Gestação em mulheres obesas
Riscos associados à obesidade materna
A obesidade materna impõe riscos aumentados tanto para a gestante como para o feto.
Riscos maternos que aumentam com a obesidade incluem:
- Distúrbios hipertensivos da gestação, como a pré-eclâmpsia e eclâmpsia.
- Diabetes gestacional.
- Apneia obstrutiva do sono
- Tromboembolismo venoso.
- Infecções pós-parto, incluindo a Infecção de ferida operatória (no caso de parto cesárea) e a endometrite puerperal.
- Maior taxa de cesarianas e complicações anestésicas.
Já os riscos fetais associados à obesidade materna incluem:
- Anomalias congênitas (especialmente defeitos do tubo neural, cardiopatias congênitas).
- Macrossomia fetal
- Restrição de crescimento intrauterino
- Morte fetal intrauterina (aumenta com IMC ≥40).
- Prematuridade (espontânea ou iatrogênica).
Na tabela abaixo, mostramos a relação entre o IMC materno e a probabilidade de algumas complicações obstétricas e fetais:
Complicação | IMC normal (18,5–24,9) | IMC 30–39,9 | IMC ≥40 |
Pré-eclâmpsia | 2–3% | 2–3 vezes maior risco | 3–4 vezes maior risco |
Diabetes gestacional | 3–5% | 3–4 vezes maior risco | 5–8 vezes maior risco |
Apneia obstrutiva do sono | Rara (<2%) | Prevalência até 20% | Prevalência >40% |
Tromboembolismo venoso | 0,05–0,1% | 2 vezes maior risco | 4 vezes maior risco |
Endometrite puerperal | 1–3% | 2 vezes maior risco | 3 vezes maior risco |
Anomalias congênitas (defeitos do tubo neural, cardiopatias) | 1–3% (dependendo da malformação) | 1,5–2 vezes maior risco | 2–3 vezes maior risco |
Macrossomia fetal (>4.000 g) | 8–10% | 1,5–2 vezes maior risco | 2–3 vezes maior risco |
Restrição de crescimento intrauterino (RCIU) | 5–7% | Igual ou discretamente menor risco* | Igual ou discretamente menor risco* |
Morte fetal intrauterina | 0,5% | 2 vezes maior risco | 3–4 vezes maior risco |
Prematuridade | 8–10% | 1,3–1,5 vezes maior risco | 1,5–2 vezes maior risco |
Impacto da obesidade na Fertilidade Feminina
A obesidade tem impacto negativo sobre a fertilidade feminina. Ela está associada a alterações hormonais que podem levar à anovulação crônica e irregularidade menstrual.
A receptividade endometrial pode também ser comprometida, devido à inflamação crônica de baixo grau e às alterações hormonais.
Por fim, mesmo com a concepção, mulheres obesas têm maior taxa de perdas gestacionais precoces, tanto em gestações espontâneas como por fertilização in vitro (FIV).
Cuidados Pré-concepção
O principal cuidado pré-concepção para mulheres obesas está relacionado à avaliação clínica e metabólica, incluindo glicemia, perfil lipídico e função tireoidiana.
O ácido fólico deve ser suplementado em doses mais altas do que o habitual (5 mg/dia) pelo maior risco de defeitos do tubo neural.
Considerando o maior risco de complicações, essas mulheres devem ser estimuladas a adotar medidas de melhora no estilo de vida, incluindo melhora no padrão alimentar e prática regular de atividades físicas, o que também contribui para a perda de peso.
Cuidados pré-natais
Mulheres obesas devem ter cuidado redobrado com o ganho de peso na gestação. Enquanto uma mulher com baixo peso precisa ganhar entre 12kg e 18kg na gestação, a recomendação para mulheres obesas é que o ganho de peso não utrapasse 5 a 9 kg.
Devido ao risco aumentado para complicações, outros cuidados diferenciados incluem:
- Teste de tolerância à glicose deve ser realizado entre 24–28 semanas, ou mais cedo a depender dos fatores de risco.
- Ultrassonografias seriadas com maior frequência, para avaliação de crescimento fetal.
- Atenção especial ao manejo de hipertensão e apneia do sono.
- A orientação nutricional individualizada
- Incentivo a atividade física leve/moderada (quando não houver contraindicações).
Gestação após cirurgia bariátrica
Passado o período inicial de recuperação, a cirurgia bariátrica melhora o vigor, o bem-estar, a auto-imagem corporal e o desejo sexual dos pacientes.
Junto com isso, é esperado uma melhora do ambiente hormonal e da fertilidade. O desejo pela maternidade é comum entre as mulheres que fazem a cirurgia.
Por outro lado, a grande perda de peso logo após a cirurgia pode prejudicar o crescimento do feto. Assim, é recomendado que se aguarde ao menos 15 a 18 meses após a cirurgia para engravidar (1).
O uso de métodos contraceptivos deve ser considerado no caso de mulheres sexualmente ativas, sendo que métodos contraceptivos específicos são indicados nestes casos.
Mesmo após esse prazo, mulheres pós cirurgia bariátrica apresentam risco mais elevado para certas deficiências nutricionais que podem impactar a gestação, incluindo Ferro, vitamina B12, cálcio, vitamina D, proteínas. A avaliação nutricional em todas as tentantes é fundamental para compensar essas deficiências.
Na tabela abaixo, mostramos uma comparação dos principais riscos na gestação de mulheres com obesidade sem cirurgia bariátrica versus mulheres que engravidam após cirurgia bariátrica (considerando seguimento nutricional adequado e gestação após o período recomendado de 12–18 meses pós-cirurgia)
Complicação / Desfecho | Obesidade sem cirurgia | Pós-bariátrica (adequadamente acompanhada) |
Diabetes gestacional | Elevado (3–4x mais que IMC normal) | Reduzido (similar ou discretamente maior que IMC normal) |
Pré-eclâmpsia / hipertensão gestacional | Elevado (2–3x) | Reduzido em relação à obesidade, porém ainda acima do normal |
Macrossomia fetal | Elevado (2–3x) | Reduzido (maior risco de restrição de crescimento se dieta inadequada) |
Restrição de crescimento intrauterino (RCIU) | Igual ou discretamente menor (exceto com hipertensão grave) | Maior risco se deficiências nutricionais não corrigidas |
Prematuridade | Moderadamente aumentada | Ligeiramente aumentada (principalmente por complicações nutricionais) |
Morte fetal intrauterina | Maior risco (até 3–4x) | Reduzido em relação à obesidade, mas ainda levemente superior ao risco basal |
Parto cesáreo | Maior frequência (40–60%) | Redução do risco, mas ainda acima do normal |
Complicações anestésicas / obstétricas | Frequentes (intubação difícil, hemorragia) | Menor risco que obesidade grave, porém atenção necessária |
Infecções puerperais (ferida, endometrite) | Elevado (2–3x) | Reduzido em relação à obesidade, mas ainda acima do normal |
Deficiências nutricionais (ferro, B12, Ca, vit D, proteínas) | Geralmente não presentes | Risco aumentado (exige suplementação e monitoramento) |