Doença de Hirschsprung
O que é a Doença de Hirschsprung
A Doença de Hirschsprung é uma malformação congênita caracterizada pela ausência de células ganglionares nos plexos nervosos do intestino, principalmente no cólon distal (parte final do intestino grosso).
Quando isso acontece, a musculatura desse seguimento do intestino não relaxa, resultando em constipação intestinal funcional grave desde o nascimento.
A extensão do segmento do intestino que é comprometida é variável. Em 75% dos casos, a doença fica limitada ao segmento distal do colon. Em 3 a 10% dos casos ela pode envolver todo o colon e eventualmente até mesmo o intestino delgado pode ser acometido.
A Doença de Hirschsprung acomete aproximadamente 1 bebê a cada 5.000 nascidos vivos. Ela pode acontecer em meninos ou meninas, mas é mais comum em meninos (relação de 4:1).
Entre 20% e 25% dos pacientes com doença de Hirschsprung têm outras anomalias congênitas, sendo a síndrome de Down a mais comum.
Causas
A Doença de Hirschsprung resulta de uma falha na migração das células da crista neural durante o desenvolvimento embrionário.
80% dos casos são considerados esporádicos, quando não envolve um contexto familiar. Mesmo nesses há suspeita de predisposição genética multifatorial.
Aproximadamente 50% dos pacientes têm uma alteração genética identificável, com pelo menos 12 mutações genéticas diferentes.
Em 20% dos pacientes a doença ocorre em contexto familiar, com padrão de herança variável (autossômica dominante ou recessiva, com penetrância incompleta).
Sintomas
Os sintomas variam de acordo com a extensão do segmento intestinal acometido e com a idade de apresentação:
Recém-nascidos
- Atraso na eliminação do mecônio, que é o primeiro cocô do bebê, de coloração esverdeada (>48h após o parto)
- Distensão abdominal
- Vômitos biliosos (vômito amarelado ou esverdeado)
- Risco aumentado para enterocolite, uma infecção intestinal grave e potencialmente fatal.
Infância
- Constipação crônica severa
- Abdômen distendido
- Atraso no crescimento
- Episódios recorrentes de obstrução intestinal
Diagnóstico da Doença de Hirschsprung
O diagnóstico da Doença de Hirschsprung envolve critérios clínicos, radiológicos e histopatológicos.
- Enema opaco: radiografia com contraste que mostra zona de transição entre cólon dilatado e segmento estreito por acometimento neural.
- Manometria anorretal: exame realizado com um cateter introduzido pelo ânus e que mede as pressões dos músculos do ânus e do reto. Na Doença de Hirschsprung, ele mostra ausência de reflexo inibitório retoanal.
- Biópsia retal: exame padrão-ouro para o diagnóstico da doença. Ela demonstra ausência de células ganglionares.
Tratamento da Doença de Hirschsprung
Uma vez que o diagnóstico seja confirmado por meio da biópsia,
o tratamento é feito por meio de cirurgia.
O procedimento tem como objetivo remover o segmento do intestino que não possui células nervosas (agangliônico) e reconectar o cólon saudável (com gânglios) ao ânus. Com isso, busca-se restaurar a continuidade funcional do trânsito intestinal.
O enema opaco pré operatório ajuda a determinar a extensão do segmento do intestino que está acometido e que precisa ser removido.
Diferentes técnicas podem ser utilizadas para isso:
- Swenson: remove a parte agangliônica e faz anastomose direta com o reto distal.
- Duhamel: cria um reservatório posterior com cólon saudável.
- Soave: mantém a camada muscular do reto e insere o cólon com inervação adequada dentro dela.
Dependendo do caso, a cirurgia pode ser feita por laparoscopia ou por via transanal, especialmente em recém-nascidos e casos com segmento curto acometido.
Casos graves ou que envolvam complicações como um megacólon tóxico ou enterocolite podem precisar de uma colostomia temporária para descompressão e estabilização antes da cirurgia definitiva.
Prognóstico
O prognóstico da Doença de Hirschsprung costuma ser muito bom quando o diagnóstico é precoce e o seguimento acometido do intestino não é muito extenso.
Quando o acometimento é longo ou total, há um maior risco de complicações e sequelas funcionais.
Da mesma forma, pacientes com diagnóstico tardio podem desenvolver complicações como um megacólon severo ou maior risco de enterocolite, o que pode comprometer o prognóstico.
Cerca de 70-90% dos pacientes têm função intestinal satisfatória após a cirurgia. No entanto, algumas podem evoluir com disfunção intestinal crônica, com constipação percistente ou incontinência fecal. Esses pacientes podem precisar de suporte adicional com:
- Laxativos;
- Lavagens intestinais;
- Programas de treinamento intestinal.