Doença de Osgood-Schlatter
O que é a Doença de Osgood-Schlatter?
A Doença de Osgood-Schlatter caracteriza-se por uma irritação da Tuberosidade da Tibia, a proeminência óssea que serve de fixação para o tendão patelar. Ela está localizada na parte da frente da perna e logo abaixo do joelho.
A doença é classificada como uma apofisite, ou “inflamação da apófise”. Apófises são proeminência ósseas que servem de fixação para os principais tendões do corpo.
Qual a causa da Doença de Osgood-Schlatter?
A Doença de Osgood-Schlatter é uma condição decorrente do esforço repetitivo de tração sobre a placa de crescimento da tuberosidade da tíbia.
Ela acontece durante o período de estirão de crescimento. Isso porque, nesta fase, a placa de crescimento encontra-se em intensa atividade, o que deixa ela menos resistente às forças de tração.
Quais os sintomas da Doença de Osgood Schlatter?
O paciente apresenta dor localizada sobre a tuberosidade da tibia, alternando períodos de melhora e piora.
No início, a dor ocorre após a atividade física. Com o tempo, ela passa a ser sentida também durante o exercício.
Pode haver também um aumento de volume sobre a apófise acometida, que se torna mais sobressalente.
Quem é habitualmente acometido pela Doença de Osgood-Schlatter?
A Doença de Osgood-Schlatter geralmente ocorre em crianças de 8 a 15 anos de idade, durante sua passagem pelo estirão de crescimento da puberdade.
Meninos são mais acometidos entre os 10 e os 15 anos, enquanto as meninas são acometidas em faixa etária um pouco mais precoce, entre os 8 e os 13 anos. Isso acontece porque o estirão de crescimento acontece em uma idade mais precoce entre as meninas, quando comparado com os meninos.
Entretanto, são descritos casos eventuais em pessoas com até 20 anos de idade, uma vez que o fim do crescimento nas apófises é mais tardio do que o fim do crescimento longitudinal.
A Doença de Osgood-Schlatter é mais comum em meninos atleticamente ativos. Entretanto, a incidência tem crescido entre as meninas, devido ao aumento na participação esportiva entre elas.
A prática de atividades esportivas de impacto é o principal fator de risco para a doença. Ela acomete aproximadamente 20% dos adolescentes envolvidos nestes esportes, comparado com 5% dos adolescentes não atléticos (1).
O problema é bilateral em 25 a 50% dos casos, embora o envolvimento seja tipicamente assimétrico e possa se iniciar em momentos diferentes nos dois joelhos (2).
Classificação
A Doença de Osgood-Schlatter pode ser classificada de acordo com os critérios de De Flaviis (3):
- Tipo 1: inchaço da cartilagem sozinho
- Tipo 2: inchaço da cartilagem e alterações ósseas
- Tipo 3: tendinite associada
- Tipo 4: bursite associada
Prognóstico
A Doença de Osgood-Schlater é frequentemente relatado como uma condição autolimitada que se resolve sem sintomas residuais em 90% dos casos (4).
Por outro lado, a prática clínica mostra que limitações funcionais e queixas residuais são mais comuns do que o habitualmente relatado.
Como referência, um estudo com quatro anos de seguimento mostrou que 60% dos pacientes experimentaram dor frequente no joelho (5). Em um estudo com seguimento médio de 9 anos, sintomas residuais na idade adulta foram relatados por 1 de cada 4 pacientes que desenvolveram a Síndrome de Osgood-Schlatter (6).
Em um estudo com dois anos de acompanhamento, 22% dos pacientes referiram ter abandonado a atividade esportiva e 29% referem ter mudado de modalidade por conta da dor (7).
O estudo acima mostra também que a probabilidade de recuperação incompleta da dor aumenta progressivamente de acordo com as fases de evolução da classificação de De Flaviis.
Tratamento
O tratamento deve seguir os mesmos princípios de outras lesões por esforço repetitivo.
A atividade esportiva, especialmente as atividades de impacto, devem ser restritas ao limite da dor.
Em alguns casos, isso pode significar um período de afastamento completo destes esportes, geralmente por 6 a 8 semanas.
Outras atividades de menor impacto, uma vez que não levem a uma piora na dor, podem ser mantidas e devem ser estimuladas.
Em outros casos, uma redução na carga de treino pode ser o suficiente.
Nos períodos de dor, o uso de gelo, tapes e joelheiras poderá ser considerado.
Uma vez que a fase pior de dor tenha sido controlada, uma avaliação musculoesquelética completa deve ser considerada. Um trabalho de fortalecimento muscular, equilíbrio e ganho de mobilidade poderá ser indicado.
Todo este tratamento serve para controlar a dor e minimizar as recidivas. Entretanto, a Doença de Osgood-Schlatter caracteristicamente se desenvolve por períodos de crise e de remissão. Assim, é comum que os sintomas retornem periodicamente.
Muitos pacientes deixam de apresentar dor após o fechamento da apófise de crescimento da Tuberosidade da Tíbia. Ainda assim, um aumento do volume da tuberosidade pode se tornar definitivo.
Tratamento cirúrgico
O tratamento cirúrgico não tem indicação no paciente jovem com a placa de crescimento ainda aberta. No entanto, ele poderá ser considerado no paciente adulto, quando o tratamento sem cirurgia não tiver sucesso e quando os exames de imagem demonstrarem um ossículo assessório não calcificado.
A remoção do ossículo, nestes casos, permite uma melhora significativa na maior parte dos pacientes (8, 9).
Imagem de ossículo acessório em paciente com Doença de Osgood-Schlatter