesão muscular pode ser minimizado por um trabalho preventivo com foco em reequilíbrio de força.
Uma vez que a lesão aconteça, o tratamento é feito sem cirurgia na maior parte dos pacientes. Mesmo em lesões completas com GAP (com a formação de um “buraco” na musculatura) apresentam bom resultado com o tratamento sem cirurgia. No entanto, o tempo de afastamento dos gramados pode ser prolongado, de até 3 meses.
A recorrência é o maior problema relacionado às lesões musculares no médio ou no longo prazo. Para minizar esse risco, o trabalho com a fisioterapia desde o momento inicial da lesão e fundamental, especialmente nas lesões mais extensas.
Lesões no quadril
A lesão mais característica do quadril no futebol é a pubalgia. Distensão muscular, impacto femoroacetabular e lesões do labrum acetabular são outras condições vistas com alguma frequência em jogadores de futebol
Pubalgia
A Pubalgia se caracteriza pela presença de dor na região baixa do abdômen, púbis ou virilha. Aproximadamente 5% das dores crônicas no esporte em geral e 20% das dores no futebol são diagnosticadas como Pubalgia (1, 2).
A Pubalgia não é um problema único, mas sim um conjunto de diferentes problemas que podem acontecer em estruturas próximas umas das outras, com mecanismo de lesões parecidos e que podem eventualmente coexistir no mesmo atleta (2).
Assim, a avaliação médica e a identificação precisa de quais estruturas envolvidas na dor são fundamentais para a escolha do melhor tratamento.
A dor tem uma origem aguda em aproximadamente 30% dos pacientes e uma origem prolongada em 70% dos casos. Fraquezas e desequilíbrios musculares costumam estar envolvidos com a origem da Pubalgia.
Além da dor, que geralmente tem caráter progressivo, a incapacidade para a prática esportiva é uma característica marcante da doença. A dor tende a piorar com a atividade física e melhorar com o repouso. O chute, no caso do futebol, também faz a dor piorar.
Lesões no Joelho
Entorses do joelho
As entorses do joelho são comuns no futebol, devido às frequentes mudanças de direção e ao contato físico quase que constante com atletas adversários. Podem levar a lesões ligamentares e também a lesões nos meniscos.
Ligamento Cruzado Anterior
A lesão do Ligamento Cruzado Anterior é a causa mais comum de indicação de cirurgia em atletas de futebol.
Ela acontece geralmente quando o atleta prende o pé no gramado e gira o corpo sobre o joelho.
Fatores como o tipo de grama ou as características das travas das chuteiras podem levar a uma maior aderência entre o pé e a grama, favorecendo a ocorrência destas lesões.
Além disso, fraquezas e desequilíbrios musculares específicos podem levar a uma perda no controle no movimento do joelho, sendo também um fator de risco para estas lesões.
Discutimos a prevenção da lesão do Ligamento Cruzado Anterior em um artigo a parte.
O tratamento via de regra envolve cirurgia e precisa de 7 a 9 meses para um retorno completo para o futebol.
Ligamento Colateral Medial
A lesão do Ligamento Colateral Medial é a lesão ligamentar mais comum no futebol, mais comum inclusive do que as lesões do Ligamento Cruzado Anterior.
Na maior parte das vezes, no entanto, se recupera completamente com o tratamento não cirúrgico. No caso de lesões completas, o tempo de recuperação pode ser prolongado, de até três meses.
Lesões completas do Ligamento Colateral Medial, principalmente quando associadas a outras lesões, podem ter indicação cirúrgica.
Lesão nos meniscos
A lesão no menisco em jogadores mais jovens geralmente acontece em combinação com outras lesões, especialmente no Ligamento Cruzado Anterior.
A partir de 35 a 40 anos, lesões isoladas dos meniscos passam a ocorrer com maior frequência.
Lesões no menisco podem apresentar características muito diferentes umas das outras. Algumas podem precisar de cirurgia até de urgência, por bloquear o movimento do joelho. Em outros casos, a pessoa pode continuar jogando futebol quase que sem queixa.
A cirurgia, quando necessária, pode ser feita pela retidada do fragmento de menisco lesionado (meniscectomia) ou por meio do reparo (sutura) do menisco.
Quando possível pelas características da lesão, a sutura deve ser priorizada.
Lesões no tornozelo
Entorses do tornozelo
A entorse do tornozelo representa cerca de 35% de todas as lesões no futebol, perdendo em frequência apenas para as lesões musculares.
Aproximadamente 50% dos casos ocorre após o contato com outro atleta. Os outros 50% acontece após movimentos com mudanças de direção, sem contato físico com outros jogadores.
A maior parte dos casos são relativamente simples e se resolvem em até 01 semana. No entanto, alguns atletas podem levar mais de três meses de afastamento dos campos, a depender da lesão.
O tratamento cirúrgico é uma opção cada vez menos comum em uma lesão primária, mesmo com a lesão completa dos ligamentos. No entanto, deve ser considerada especialmente na presença de lesão associada da cartilagem articular ou no caso de instabilidade crônica do tornozelo, com entorses de repetição.
Outro cuidado que precisa ter é com as lesões da sindesmose do tornozelo. Embora representem apenas 5% das entorses do tornozelo, essas lesões apresentam maior gravidade, exigem maior tempo de afastamento e podem ter indicação para cirurgias.
Concussão cerebral
Concussões cerebrais são perturbações temporárias do funcionamento cerebral, que ocorrem em decorrência de traumas na cabeça. Podem levar a uma lentificação no pensamento, déficit de atenção, irritabilidade e até mesmo a uma maior agressividade.
Alguns dos sinais indicativos de concussão incluem:
- Breve perda de consciência;
- Dor de cabeça persistente;
- Tontura ou vertigem;
- Náuseas ou vômitos;
- Confusão ou dificuldade de concentração
- Sensibilidade à luz ou ao som
- Dificuldade com coordenação motora
- Alterações de memória
Uma das principais preocupações com a concussão cerebral está relacionado à eventualidade de um segundo trauma na cabeça (algo que não é improvável no futebol), podendo levar a uma lesão de maior gravidade e com sequelas permanentes.
Assim sendo, o jogador deve ser retirado de campo imediatamente em caso de suspeita de concussão e não deve retornar até que esteja completamente recuperado.
Dor muscular tardia pós treino
A dor muscular tardia pós-treino é um problema comum no futebol. Em alguns casos, pode ser difícil de se diferenciar de uma lesão muscular. Geralmente ela se inicia dentro de 6 a 8 horas após a atividade física e atinge sua intensidade máxima entre 24 a 48 horas após o exercício. A inflamação no músculo é um dos principais gatilhos para a dor.
Algum grau de desconforto é esperado e até desejado. Isso porque a destruição muscular seguido de inflamação e regeneração muscular é o que irá levar às adaptações físicas que se buscam no esporte.
Por outro lado, a dor e o excesso de inflamação são sinais de sobrecarga, de que o treino passou dos limites desejados. Esse excesso de inflamação levará a uma maior formação de radicais livres e maior destruição muscular, gerando efeitos adaptativos negativos para o atleta.
A melhor forma de se evitar a dor é através do controle da carga de treino e, também, pelas medidas de recuperação pós-treino.
Além disso, ter uma preparação física adequada permite ao atleta uma maior tolerância com a intensidade que se exige do atleta no futebol moderno.
Treinamento de força
O futebol é um esporte que envolve movimentos repetitivos de explosão. Ao mesmo tempo, é um esporte de contato frequente entre os atletas. Por conta disso, a força e a potência muscular são fundamentais tanto para o desempenho esportivo como para a prevenção de lesões.
Como regra geral, o atleta não deve ter nem um corpo muito franzino, em que fica muito vulnerável aos choques, nem muito musculoso, já que isso pode limitar a agilidade e a velocidade.
Diferentemente de outros esportes, como a corrida de rua, o basquete ou a ginástica, o futebol é um esporte bastante democrático, já que permite que pessoas com características físicas bastante diversas possam desempenhar no mais alto nível.
A posição do atleta em campo pode influenciar nas necessidades individuais de cada atleta. Enquanto um zagueiro se beneficia de um corpo mais musculoso, o meio campista ou o atacante se beneficia de um corpo mais leve.
Todas essas valências podem ser adaptadas de acordo com as necessidades individuais de cada atleta.
No caso de atletas amadores, a falta de um treinamento de força pode ser menos preocupante do ponto de vista de desempenho. No entanto, terá um papel fundamental no desencadeamento de lesões.
Recuperação pós treino ou jogo
A recuperação pós treino ou jogo é um aspecto fundamental especialmente no futebol profissional, devido à grande exigência física do esporte combinado com o número excessivo de partidas característicos do futebol brasileiro.
Existem diversas modalidades de recuperação amplamente disseminadas no meio do futebol, algumas com maior e outras com menor comprovação de eficácia.
Do ponto de vista fisiológico, as maiores evidências estão relacionadas a 4 métodos:
- Alimentação;
- Hidratação;
- Sono;
- Treinos regenerativos.
A banheira de gelo não é um método de recuperação para ser usado no dia a dia. No entanto, ela pode ser considerada para minimizar os danos secundários após jogos com esforço fora do normal ou após uma sequência de treinos e jogos mais extenuantes.
Fisioterapia, massagem esportiva, botas compressivas e diversos outros métodos mostram-se eficazes para melhorar contraturas musculares ou para melhorar o bem estar do atleta. No entanto, não levam a melhoras relevantes do ponto de vista fisiológico.
Discutimos sobre esses e outros métodos em um artigo específico sobre a recuperação pós treino.
Saúde mental no futebol
A maior parte das pessoas que não vivem o dia a dia do futebol enxergam apenas o glamour e o sucesso finaiceiro que rodeia os jogadores de futebol. Isso é ainda mais estimulado pela exposição que muitos deles fazem em mídias sociais, onde o que prevalece é a imagem de “felicidade plena”.
A realidade do futebol de alto rendimento é muito diferente disso. A pressão por resultados, as críticas da imprenssa que aparecem a cada vez que se atua minimamente abaixo das expectativas, o afastamento da família, a rotina excessiva das concentrações são alguns dos fatores que contribuem com uma prevalência de transtornos depressivos e transtornos de ansiedade superior ao do resto da população.
A falta de privacidade é outro fator, já que são reconhecidos onde quer que vão. Em alguns casos, com recepções nada amigáveis.
A própria família, em alguns casos, leva mais preocupações e cobranças do que apoio.
Até mesmo a mudança no status social e financeiro pode contribuir negativamente para a saúde mental, com a sensação de falta de pertencimento e a perda de referências.
Futebol feminino
Tudo o que foi discutido até aqui é válido tanto para o futebol masculino como para o feminino. No entanto, ao se avaliar uma jogadora, devemos levar em consideração alguns outros aspectos próprios da mulher.
O risco de lesões é diferente, tanto em decorrência das características intrínsecas do corpo feminino como das diferenças nas características do jogo e da estrutura oferecida para as mulheres em comparação aos homens.
Problemas como incontinência urinária e especialmente considerações relacionadas ao ciclo menstrual da atleta podem impactar no desempenho atlético da mulher. Por outro lado, as mulheres não têm como adequar seu calendário de acordo com o seu ciclo menstrual.
A relação que cada mulher tem com seus períodos é algo muito individual, sendo que diferentes abordagens podem ser consideradas a depender das necessidades específicas de cada atleta. Discutimos mais sobre isso em uma série de artigos na nossa sessão sobre a Ginecologia do Esporte.
Futebol na infância e na adolescência
O futebol é um dos esportes mais praticados durante a infância e a adolescência no mundo e especialmente no Brasil.
Quando feito de forma recreativa, é uma excelente atividade para o desenvolvimento físico, mental e social.
Uma parcela considerável dessas crianças, no entanto, atua no futebol com objetivos voltados para o desempenho esportivo, dos quais uma parcela menor atua com foco no alto rendimento. Nestes casos, há um risco crescente de lesões por sobrecarga articular.
Rotina de treinos
Um dos principais erros no treinamento do jovem talento esportivo é a tentativa de transpor para essas crianças ou adolescentes aquilo que se faz com o futebol adulto e especialmente ao futebol profissional.
Ainda que o objetivo final possa ser a profissionalização e o altíssimo rendimento, é preciso entender que a criança ainda não está pronta. Enquanto as equipes profissionais concentram a maior parte do esforço nas partes físicas e táticas, crianças e adolescentes precisam de mais tempo no desenvolvimento técnico.
A tática e o físico são introduzidos de forma gradativa de acordo com a faixa etária. Aqui mais uma vez os treinos também precisam ser adaptados para as necessidades específicas da idade.
Outra diferença é que o foco no início é mais em treino e menos em competição. Com o avanço da idade, o foco de ir mudando de forma gradativa mais para a competição e menos no treino.
O foco excessivo na competição, sem uma base sólida para isso, pode levar a um sucesso momentâneo que não será mantido no longo prazo. O fenômeno do “bom jovem, mau velho” tem como uma de suas causas principais justamente o foco excessivo na competição e no resultado em uma idade ainda precoce.
Estudiosos do Canadá desenvolveram um programa bem estruturado que visa guiar o treinamento esportivo durante a infância, denominado de “long Term Athletic Development” (desenvolvimento atlético no longo prazo), ou LTAD. Este programa é dividido em seis etapas:
- Iniciação ativa (0 a 6 anos)
- Fundamentos (6 a 8 anos)
- Aprender a treinar (9 a 12 anos)
- Treinamento (12 a 16 anos)
- Treinar para competir (15 aos 21 anos)
- Competir para vencer (a partir dos 18 anos)
Discutimos mais a respeito em um artigo sobre o Treinamento do Jovem Talento Esportivo.
Risco de lesões
O esqueleto ainda imaturo é mais frágil do que o osso adulto, o que aumenta o risco de lesões.
Algumas lesões acontecem especialmente durante a infância ou a puberdade, como as fraturas por avulsão e a osteocondrite de Osgood-Schlatter, uma condição muito comum no futebol infantil, caracterizada por dor na parte da frente do joelho, sobre a Tuberosidade da Tíbia.
Outra preocupação é com o risco de concussão, termo que se refere a uma perturbação temporária no funcionamento do cérebro, como resultado de um movimento repentino e anormal do mesmo.
No futebol, pode acontecer pelo trauma da cabeça contra um adversário ou mesmo contra a bola.
As crianças habitualmente apresentam técnica esportiva menos acurada, favorecendo a ocorrência desses traumas. Além disso, possuem musculatura cervical proporcionalmente mais fraca, implicando em um maior risco de concussão cerebral.
A concussão em crianças é preocupante devido ao risco de complicações neurológicas futuras e devido à maior vulnerabilidade das crianças a estas lesões.
O rápido desenvolvimento físico especialmente durante a puberdade faz com que os desequilíbrios físicos e funcionais sejam bastante comuns nessa fase da vida. O corpo cresce em tamanho, muda a composição corporal, desenvolve-se do ponto de vista neurológico e está sob ação de novos hormônios.
No futebol, o chute fica mais forte, os contatos físicos mais intensos, a velocidade aumenta.
Por outro lado, é comum que passe a cometer erros técnicos que não eram comuns até um ano antes. Isso acontece porque ele precisa “reaprender” a usar seu corpo. É como dar uma Ferrari nas mãos de um recém habilitado. O risco de acidentes e lesões é maior.
Aspectos nutricionais
aspectos nutricionais também precisam ser considerados com cuidado, especialmente quando o futebol é praticado ao ar livre em condições climáticas inapropriadas.
Comparado com adultos, a criança desidrata mais rapidamente e tem menor tolerância à desidratação, de forma que alguns cuidados específicos precisam ser adotados:
- Deve-se evitar o futebol nos dias de calor excessivo, especialmente nos horários mais quentes do dia;
- O tempo de jogo deve ser menor do que o de adultos (menor quanto mais jovem a criança);
- As crianças devem ser estimuladas a pararem frequentemente para se reidratar.
- Cuidados com as vestimentas ou mesmo o uso de bonés, além da proteção solar, devem ser enfatizados
Do ponto de vista nutricional, a puberdade é um período em que o corpo sofre grandes transformações, com o menino se transformando em um homem e a menina em uma mulher. Esse rápido desenvolvimento tem uma demanda energética elevada, que compete com uma demanda igualmente alta de energia por conta da prática esportiva. As deficiências nutricionais são mais comuns do que nos adultos, além de terem consequências ainda mais sérias em quem ainda está em uma fase de desenvolvimento físico.
Saúde mental
O futebol profissional é um sonho para muitas crianças e também para seus pais. Com isso, muitos acabam sofrendo uma pressão excessiva no sentido que caso não se dediquem 100% ao futebol, elas ficarão para trás.
O treinamento infantil não pode ser um treino resumido daquilo que se faz com adultos. A criança precisa de estímulos variados, inclusive com outras modalidades esportivas, para que possa desenvolver uma gama mais ampla de habilidades.
Quando o foco é voltado 100% ao futebol, o risco de lesões aumenta e o risco de burnout aumenta.
Burnout é um termo em língua inglesa que pode ser traduzido como “a chama que se apaga”. Se refere ao esgotamento físico e mental por conta desse foco excessivo.
Condições como transtornos de ansiedade e transtornos depressivos no atleta também podem se desenvolver ou ser potencializados devido à pressão excessiva e eventualmente à sensação de fracasso, pelo medo de não corresponder às expectativas de terceiros.
O excesso de dedicação paterna, em alguns casos, pode afastar algumas crianças do sucesso, ao invés de aproximá-las.
Prevenção de lesões no futebol
A prevenção de lesões no futebol pode envolver uma série de medidas, incluindo:
- Treinamento de força
- Correção das fraquezas e desequilíbrios musculares;
- Adequação do equipamento esportivo (chuteira e caneleira);
- Local de treinamento
- Adequação da carga de treino;
- Monitoramento do retorno esportivo;
- Reconhecimento precoce de lesões.
Correção de fraquezas e desequilíbrios musculares
Muitos programas de prevenção de lesão no futebol são facilmente encontrados por meio de uma rápida pesquisa na internet. O mais conhecido deles é o FIFA 11+, desenvolvido pelo Departamento Médico da FIFA (F-MARC).
O FIFA 11+ é um programa que inclui 11 exercícios que podem ser usados em substituição ao aquecimento que os jogadores fazem antes do início de um treino ou jogo. Ele tem também uma versão adaptada para crianças de 7 a 13 anos, denominada de “FIFA 11+ Kids”.
O programa é de fácil compreensão, tendo sido desenhado com o objetivo de ser auto aplicável. Isso significa que não é necessário um profissional especializado na beira do campo para dar as instruções. Considerando que a maior parte dos atletas amadores não têm um fisioterapeuta na beira do campo, esse é um enorme benefício, que o torna muito mais acessível.
Outro benefício do FIFA 11+ é que ele já foi muito aplicado e estudado, de forma que existem diversos estudos científicos que comprovam sua eficácia. Alguns estudos demonstram que o FIFA 11+ pode levar a uma redução de até 50% de lesões graves como a do Ligamento Cruzado Anterior ou as lesões musculares.
Ainda assim, o programa tem suas limitações. Ele considera os desequilíbrios e as necessidades mais comuns considerando um grande número de jogadores avaliados, o que não significa que ele corresponda às necessidades individuais de cada atleta. Por esse motivo, os exercícios preventivos nos grandes clubes são planejados de forma individualizada a partir do resultado de t4estes específicos, como o FMS ou os testes de força. Avaliações semelhantes podem ser feitas por atletas amadores em clínicas especializadas.
Por fim, é preciso considerar que diversas outras abordagens além dos exercícios preventivos podem contribuir para uma redução no risco de lesões no futebol, como veremos a seguir.
Chuteira
A escolha da chuteira é um fotor relevante a ser considerado na prevenção de lesões. A chuteira tem por objetivo prover uma maior aderência entre o pé do jogador e o solo.
Quando a aderência do pé é insuficiente, há não apenas um prejuízo do ponto de vista técnico, mas também um maior risco para as entorses do tornozelo.
Por outro lado, quando a aderência é excessiva, há um risco aumentado para as entorses do joelho, o que inclui as tão temidas lesões do Ligamento Cruzado Anterior. Essas lesões acontecem geralmente quando o jogador prende o pé no solo e gira o corpo sobre o joelho.
Escolha do local de treinamento
No caso do futebol de campo, a superfície de jogo pode influenciar na ocorrência de lesões.
Gerações mais antigas de grama sintética proviam alta aderência entre a chuteira e o piso, favorecendo a ocorrência de lesões ligamentares no joelho.
Novas gerações de gramado sintético foram adaptadas para reduzir o atrito com a chuteira, de forma que o risco de lesões é agora muito parecido com o que ocorre na grama natural.
Por outro lado, a mudança de terreno tem se mostrado um fator de risco para lesões. Assim, pessoas que estão habituadas a treinar e jogar no gramado natural estão sob maior risco quando jogam em um gramado sintético.
Gerenciamento da carga de treino
O futebol de alto rendimento está trabalhando sempre nos limites entre desgaste e recuperação. A carga excessiva aumenta o nível de fadiga, e isso prejudica o desempenho e leva a um maior risco para a maior parte das lesões relacionadas ao esporte.
Diversos métodos são utilizados para o monitoramento de carga no futebol, incluindo escalas de fadiga, medidas da frequência cardíaca ou mesmo testes bioquímicos.
Essa é uma das principais funções do fisiologista no esporte, que usará os dados dessas avaliações para recomendar ajustes no volume ou intensidade dos treinos bem como dos períodos de recuperação, treinamento e competição.
No caso de atletas recreativos, o monitoramento tende a ser menos rígido, mas muitas vezes uma simples consulta e avaliação podem indicar uma carga inadequada de treinamento.
Aquecimento pré-treino ou jogo
O início da prática esportiva é outro momento em que o atleta está mais vulnerável a lesões. Isso acontece quando o corpo é levado de uma fase de inatividade diretamente para um exercício em alta intensidade.
Este risco pode ser minimizado pelo aquecimento pré-treino, ou jogo, o qual permite o aumento gradual do esforço demandado à musculatura e às articulações. A maioria das sessões de aquecimento tem duração entre 20 e 30 minutos e inclui uma combinação de exercícios cardiovasculares e exercícios de força.
O aquecimento pré-treino é projetado para aumentar a circulação sanguínea, aumentar a temperatura corporal, elevar a frequência cardíaca e preparar o corpo para movimentos bruscos no jogo que se seguirá. Manter os músculos aquecidos ajuda na melhora do desempenho e evita lesões agudas.
Monitoramento do retorno esportivo
O retorno esportivo após um período de férias (pré-temporada) ou após lesão é um momento especialmente suscetível à ocorrência de novas lesões. O afastamento de um mês das atividades físicas pode levar a até 30% de perda da força muscular. Caso o atleta retorne em carga máxima após este período, sem um processo de adaptação, o risco de lesão passa a ser inaceitavelmente elevado.
Recomenda-se que, em ambas as situações, o retorno seja feito com não mais do que 50% da carga de treino de antes da interrupção dos treinamentos e que o aumento da carga de seja de não mais do que 15% por semana, ou até menos, a depender dos dados de monitoramento do atleta. Essa é uma grande dificuldade no futebol profissional brasileiro, pelo número excessivo de jogos e campeonatos.
Reconhecimento precoce de lesões
O reconhecimento precoce de certas lesões pode ajudar a evitar a progressão do problema, devendo ser visto também do ponto de vista preventivo.
Um exemplo disso é a concussão cerebral, decorrente de um trauma na cabeça. Atletas que sofrem uma concussão cerebral devem ser retirados imediatamente do jogo, já que um eventual segundo impacto pode tornar a lesão muito mais séria.