Doença do calor relacionada ao exercício
O que é a Doença do Calor relacionada ao Exercício?
A Doença do calor relacionada ao exercício é uma condição caracterizada pela lesão de diferentes órgãos e tecidos por conta de uma temperatura corporal elevada, geralmente acima de 40,5°C.
A menos que seja prontamente e corretamente reconhecida e tratada, o atleta progride para uma resposta inflamatória sistêmica e falência de múltiplos órgãos. A morbidade e a mortalidade aumentam quanto maior o tempo em que a temperatura corporal permanecer acima do limiar crítico.
Qual a causa de Doença do Calor relacionada ao Exercício?
O corpo humano precisa manter a temperatura corporal relativamente constante, para que os diferentes órgãos e tecidos funcionem normalmente.
Ao nos exercitarmos, no entanto, o corpo produz calor que promove um aumento da temperatura corporal, sendo isso potencializado por temperatura ambiente e umidade elevadas.
Por outro lado, o corpo possui diversos mecanismos para compensar e minimizar esse aumento de temperatura. Para isso, o calor em excesso pode ser dissipado principalmente por meio da respiração e do suor.
Quando o corpo se aquece, há uma resposta natural e inconsciente que faz com que mais sangue seja direcionado para a pele nos braços, pernas e cabeça, favorecendo a sudorese. Ao mesmo tempo, a eliminação de calor por meio da respiração também aumenta.
Durante a prática de exercícios, é esperado que a temperatura corporal pode subir para 38,3°C a 40°C. Já a exaustão por calor acontece quando o corpo não consegue mais se livrar do excesso de calor, levando a um aumento ainda maior na temperatura corporal.
Fatores de risco
Algumas condições podem comprometer ou dificultar a eliminação de calor, aumentando o risco para a Doença do Calor Relacionada ao Exercício.
Adultos com mais de 65 anos e crianças pequenas têm maior dificuldade para regular a temperatura, devendo ter cuidado redobrado com as medidas de prevenção indicadas abaixo. Outras condições de maior risco para a exaustão por calor incluem:
- Indivíduos em má forma física.
- Atletas de elite (por conta da intensidade extrema de exercícios).
- Uso de certos medicamentos, como estimulantes, anti-histamínicos e medicamentos para epilepsia.
- Certas doenças crônicas.
- Não estar acostumado a se exercitar no calor (falta de aclimatação).
- Ter uma infecção sistêmica (especialmente na vigência de febre).
- Desidratação.
- Consumo de álcool antes do exercício.
Prevenção da Doença do Calor Relacionada ao Exercício
A prevenção envolve medidas para evitar o aumento excessivo da temperatura corporal, bem como medidas que auxiliem no rápido reconhecimento e intervenção frente aos primeiros sinais de doença do calor.
- Aclimatação: a competição em um ambiente com risco de risco de doença do calor deve idealmente ser precedida por um período de aclimatação por 7 a 14 dias, com progressão gradual da intensidade e duração da atividade física no calor.
- Afastamento da atividade física: Atletas na vigência de doença sistêmica, especialmente com febre, não devem pratica atividade física até que a condição seja resolvida. Mesmo após a resolução dos sintomas, o atleta ainda permanece alguns dias com maior susceptibilidade para doenças relacionadas ao calor, devendo ser observado cuidadosamente ao retornar aos exercícios em ambientes quentes.
- Hidratação: a prática de atividade física em ambiente quente exige cuidado redobrado com a reposição de fluidos antes, durante e após a atividade. Por outro lado, é preciso também cuidado com a hiperidratação e perda de eletrólitos – discutimos sobre isso em um artigo sobre Hidratação no Esporte.
- Sono: atletas devem ser incentivados a dormir pelo menos 7 horas por noite em um ambiente fresco.
- Alimentação: A adoção de uma dieta equilibrada também deve ser recomendada. Após as refeições, os atletas devem ter um período de descanso de 2 a 3 horas para que os alimentos, líquidos, eletrólitos sejam digeridos e absorvidos antes do próximo treino ou competição.
- Pré-temporada: a pré-temporada é um momento de risco elevado para a Doença do Calor Relacionada ao Exercício. as primeiras 2 a 3 semanas de treinos de pré-temporada, a atividade deve ser adiada ou reprogramada, ou a sessão de treino encurtada para reduzir o risco para os participantes.
- Pausas para hidratação e resfriamento: sempre que possível, pausas para hidratação e resfriamento devem ser planejadas. Essas pausas devem ser feitas na sombra ou em uma zona de resfriamento predeterminada e devem permitir tempo suficiente para que todos os atletas consumam líquidos. Quando possível, a remoção de equipamentos como capacetes deve ser estimulada durante os períodos de descanso.
- Reconhecimento precoce: quanto mais rápido a Doença do Calor Relacionada ao Exercício for reconhecida, maior a chanse de sucesso com o tratamento. Assim, todas as pessoas envolvidas nos eventos devem ser educadas de forma a reconhecer e agir prontamente a Doença do Calor.
- Intervenção precoce: disponibilização de banheiras de água fria ou com gelo em locais de competição com risco de Doença do Calor Relacionada ao Exercício, considerando que o resfriamento imediato de todo o corpo é essencial para o tratamento adequado da Doença do Calor.
Sintomas da Exaustão por calor
Os sintomas de Doença do Calor induzida pelo exercício incluem:
- Temperatura corporal central de 40 graus Celsius ou superior.
- Alteração no estado mental ou comportamento, incluindo confusão, agitação, fala arrastada, irritabilidade, delírio, convulsões e coma podem resultar de insolação.
- Náuseas e vômitos intensos.
- Pele avermelhada.
- Respiração acelerada. A respiração pode se tornar rápida e superficial.
- Frequência cardíaca bastante acelerada.
- Dor de cabeça latejante.
Diagnóstico
O diagnóstico deve ser feito com base em um quadro clínico compatível, associado a uma temperatura central de 40,5º C ou mais.
A avaliação da temperatura retal é o padrão ouro clínico para a obtenção da temperatura corporal central de pacientes com Doença do Calor. Nenhum outro método de aferição da temperatura corporal central (por exemplo, oral, axilar, timpânica, adesivo na testa, temporal) é válido ou confiável após exercícios intensos no calor e pode levar a tratamento inadequado ou inapropriado, colocando em risco a saúde do paciente.
Em relação ao quadro clínico, o principal sinal é a alteração do estado mental ou do comportamento. No entanto, outras condições precisam também ser considerados como diagóstico diferencial, incluindo distúrbios hidroeletrolíticos (especialmente a hiponatremia por conta de hiperidratação) ou hipoglicemia.
Tratamento
O principal ponto no tratamento da Doença do Calor relacionada ao Exercício é o resfriamento imediato. É fundamental que isso seja feito antes mesmo de uma eventual transferência para o hospital, considerando que os danos serão maiores quanto maior o tempo em que o indivíduo permanecer com a temperatura central elevada.
o corpo do paciente (tronco e extremidades) deve ser rapidamente imerso em uma piscina ou banheira de água fria. A remoção do excesso de roupas e equipamentos
aumentará o resfriamento. No entanto, como a remoção do excesso de roupas e
equipamentos pode ser demorada, a imersão em água fria deve começar
imediatamente e os equipamentos devem ser removidos enquanto o
paciente estiver na banheira (ou enquanto a temperatura estiver sendo
avaliada ou a banheira estiver sendo preparada).
Se a imersão em água fria de corpo inteiro não estiver disponível, outras modalidades disponíveis devem ser usadas, como toalhas de gelo molhadas ou sacos de gelo esfregados sobre todo o corpo. Ventiladores podem ajudar no resfriamento nesses casos. Nenhum desses métodos, no entanto, será tão eficaz quanto a imersão em água fria para o rápido resfriamento.
o objetivo primário do tratamento deve ser reduzir a temperatura corporal central para menos de 38,9 °C em até 30 minutos após o colapso, sendo que quanto mais rápido isso for feito, melhor.
Ainda que as taxas de resfriamento possam variar, o resfriamento esperado com a imersão em água gelada é de aproximadamente 0,2°C/min (ou cerca de 1°C
a cada 5 minutos.
O paciente deve ser removido quando a temperatura corporal central atingir
38,9°C, de forma a evitar o resfriamento excessivo.
Uma vez saído da fase crítica, que o corpo tenha sido adequadamente resfriado e que o paciente esteja assintomático, é importante que seja feita uma avaliação médica, para avaliar a função renal e hepática ou qualquer outra condição decorrente do estresse térmico.
Retorno ao Esporte
o retorno à atividade no mesmo dia não é recomendado e deve ser evitado. Além disso, para retornar ao esporte o paciente deve estar assintomático e deve apresentar resultados normais em exames de sangue (painéis renais e hepáticos, eletrólitos e níveis de enzimas musculares).
A maior parte dos pacientes resfriados eficazmente em até 30 minutos do início dos sintomas estarão aptos para retornar ao esporte em até 1 mês. Quando o tratamento é atrasado (ou seja, não realizado em até 30 minutos), os pacientes podem apresentar complicações residuais por meses ou anos após o evento.
O retorno esportivo desse sempre ser feito de forma gradual e com monitorização dos sintomas. Caso o paciente apresente quaisquer efeitos colaterais ou sintomas negativos com o treinamento, a progressão deve ser reduzida, adiada ou interrompida.