Diferença de idade no relacionamento

A diferença de idade no relacionamento, sem dúvidas, abre um leque de dúvidas, questionamentos e, claro, preconceitos.

As relações humanas são complexas, e a criação de padrões pode ser prejudicial para a saúde mental dos indivíduos. Por isso, quando pensamos nas diferenças de idade dentro dos relacionamentos, não podemos encará-las apenas como algo negativo ou que “atrasa” os objetivos de cada um, uma vez que generalizar isso pode ser muito injusto.,

Afinal, cada relação pode ter a sua própria dinâmica e forma de lidar com as divergências e discordâncias.

Pensando nisso, trouxemos considerações importantes sobre essa temática. Acompanhe conosco.

Pensar nos desafios da diferença de idade no relacionamento pode ser um bom ponto de partida. Dessa maneira, o casal poderá refletir sobre os “prós e contras” dessa situação, colocando, inclusive, os sentimentos na balança, pensando sempre no bem-estar e na saúde mental de ambos os envolvidos.

Vamos às considerações:

1. Medo do julgamento alheio
O medo do julgamento alheio costuma estar muito presente em relacionamentos com diferença de idade.
Infelizmente, sabemos o quanto as diferenças podem ser bastante apontadas pela sociedade. Crescemos em um ambiente social no qual as diferenças são vistas como algo “fora da curva” e que deve ser evitado.
Isto é, as diferenças são vistas como algo negativo, e se um indivíduo não se encaixa nos padrões, automaticamente ele tem algum problema que precisa ser resolvido.
Porém, obviamente que se tratando de questões psicológicas, isso não é verdade. Embora as pessoas julguem a diferença de idade e isso gere desconforto no casal, a verdade é que não existe um manual da vida emocional e amorosa que mostre que a diferença de idade no relacionamento é algo que deva ser evitado a todo custo e que, na prática, está fadado ao fracasso.
Isto é, um casal com diferença de idade pode enfrentar desafios relacionados a isso, bem como casais com diferenças de classes sociais podem enfrentar desafios relacionados a essa diferença em específico.
De todo modo, o medo do julgamento e a angústia estão presentes, mas refletir sobre o fato de não estar fazendo nada errado é importante para fortalecer a autoconfiança frente a essas situações.
Lembre-se de que todo casal tem diferenças, desacordos e “problemas” internos, podemos assim dizer.

2. Diferenças significativas nos pontos de vista
Outro desafio que pode ser vivido por casais com diferença de idade é a divergência em determinados pontos de vista.
É o caso de um desejar o casamento na igreja, enquanto outro se nega casar. Ou então, as diferenças no ponto de vista frente à compra de uma casa ou a vida em um imóvel de aluguel.
Essas e outras questões podem surgir no cotidiano do casal, demonstrando um choque de geração que, em alguns casos, pode resultar em conflitos.
Obviamente, essas diferenças de pontos de vista podem ser atravessadas com base no diálogo, respeito e paciência. Porém, em algumas circunstâncias, um dos lados, com o passar do tempo, pode sentir que a relação é inviável devido aos pensamentos completamente opostos em situações importantes.

3. Dificuldades para alinhar expectativas
Seguindo o que acabamos de expor no ponto acima, a diferença de idade no relacionamento pode ocasionar uma dificuldade para alinhar expectativas.
Enquanto um dos lados pode desejar Y, o outro lado pode desejar X, e ambos podem ter dificuldades de abrir mão dos seus desejos.
Nesses momentos, é comum que haja questionamentos sobre o relacionamento, afinal, até que ponto tantas diferenças podem auxiliar na construção de uma relação frutífera?
Contudo, novamente reiteramos que alguns relacionamentos com diferença de idade podem atravessar esses desafios com base no respeito, diálogo e compreensão.
Da mesma forma, relacionamentos com diferença de idade que resultam em um processo de separação, obviamente, não necessariamente são marcados pela falta de respeito ou imposições. Mas sim, pode ser que o término apareça quando as expectativas ficam incompatíveis demais, a ponto de cada um preferir um rumo diferente.

4. Cobrança social e pressão familiar
Sem dúvidas, além do julgamento social, como os olhares inapropriados em público, a pressão e a cobrança social e familiar podem pesar sobre a diferença de idade no relacionamento.
Especialmente no que se trata à ideia de “família”, a sociedade pode julgar o casal pressionando-o a ter filhos, por exemplo.
Porém, é fato que a diferença de idade, muitas vezes, pode atrapalhar os planos de ter ou não ter filhos. E mesmo que isso seja resolvido dentro da relação, os questionamentos constantes dos familiares podem causar desconfortos na interação do casal.
Nesses casos, saber impor limites e aprender a relevar os comentários alheios, focando no que ocorre dentro de casa, é muito importante. Se os familiares começarem a minar o relacionamento com cobranças, é possível que a relação se torne vulnerável.

5. Dificuldade para lidar com as diferenças
As diferenças das gerações podem resultar em conflitos e dificuldades na interação do casal no dia a dia.
É o caso de um jovem se relacionar com uma pessoa muito mais velha que não sabe mexer no aparelho celular, por exemplo. Essa diferença pode resultar em uma comunicação diferente, ou seja, a pessoa mais jovem não consegue se comunicar pelo celular – por mensagens de texto – com a pessoa que está se relacionando.
Esse tipo de situação pode ocasionar desconfortos e descontentamentos que, embora possam ser contornados, em alguns casos poderão servir de estopim para grandes conflitos.
Obviamente, este é apenas um exemplo simples do cotidiano. Porém, as diferenças podem perpassar diversas esferas da vida, resultando em questionamentos sobre a relação e o futuro do casal.

6. Relações sociais de ambos os envolvidos
Sem dúvidas, as diferentes gerações têm diferentes relações sociais. Isso quer dizer que uma pessoa mais velha, costumeiramente, irá frequentar locais que fazem sentido para ela, enquanto pessoas mais jovens podem preferir outros ambientes sociais.
Embora isso não seja uma regra imutável, ainda assim vemos que as relações sociais, de acordo com a nossa idade, podem mudar consideravelmente.
Pensando na diferença de idade no relacionamento, essas relações sociais distintas podem ser um problema em alguns casos.
Por exemplo, é o caso de um dos dois não querer frequentar determinados eventos que o outro deseja, e vice-versa.
Esse tipo de incompatibilidade pode resultar em conflitos e, em alguns casos, afastamentos dentro da relação.

7. Maturidade e modo de vida
A maturação emocional e psíquica vai sendo adquirida com o passar dos anos. Embora uma pessoa acima de 18 anos já tenha maturidade para determinadas situações, ainda assim o seu cérebro está se desenvolvendo.
Inclusive, estima-se que o cérebro do ser humano cresce e se desenvolve até completarmos cerca de 30 anos de vida.
Isso quer dizer que, até lá, nossos pontos de vista e a nossa maturidade frente às situações podem mudar consideravelmente.
Consequentemente, a diferença de idade no relacionamento pode criar o impasse de haver muita diferença no quesito maturidade. Pode ser que o modo de vida da pessoa mais velha não condiga com as expectativas da pessoa mais jovem, e vice-versa.
Isso pode resultar na falta de concordância entre as partes, além de causar conflitos e frustrações.
Apesar de ser uma situação que pode ser dialogada e desenvolvida em prol do relacionamento, os choques de cultura e a falta de maturidade cerebral, em muitos casos, podem tornar o relacionamento um pouco mais difícil.

8. Problemas relacionados com a fertilidade e o desejo de ter filhos
O desejo de ter filhos também pode ser um dos grandes desafios nos casos de diferença de idade no relacionamento.
Por exemplo, se uma mulher mais jovem se relaciona com um homem mais velho, ela pode desejar ter filhos e ele não – seja porque já tem, ou porque não quer ter um filho na idade que possui atualmente.
Em outro caso, uma mulher mais velha pode não ter mais a possibilidade de engravidar, e o parceiro mais jovem pode lamentar a impossibilidade de conceber um filho biológico.
Outra premissa que podemos considerar é, ainda, o fato de as pessoas julgarem pessoas muito mais velhas que têm filhos pequenos, uma vez que, pensando na natureza humana, estima-se que essas pessoas deixarão os seus filhos órfãos mais cedo. Aqui, novamente o julgamento alheio pode pesar sobre a relação.
Assim sendo, a questão de ter ou não ter filhos pode ser bem marcante, tanto dentro da relação, quanto de acordo com o que acontece fora dela, nos julgamentos sociais.
Manter uma postura resiliente, refletir sobre os caminhos que podem ser seguidos e outras considerações, nesses casos, são importantes.

As relações humanas são complexas, e isso é fato. Infelizmente, ou felizmente, não existe passo a passo ou manual de instruções que seja capaz de nos apontar o caminho mais feliz e perfeito.

Devemos ir testando, comunicando-se com o outro, ajustando a rota, traçando novos planos e pensando em formas de lidar com as adversidades para que possamos viver bem a nossa trajetória nesta vida.

Isso quer dizer que apesar de haver algumas orientações e direcionamentos interessantes, não existe fórmula mágica na hora de lidar com os desafios da diferença de idade no relacionamento.

Contudo, algumas ações podem servir de reflexão no dia a dia. Veja abaixo:

1. Diálogo e comunicação no relacionamento
O diálogo e a comunicação no relacionamento têm um papel muito importante na construção do “contrato conjugal”, da confiança e do relacionamento saudável.
Por meio da conversa franca, não-violenta e respeitosa, é possível falar sobre as insatisfações, fatores positivos e negativos, e realinhar o que é necessário frente ao futuro do casal.
Sem diálogo, ambos podem apenas “imaginar” o que o outro pensa, baseando-se em achismos, ao invés de colocar as situações sobre a mesa e ponderar sobre as possibilidades que ambos podem viver em conjunto.
Portanto, criar uma atmosfera mais pacífica para que ocorram as conversas claras e recorrentes pode ser bem positivo na hora de lidar com a diferença de idade no relacionamento.

2. O sentimento realmente existe?
Refletir sobre o sentimento dentro do relacionamento também é importante. Isto é, devemos ponderar sobre a existência real do amor no seio da relação, tendo em vista que muitos relacionamentos podem estar associados com uma visão mais cômoda do que efetivamente amorosa.
Isso não quer dizer que o seu relacionamento não tenha amor, mas pensar sobre os sentimentos de ambos e analisar se estes estão sendo nutridos para a construção de uma relação positiva são atitudes importantes.
Às vezes, a idealização e a aventura de namorar alguém mais velho ou mais novo pode resultar em uma confusão quando pensamos nos sentimentos. Por isso, passado o período da paixão, é interessante analisar e escutar o que se sente, visando solidificar ou findar a relação com base em sentimentos realmente existentes.

3. Alinhamento de expectativas e objetivos
Conversar sobre os objetivos de vida e as expectativas frente às diversas situações vividas dentro de um relacionamento amoroso também é importante.
Antes de simplesmente imaginar o que o outro espera de determinada área da vida, converse com ele. Essas conversas podem trazer à luz pontos importantes que servirão de fortalecimento para a relação, seja com base na convergência de ideias ou na divergência e criação de acordos que considerem os dois pontos de vista de alguma forma.
Não deixem o tempo passar apenas para “ver o que vai dar”. As conversas sobre sonhos, objetivos e passos que são importantes na vida precisam acontecer, caso o intuito seja construir uma relação de longa data.

4. Considerem as diferenças como forma de aprender um com o outro
Ao invés de enxergarem as diferenças apenas como algo que repele, que tal mudar a perspectiva e ver isso como uma oportunidade de aprender coisas novas?
Por exemplo, se o seu parceiro tem uma visão sobre a vida financeira, e você outra, que tal sentar e conversar sobre essas diferenças, aprendendo um pouco mais sobre a visão do outro?
Esses conhecimentos divergentes podem ser compartilhados, criando um desenvolvimento pessoal mútuo que nutre a relação e a vida pessoal de cada um dos envolvidos.
Afinal, se fôssemos nos relacionar com pessoas que são uma “verdadeira cópia” de nós, como iríamos aprender, crescer e se desenvolver dentro de um relacionamento amoroso?
Por isso, considere usar as diferenças como estopim para ir adiante, crescendo e desenvolvendo a relação e a si mesmo.

5. Respeito aos limites do parceiro
Da mesma forma que podemos aprender com as diferenças alheias, ao mesmo tempo em que ensinamos o outro com base nas nossas perspectivas, também precisamos respeitar os limites do outro.
Para algumas gerações, determinadas mudanças e pontos de vista podem ser mais difíceis de assimilar, e nenhum dos lados pode tentar impor a sua verdade sobre o parceiro.
Por isso, o diálogo respeitoso deve sempre acontecer, sem haver uma imposição dentro do relacionamento.
Os combinados que acontecem devem considerar os pontos de vista de ambos os lados, e não a visão de apenas um dos dois. Esse respeito aos limites é crucial para não expor ninguém a situações que possam prejudicá-lo ou feri-lo.

6. Terapia de casal
Se algumas considerações tornarem o relacionamento muito conflituoso, devido à diferença de idade, o casal também pode recorrer a terapia.
A terapia de casal visa auxiliar na compreensão dos conflitos, abrindo caminhos para novas possibilidades para o casal.
Além disso, o autoconhecimento e a comunicação são trabalhados nas sessões, visando uma maior harmonia do casal.
Considerem essa possibilidade na hora de descobrir mais sobre a relação e sobre as perspectivas frente ao futuro.

Na prática, não existe. Se dois adultos formados decidem se relacionar, mesmo diante da diferença de idade, não há nada que os impeça.

Contudo, como vimos no decorrer deste conteúdo, é possível que haja situações nas quais seja preciso lidar com uma série de desafios, como listamos.

Porém, se pensarmos sob a ótica dos relacionamentos humanos de maneira geral, perceberemos que todas as dinâmicas apresentam prós, contras, desafios, facilidades, etc.

Por exemplo, um casal com poder aquisitivo diferente pode enfrentar desafios e facilidades por conta disso. Um casal com diferença de idade no relacionamento também. Assim como um casal no qual um dos dois têm filho de outro relacionamento.

Sendo assim, fica evidente que não existe um certo ou errado. O que funciona é o que está adequado ao casal, respeitando os limites e o bem-estar de cada um. Se ninguém sofre e/ou é agredido, não há porque considerar o relacionamento ruim.

Pense nisso!

Referências
BISHOP, K. O tabu dos relacionamentos entre pessoas com grandes diferenças de idade. BBC News, 2022. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/curiosidades-60933134. Acesso em 24 out. 2022.

BEREZA, E.A.; MARTINS, J.P.; MORESCO, L.; ZANONI, S.H.M.S. A influência da comunicação no relacionamento conjugal. Arq. Ciênc. Saúde Unipar, Umuarama, 9(1), jan./abr. p.31-0, 2005.