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Hipocondria na Terceira Idade

Hipocondria na terceira idade

A hipocondria na terceira idade pode estar enlaçada com uma série de questões psíquicas, contextuais e emocionais do sujeito.

A sua forma de encarar a velhice, os diagnósticos relacionados à terceira idade, entre outros pontos, podem contribuir para o aumento ou a diminuição dos sintomas psicossomáticos e da visão deturpada do real que a hipocondria pode gerar.

Neste conteúdo, apresentamos informações sobre o transtorno hipocondríaco, a fim de refletir sobre o tema e buscar formas de lidar com esse impasse atravessado na velhice. Confira lendo até o fim!

O que é hipocondria?

A hipocondria pode ser caracterizada como um transtorno no qual o indivíduo sente um medo intenso e prolongado de estar gravemente doente. A pessoa acredita que até o mínimo sintoma, como uma dor muscular, pode ser resultado de uma doença grave que o levará à morte.

Sendo assim, é muito comum que o indivíduo consuma medicamentos de forma demasiada, colocando em risco a própria saúde.

Além disso, é comum haver casos de psicossomatização, que consiste no aparecimento de sintomas físicos, como enxaqueca, tontura, náuseas e vômitos, em decorrência das emoções não escutadas e das sobrecargas emocionais nesse sentido.

Trata-se de um transtorno que pode surgir na vida adulta, sendo um quadro muito comum, que atinge cerca de 9% da população. No entanto, na terceira idade, pode ser um pouco mais significativo em alguns casos, devido à realidade da velhice e da diminuição da energia, disposição e de força que é vivida nessa fase da vida.

A hipocondria deve ser tratada por profissionais da saúde qualificados, a fim de elevar a qualidade de vida do sujeito idoso.

Sintomas da hipocondria

Os sintomas da hipocondria podem ser analisados tanto pelo indivíduo, quanto pela família que convive à sua volta, a fim de detectar sinais de que é o momento de buscar ajuda médica. Veja alguns dos sinais comuns desse transtorno:

  • Preocupação excessiva com a saúde corporal, fazendo com que a pessoa invista muito tempo na análise de possíveis sintomas.
  • Comportamento de se automedicar com bastante frequência.
  • Medo da morte.
  • Medo de ter uma doença grave
  • Dúvida relacionada ao estado de saúde, mesmo quando os exames comprovam que não há nada de errado.
  • Medo de que os seus órgãos não estejam funcionando plenamente.
  • Busca excessiva por consultas médicas para analisar se há algo de errado ou não.
  • Busca excessiva por exames, dos mais diversos tipos, com o receio de detectar que algo está errado.
  • Sintomas de ansiedade, como sudorese, taquicardia, falta de ar e medo de perder o controle da própria saúde.
  • Dificuldade para dar credibilidade aos profissionais da saúde, crendo que estes estão errados quando dizem que não há nada de errado na saúde do indivíduo.

Vale ressaltar que o indivíduo não necessariamente apresentará todos os sintomas acima. Além disso, a intensidade da sintomatologia pode ser diferente em cada caso. Por isso, a avaliação médica e psicológica é indispensável para detectar esse quadro.

Causas da hipocondria na terceira idade

Assim como ocorre em outros casos de transtornos mentais, as causas da hipocondria podem ser caracterizadas como multifatoriais. Isto é, são diversos fatores que podem fomentar o aparecimento de um caso de transtorno hipocondríaco, que variam de acordo com cada sujeito e cada contexto no qual o idoso está inserido.

Abaixo trouxemos algumas considerações que podem servir de gatilho para o desenvolvimento da hipocondria na terceira idade:

1. Mudanças no corpo

As mudanças no corpo, como o aparecimento de rugas, as dores nas articulações e os impactos na mobilidade podem resultar em uma visão mais fragilizada de si mesmo. O idoso, diante de tantas transformações, pode se sentir mais “fraco”, o que pode provocar uma visão deturpada de dores e sensações sentidas no corpo.

2. “Choque de realidade”

A velhice é um verdadeiro “choque de realidade” para qualquer pessoa. É o real apresentando a finitude da vida que vem logo após o envelhecimento do sujeito.

Esse choque do real pode ocasionar o aparecimento da hipocondria, uma vez que o indivíduo pode encarar qualquer sintoma da velhice como uma denúncia de que algo grave está acontecendo em seu organismo.

3. Medo da morte e vivências de luto

Sabemos que o ser humano nasce, cresce, envelhece e depois morre. Ao menos, esse é o ciclo de vida mais esperado. Sendo assim, o idoso, ao se deparar com esse ciclo natural, pode começar a ter medo da morte na terceira idade, o que o coloca diante de uma angústia de estar desenvolvendo uma doença grave.

Qualquer sintoma passa a ser percebido com maior intensidade, fazendo-o imaginar que o fim da vida está próximo.

A situação pode se tornar mais frequente quando o indivíduo passa por processos de luto na terceira idade, especialmente quando esses lutos não são bem elaborados. Isso porque o contato com a morte das pessoas da mesma idade pode ocasionar uma visão mais frequente da finitude da vida, e o medo da morte pode abrir caminhos para os gatilhos da hipocondria.

4. Diagnósticos de pessoas próximas

Ao se deparar com o diagnóstico de doenças graves em pessoas próximas, especialmente em faixa de idade semelhante, o indivíduo pode começar a se questionar quanto à sua própria saúde.

Embora essa angústia seja comum em diversos casos de doenças crônicas diagnosticadas em pessoas próximas, na terceira idade, de acordo com o contexto no qual o sujeito está inserido, isso pode ocasionar um aumento na sensação de que o adoecimento também aparecerá na vida do indivíduo.

5. Questões emocionais e psicossomatização

As questões emocionais, quando não trabalhadas, podem aparecer no corpo, em forma de psicossomatização.

Essa psicossomatização, por sua vez, pode ocasionar uma preocupação excessiva com a saúde, fazendo com que a pessoa passe a acreditar que possui uma doença grave.

6. Limitações impostas pelos outros

A falta de espaço para manter uma vida autônoma e ativa, devido à preocupação excessiva da família, também pode ocasionar o aparecimento de gatilhos hipocondríacos.

É o caso de a família impedir que a pessoa saia de casa, tenha interações sociais, engate um novo relacionamento, locomova-se sozinha (quando consegue), entre outras situações.

A preocupação e a superproteção da família podem “roubar” a autonomia do sujeito, fazendo com que ele mesmo passe a se enxergar como alguém frágil e incapaz de manter-se sozinho. Consequentemente, essa visão de fragilidade pode ocasionar o aparecimento de sintomas do transtorno hipocondríaco.

Como lidar com a hipocondria na terceira idade?

A hipocondria na terceira idade pode roubar a autonomia e o bem-estar do sujeito, que passa a “desconfiar” de tudo o que ocorre em seu corpo, acreditando estar doente e prestes a morrer a qualquer momento.

Essas visões deturpadas podem levar a pessoa à prática de automedicação, que pode ser perigosa e pode, inclusive, levar ao aparecimento e desenvolvimento de enfermidades, de fato.

A seguir, descrevemos algumas considerações que podem ser levadas em conta na hora de lidar com a hipocondria na terceira idade:

1. Investir na psicoterapia

A psicoterapia é uma peça-chave no tratamento de transtornos mentais, como no caso da hipocondria.

Na psicoterapia, é possível trabalhar os gatilhos psíquicos e emocionais por trás dos comportamentos relacionados à hipocondria. Além disso, é possível avaliar as emoções, o conceito de velhice, a perspectiva de saúde e doença, o medo da morte, a visão sobre a terceira idade, e assim por diante.

Por meio do autoconhecimento, da ressignificação de conceitos e análise dos próprios comportamentos, o sujeito poderá criar novas perspectivas frente à psicossomatização e às crenças relacionadas às possíveis doenças que ele acredita ter.

2. Procurar um psiquiatra

O médico psiquiatra também tem um papel importante no caso da hipocondria na terceira idade. Ele poderá prescrever medicamentos que minimizem os sintomas de ansiedade relacionados à angústia provocada pela hipocondria.

Além disso, poderá tratar questões emocionais, como outros transtornos relacionados ao quadro do sujeito.

Sempre respeitando as singularidades do idoso e promovendo um tratamento que considere as questões individuais.

3. Investir em hábitos saudáveis

Investir em hábitos saudáveis também é algo importante. Quando mantemos uma vida saudável, com base em uma boa alimentação, cuidados com o sono, atividades que movem o corpo e outras ações semelhantes, tendencialmente protegemos a nossa saúde física e mental.

Outro ponto relacionado com os hábitos saudáveis é que podemos nos sentir mais confortáveis, felizes e bem conosco, o que pode contribuir para uma redução dos pensamentos e comportamentos hipocondríacos.

4. Dar atenção às emoções vividas e sentidas

Escutar as próprias emoções, trabalhando-as na psicoterapia, por exemplo, é algo válido e que minimiza os casos de psicossomatização. Sendo que a psicossomatização pode resultar em uma preocupação excessiva com a saúde, ocasionando crises hipocondríacas.

5. Buscar fortalecer a autonomia frente às limitações

Embora a terceira idade apresente limitações bastante específicas, ainda assim devemos priorizar a autonomia do sujeito frente às atividades funcionais do cotidiano.

Isso quer dizer que pode ser mais válido adaptar o lar para que o sujeito possa manter a sua mobilidade sozinho, do que buscar fazê-lo depender 100% das outras pessoas.

Apesar de a ajuda alheia ser importante, quanto mais pudermos focar na autonomia do idoso, mais poderemos oferecer confiança e redução de pensamentos focados na fragilidade.

6. Cuidar da autoestima e do autoconceito

A autoestima na terceira idade também tem um papel importante nos casos de hipocondria. Isso porque, muitas vezes, o autoconceito do sujeito está atrelado a uma visão mais “fragilizada” e “incapaz” de si mesmo.

Por isso, buscar fortalecer a autoestima, investindo em práticas saudáveis, aprendendo algo novo, cuidando das interações sociais, entre outras ações, é algo importante.

7. Construir laços sociais

Seguindo o que acabamos de mencionar logo acima, a construção de laços sociais pode ser um caminho muito importante nos casos de hipocondria na terceira idade.

As vivências sociais podem aumentar a nossa qualidade de vida, auxiliam na manutenção da autoestima, promovem momentos de descontração e diversão e tendem a reduzir pensamentos voltados à hipocondria.

Obviamente, as relações sociais não podem “curar” o quadro, mas contribuem para um aumento da qualidade de vida como um todo. Por isso, investir em atividades que projetam a construção de laços sociais saudáveis é algo que deve fazer parte da vida do idoso.

8. Manter uma vida ativa física e intelectualmente

Manter uma vida ativa física e intelectualmente também é um comportamento que deve fazer parte da rotina do idoso. No caso da saúde física, as práticas de exercício podem servir de base para um bem-estar geral, ao mesmo tempo em que o sistema imunológico também é estimulado.

Já no caso intelectual, o idoso pode aprender coisas novas, explorar suas habilidades, aumentar a sua autoestima com essas atividades, ocupar o tempo com tarefas que geram prazer e bem-estar, ao mesmo tempo em que estimulam a cognição, e, consequentemente, aumentam a qualidade de vida como um todo.

9. Nunca se automedicar

É muito importante que o indivíduo que sofre com hipocondria na terceira idade nunca se automedique. Isso porque, ao se deparar com a crença de que está doente, o sujeito pode sair em busca de alternativas para “se tratar”.

Muitas vezes, essas alternativas não são baseadas em métodos científicos, ou burlam o sistema farmacêutico ao comprar medicamentos sem receita médica.

Embora pareça apenas um comportamento atrelado ao desejo de “curar o corpo”, a verdade é que a pessoa pode se deparar com uma situação inversa.

É o caso de desenvolver uma enfermidade grave devido ao consumo de medicamentos em quantidades e com fórmulas não adequadas à saúde e à realidade do sujeito.

Isto é, embora o indivíduo use a automedicação para minimizar a ideia de que está doente e que está prestes a morrer por conta da enfermidade, esse comportamento pode ocasionar um efeito rebote que, em muitas situações, pode ser fatal.

Por isso, buscar manter as visitas regulares ao médico, consumindo medicamentos que sejam prescritos pelos profissionais da saúde, é algo extremamente importante. Nunca invista na automedicação, pois ela pode ser bastante traiçoeira!

Como a família pode ajudar no caso de hipocondria na terceira idade?

Sem dúvidas, a família tem um papel importante na vida do idoso. No caso da hipocondria na terceira idade, é possível investir em algumas ações que auxiliem o indivíduo diante dos sintomas. Veja:

1. Apoio emocional e não anular a dor do sujeito

Na hipocondria, apenas dizer que o sujeito “não tem nada” e anular as angústias que ele sente pode não ser um caminho muito interessante.

Por isso, saber ouvir e acolher as questões emocionais, sem fortalecer os sintomas, mas sem anular o sujeito, pode ser relevante nessas circunstâncias.

2. Incentivar a busca por ajuda psicológica

Sempre incentive a busca pela ajuda psicológica. Apresentar os benefícios da psicoterapia e ajudar o sujeito a compreender a necessidade de conversar com um psicólogo também é um caminho.

3. Orientar sobre os riscos da automedicação

Sempre oriente a pessoa com relação à automedicação. Deixe claro que esse tipo de comportamento pode ser extremamente prejudicial para a saúde. Nunca incentive esse tipo de prática.

4. Não diagnostique o paciente

Embora a pessoa possa dizer que tem os sintomas x, y e z, os familiares nunca devem diagnosticar o indivíduo. Jamais diga que acredita que ele tem a doença X ou Y, pois o hipocondríaco pode ter sintomas psicossomáticos e ao ouvir de alguém que ele pode realmente estar doente, as questões emocionais podem se agravar.

5. Incentive uma rotina saudável de busca por auxílio médico

Incentive uma rotina saudável com relação aos exames periódicos que o indivíduo pode fazer. Isto é, incentive a busca pelo apoio médico de forma periódica, e não frequente, apenas para manter os exames de rotina em dia.

Assim, quem sabe o indivíduo pode começar a montar uma rotina de exames e cuidados com a saúde que seja mais natural e menos voltada aos comportamentos hipocondríacos.

Referências

CARDOSO, M.; PARABONI, P.. Hipocondria: Um corpo Capturado pelo Outro. Jean Laplanche, ano XXIX-Junho/Dezembro 2016. http://www. bivipsi. org/wp-content/uploads/percurso-2016-56-57-16. pdf.

MEIRA, A. M. B.; NÓBREGA, K. M. B. O registro da hipocondria na velhice. Anais CIEH (2015) – Vol. 2, N.1. ISSN 2318-0854.