Luxação Posterior do Ombro
Luxação Posterior do Ombro
O ombro é uma articulação com grande mobilidade, o que acontece às custas de uma menor estabilidade. Assim, esta é a articulação mais vulnerável do nosso corpo para a ocorrência da luxação, condição em que dois ossos que habitualmente estão em contato se “se desencaixam” um do outro.
A Luxação do ombro se caracteriza pelo deslocamento da cabeça do úmero (osso do braço) em relação à glenóide (parte da escápula onde a cabeça do úmero habitualmente fica apoiada).
Aproximadamente 97% dos pacientes apresentam um deslocamento da cabeça do úmero para a frente em relação à escápula, ao que denominamos de Luxação Anterior do Ombro.
O que falaremos aqui está relacionado aos 3% restantes, em que a cabeça do úmero se desloca para trás, denominado de Luxação Posterior do Ombro (1).
Como acontece a Luxação Posterior do Ombro?
A Luxação Posterior do Ombro pode acontecer em decorrência de crise epiléptica, choque elétrico ou traumas de alta energia. Ela deve ser considerada sempre que um paciente referir dor e limitação de movimento no ombro após uma convulsão.
Aproximadamente 15% dos pacientes apresentam acometimento dos dois ombros de forma simultânea, o que acontece quase sempre em decorrência de uma atividade convulsiva (2). Os músculos que rodam o braço para dentro são mais fortes do que aqueles que rodam o braço para fora, de forma que durante a crise convulsiva o ombro tende a rodar para dentro. Isso favorece a ocorrência da luxação posterior.
A Luxação Posterior do Ombro de origem traumática quase sempre está relacionada a uma queda sobre o braço estendido e girado para dentro. A força do impacto empurra a cabeça do úmero posteriormente para fora da cavidade glenóide.
Avaliação
Apesar da gravidade da lesão, aproximadamente metade dos casos de Luxação Posterior do Ombro passa despercebida pelo médico na avaliação inicial. Isso acontece porque as alterações radiográficas são mais discretas no início, podendo dar a impressão de que o ombro está no lugar. Outro motivo é que a Luxação Posterior do ombro geralmente decorre de traumas de maior energia, onde outras lesões podem estar presentes. Isso pode desviar a atenção do médico e do paciente, que não dão tanta atenção ao problema no ombro.
Nos casos convulsivos, a dor pode estar reduzida devido aos efeitos da convulsão sobre o sistema Nervoso Central e, também, pelo efeito do uso de medicamentos.
O principal sinal sugestivo da Luxação Posterior do Ombro é a tendência em ficar com o ombro rodado para dentro, sem que o paciente consiga rodá-lo para fora. Nos casos crônicos, a dor melhora gradativamente e a limitação de movimento passa a ser a queixa principal.
Exames de imagem como a ressonância magnética, radiografia e tomografia computadorizada são importantes para a identificação de outras lesões que acontecem junto com a Luxação Posterior do Ombro.
As principais delas são as rupturas capsulolabrais e a fratura por impactação da cabeça do úmero (lesão de McLaughin ou lesão de Hill-Sachs reversa). Elas podem acontecer devido ao úmero sendo forçado contra a parede posterior da glenóide. Lesão associada com a Ruptura dos tendões do manguito rotador são comuns, especialmente nos pacientes mais velhos.
Tratamento
O tratamento da Luxação Posterior do Ombro depende do tempo decorrido desde o trauma que provocou a luxação e do eventual comprometimento ósseo.
O primeiro passo é a redução da articulação, manobra realizada pelo médico para recolocar o ombro no lugar. Quando a luxação tem menos de seis semanas, deve-se fazer uma tentativa de redução fechada (sem cortes na pele) sob anestesia geral.
Quando esta tentativa não for bem-sucedida, procede-se com a redução aberta. A redução fechada não costuma ser bem-sucedida quando o ombro está deslocado há mais de seis semanas. Nestes casos, a redução é habitualmente feita com cirurgia aberta.
O tratamento definitivo depende principalmente da presença e do tamanho da lesão óssea e do tempo decorrido desde o trauma que provocou a luxação do ombro.
- Casos sem lesão óssea ou com lesão menor do que 20% do diâmetro da cabeça do úmero e que são tratadas nas primeiras seis semanas após a luxação costumam evoluir bem com o tratamento sem cirurgia. Nestes casos, após a redução o ombro deve ser imobilizado em posição neutra ou ligeiramente rodado para fora;
- Quando o tratamento sem cirurgia falha nestes pacientes, a cirurgia artroscópica para reparo capsulolabral é indicada;
- Quando a lesão óssea é ausente ou menor do que 20% do diâmetro da cabeça do úmero, mas o tratamento é feito mais de seis semanas após a luxação, a redução aberta associado a reparo capsulolabral costuma ser necessária;
- Na presença de lesão óssea com acometimento entre 20 e 40% do diâmetro da cabeça do úmero, indica-se a transferência do tendão do músculo subescapular para o local do defeito ósseo. Estes pacientes apresentam uma limitação do movimento rotacional do ombro após a cirurgia, mas o defeito ósseo deixa de provocar o re-deslocamento do ombro;
- Quando a lesão da cabeça do úmero for superior a 40%, a Prótese de ombro costuma ser o tratamento de escolha.
Vale considerar aqui que lesões de tecidos moles são muito mais comuns que as lesões ósseas. Assim, a maior parte dos pacientes podem ser tratados sem cirurgia ou por meio da cirurgia para reparo artroscópico.