Efeitos do Abuso de telas na infância e na adolescência
Quais as consequências do abuso de telas na infância e na adolescência?
Os benefícios providos pelos meios digitais são indiscutíveis. É óbvio que as crianças precisam aprender habilidades relacionadas à informática.
Não se discute também que a tecnologia digital pode ser uma ferramenta relevante no arsenal pedagógico dos professores, especialmente quando ela faz parte de um projeto educacional estruturado. Ainda assim, é preciso ter cuidado com o tempo total de exposição a essas diferentes tecnologias.
O abuso de telas é um problema relativamente novo e no qual ainda faltam estudos mais robustos. Muito se discute sobre os efeitos de curto e médio prazo do uso desses dispositivos, mas pouco se sabe sobre seus efeitos de longo prazo.
Ninguém discute a importância dos aparelhos eletrônicos no mundo de hoje. É óbvio que as crianças precisam aprender habilidades relacionadas à informática.
Não se discute também que a tecnologia digital pode ser uma ferramenta relevante no arsenal pedagógico dos professores, especialmente quando ela faz parte de um projeto educacional estruturado.
Ainda assim, problemas relacionados ao excesso de telas não devem ser negligenciados. Esses efeitos incluem problemas ortopédicos, oftalmológicos e neuropsiquiátricos. O sono é afetado. O sedentarismo é um sério problema que tem se agravado cada vez mais, já que o tempo ativo ao ar livre tem sido substituído pelas telas.
Problemas ortopédicos
Dores cervicais estão associadas especialmente ao abuso dos telefones celulares. Isso porque, para ver o celular, as pessoas mantêm a cabeça voltada para baixo em aproximadamente 60º, posição que exige maior esforço da musculatura cervical.
O primeiro passo para quem sofre com essas dores é minimizar o uso dos celulares. Quando possível, o uso de computador com a tela na mesma altura dos olhos deve ser preferida.
Além disso, é fundamental o trabalho de alongamento e fortalecimento da musculatura paracervical, seja na prática regular de atividade física ou por meio da fisioterapia e suas diferentes técnicas.
Efeitos oftalmológicos
Diversas consequências oftalmológicas foram descritas como decorrentes do uso excessivo desses aparelhos digitais, como aumento da incidência de miopia, espasmo de acomodação, olho seco e estrabismo adquirido.
O principal problema para os olhos relacionado ao uso de telas é o excesso de tempo que as pessoas matêm a visão de perto.
O espasmo de acomodação está relacionado à acomodação do músculo responsável pelo foco. A pessoa pode ficar com dificuldade de enxergar para longe.
A miopia é um dos problemas de visão mais comuns no mundo. Ela acontece devido a um problema na refração dos raios de luz, que deixam de ser focalizados na parte posterior da retina, como deveria acontecer. Com isso, os objetos distantes parecem embaçados.
A miopia está relacionada tanto a fatores genéticos e ambientais. Dois fatores de risco ambientais, é preciso considerar o uso excessivo da visão de perto e tempo insuficiente dispensado em ambientes externos durante a infância.
o excesso de telas também é fator de risco conhecido para o desenvolvimento de síndrome de olho seco. Uma pessoa habitualmente pisca em média 15 vezes por minuto, mas esse número é reduzido em usuários de telas, levando aos sintomas de olho seco.
Para minimizar os efeitos oftalmológicos do abuso de telas, alguns cuidados devem ser considerados:
- Preferir a maior tela, na maior distância possível (televisão é preferível ao celular);
- Reduzir o brilho e aumentar o contraste da tela do aparelho eletrônico.
- Evitar o uso de eletrônicos em ambientes escuros. A luminosidade da tela deve ser menor ou igual ao do ambiente.
Sono
A luz azul emitida pelas telas imita a luz do dia e reduz a produção de melatonina, um hormônio que controla o ciclo do sono.
Isso afeta diretamente o relógio biológico do nosso corpo. O cérebro passa a ter dificuldade para perceber o que é noite ou dia. Ele demora para se desligar, comprometendo o início do sono.
Quando o contato com os eletrônicos acontece com a luz do quarto apagada, os danos ao sono são ainda maiores. Neste caso, a pupila fica dilatada, e os olhos ainda mais expostos à incidência da luz proveniente das telas.
A American Academy of Sleep Medicine (AASM) recomenda evitar o uso de telas eletrônicas, como smartphones, tablets, computadores e televisão, por pelo menos uma hora antes de dormir. Isso permite que o cérebro entre em um estado de relaxamento adequado para o sono.
Além de outras medidas relacionada à higiene do sono discutidas no artigo sobre insônia, algumas outras formas para minimizar o efeito negativos dos aparelhos eletrônicos no sono incluem:
- Usar o modo noturno ou filtro de luz azul no dispositivo
- Manter os dispositivos fora do quarto
- Silenciar as notificações ou colocar o dispositivo em modo silencioso
- Evitar pegar o celular se acordar no meio da noite
- Usar um despertador tradicional
Efeitos neuropsiquiátricos das telas
As experiências digitais devem ser diferenciadas em termos de conteúdo, dispositivo, contexto, local de uso e indivíduos envolvidos. Os efeitos negativos estão relacionados tanto ao tempo total em que a criança é exposta a essas mídias, quando ao conteúdo que é acessado.
Além das atividades educacionais dirigidas, quase sempre prevalece o uso recreativo com mídias mais empobrecedoras, como televisão, videogames e especialmente as redes sociais. Mais do que empobrecedoras, são mídias com potencial para sérios danos ao neurodesenvolvimento e à saúde mental, como veremos adiante.
As telas possuem efeitos negativos para a saúde tanto de crianças como de adultos. A principal diferença, no entanto, é que a criança está sofrendo esses efeitos ainda em uma fase na qual o Sistema Nervoso ainda está em desenvolvimento.
O potencial para a plasticidade cerebral é extremo durante a infância e a adolescência. Depois, ele começa a desaparecer. Ele não desaparece nos adultos, mas se torna muito menos eficiente.
Os meios digitais estão pela primeira vez na história fazendo com que o Coeficiente de Inteligência das crianças seja menor do que o de seus pais.
Existem diferentes razões para isso:
- Subestimulação intelectual, devido à redução no tempo dedicado a outras atividades mais enriquecedoras (lição de casa, música, arte, leitura, etc.);
- Piora do sono, tanto no tempo total que a criança dorme quanto na qualidade desse sono;
- Problemas com a atenção e a concentração;
- Problemas no desenvolvimento da linguagem;
- Menor interação social
- Sedentarismo excessivo que, além do desenvolvimento corporal, prejudica também a maturação cerebral.
Subestimulação intelectual
Nem todas as atividades alimentam o desenvolvimento e a maturação cerebral com a mesma eficiência.
Atividades relacionadas à escola, trabalho intelectual, leitura, música, arte, esportes ou mesmo as brincadeiras com os amigos estimulam muito mais o desenvolvimento cerebral do que as telas.
Concentração e atenção
o cérebro opera com dois tipos de atenção:
- Atenção automática: está presente quando interagimos com algo que é facilmente envolvente, como mídias sociais, videogames e televisão.
- Atenção direcionada: está presente quando nos concentramos em tarefas tediosas (e às vezes chatas), como estudar, ler um livro ou dobrar roupa. Atividades que são mais laboriosas requerem atenção direcionada significativa
Pessoas que ficam muito tempo em frente às telas estão sempre expostos a uma atenção automática, não desenvolvendo a atenção direcionada.
Além disso, os conteúdos exibidos em mídias eletrônicas são muito dinâmicas. As pessoas estão sempre sendo apresentadas a novos conteúdos e mudam o que estão assistindo o tempo todo. Com isso, essas pessoas não desenvolvem a habilidade de manter a concentração em um conteúdo único além de alguns minutos. Mesmo em sala de aula, isso tem feito com que as crianças fiquem cada vez mais dispersas.
Memória
Conteúdos curtos e que prendem a atenção de forma mais automática envolvem um raciocínio mais instantâneo, diferente do que exercitamos em nosso cérebro ao ler um livro ou qualquer outro material que exige mais tempo de compreensão.
Quando o raciocínio é mais rápido, a informação não fica consolidada no cérebro, de forma que áreas do cérebro responsáveis pela memória ficam subestimuladas.
Raciocínio e resolução de problemas
A interação com as telas é muito mais passiva do que o mundo real. Enquanto no mundo real as pessoas são expostas aos problemas e precisam resolvê-los, no mundo digital elas geralmente são expostas ao problema e também à sua solução.
As mídias eletrônicas mais utilizadas por crianças buscam uma atenção que é mais automática, que não exigem que a criança precise pensar muito.
Linguagem e comunicação
O desenvolvimento da linguagem depende de uma reciprocidade entre os indivíduos que estão se comunicando. Uma pessoa escuta e depois responde. Essa resposta pode ser por meio da fala, de gestos, de expressões.
Quando estão no computador ou celular, as crianças tendem a receber a mensagem de forma passiva. Elas apenas escutam ou assistem, não respondem, não mantêm uma conversa.
Esses meios digitais têm substituído o contato direto da criança com os pais, cuidadores e amigos, dificultando a aquisição da linguagem.
Interação social
Crianças que ficam muito tempo em telas têm menos tempo para brincar e interagir com familiares, colegas e amigos.
As telas prejudicam não apenas o tempo de interação, mas também a qualidade dessas interações.
Como vimos acima, as telas prejudicam entre outras coisas a atenção, a concentração, a linguagem e a memória. Todas essas habilidades são fundamentais para uma interação social de qualidade.
Saúde mental
O abuso de telas prejudica a saúde mental de diferentes formas:
- Pessoas que ficam muito tempo em telas tendem a ser mais sedentárias. O sedentarismo está associado a diferentes formas de transtornos mentais, como depressão e ansiedade;
- O excesso de telas prejudica a socialização e favorece o isolamento social. O isolamento social está também implicado a uma pior saúde mental;
- Redes sociais tendem a apresentar um “mundo perfeito”, mas irreal, onde todos parecem ricos, viajam o tempo todo, estão em relacionamentos perfeitos e com filhos exemplares. Poucos expõem suas dificuldades e problemas. Isso faz com que muitos se sintam fracassados e inferiores a seus pares.
Recomendações gerais
Embora não exista ainda um consenso de qual seria o tempo recomendável de telas ao longo da infância, algumas das recomendações a serem consideradas incluem:
- Crianças de até 2 anos: idealmente não devem ser expostas às telas eletrônicas, nem de forma passiva. O uso deve ocorrer apenas de forma eventual com o objetivo de manter o vínculo afetivo da criança com pessoas distantes e sempre com supervisão dos pais ou responsáveis.
- Entre 2 e 5 anos: devem usar as telas por no máximo 1 hora por dia, sempre com supervisão dos pais ou responsáveis. Dar preferência por conteúdos educativos.
- Entre 6 e 10 anos: adequar o uso para não ultrapassar 2 horas por dia, sempre com supervisão dos pais ou responsáveis. É preciso evitar exposição a temas violentos.
- 11 anos ou mais: adequar para 2 a 3 horas por dia. Parte significativa disso deve estar voltada para conteúdos educativos. Ainda que a criança tenha mais liberdade na escolha das midias, as regras devem ser estabelecidas e o controle parental precisa ser feito.
- Estabeleça regras de uso: a forma como as telas devem ser utilizadas deve estar bem clara para as crianças. Embora alguns “desvios”eventuais sejam tolerados, isso não deve acontecer no dia a dia.
- Supervisão os conteúdos: não deixar a criança fechada no quarto com acesso às telas. É preciso definir onde ela poderá acessar seus aparelhos, deforma que esteja sempre sendo observada.
- Reservar momentos de desconexão e convivência familiar. Não permitir que os eletrônicos sejam levados para a mesa durante as refeições.
- Evitar as telas por ao menos 2 horas antes de dormir e nunca “virar a noite jogando”.
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