Dermatite Atópica
O que é dermatite atópica?
A dermatite atópica é uma doença na qual a pele fica muito seca, com inflamação, sensação de coceira e vermelhidão.
O prurido é o sintoma mais característico da Dermatite Atópica, sendo que 41,5% dos pacientes relataram coceira por mais de 18 horas por dia (1). Em alguns casos, ele se torna incontrolável, dificultando o sono e as atividades do cotidiano.
O curso da doença se desenvolve em surtos, com exacerbações e remissões recorrentes. Em muitos casos, as exacerbações ocorrem sem causa aparente.
A Dermatite Atópica acomete entre 20% das crianças e entre 3% dos adultos (2). Sua causa é desconhecida.
Embora possa acometer pessoas de todas as raças e idades, ela geralmente se inicia na infância:
- 45% dos casos surgem durante os primeiros 6 meses de vida;
- 60% surgem durante o primeiro ano;
- 85% dos casos surgem antes dos 5 anos.
75% das crianças com Dermatite Atópica apresentam remissão da doença entre os 10 e os 14 anos. Já os outros 25% persistir com a doença na adolescência e n adulto jovem.
A Dermatite Atópica é responsável por 1% das consultas em pediatria e 20% das consultas dermatológicas na criança (3).
Como são as lesões da dermatite atópica?
As lesões da Dermatite Atópica são mais comuns nas dobras dos braços e na parte de trás dos joelhos.
As características das lesões podem variar bastante.
Habitualmente, o paciente apresenta uma lesão crônica e persistente, com períodos de agudização nos quais há uma piora das lesões.
Na fase aguda, as lesões são avermelhadas. Além disso, elas podem incluir:
- Formação de crostas;
- Exudato (saída de secreção);
- Presença de Bolhas / vesículas.
Com o tempo, a dermatite torna-se crônica e a pele fica menos vermelha, mas espessada e mais escamosa. Podem também aparecer fissuras na pele.
Fatores de risco
A Dermatite Atópica é mais comum em pessoas com histórico familiar da doença.
Além disso, ela é mais comum em pessoas com outras formas de doenças alérgicas, incluindo:
- Febre do feno;
- Asma;
- Alergias alimentares.
- Rinite Alérgica
Dermatite atópica infantil
Ao nascimento, a dermatite atópica pode apresentar-se como uma descamação e vermelhidão em áreas da face, como sobrancelhas, cantos do nariz, couro cabeludo, orelhas e tórax.
As dobras das axilas e virilhas podem ser acometidas e a pele se mostra mais seca e áspera.
A dermatite não está necessariamente confinada a esses locais e pode ser mais extensa.
À medida que as crianças crescem e se desenvolvem, a distribuição das lesões pode se alterar.
Com o engatinhar, a face extensora dos cotovelos, punhos, joelhos e tornozelos são afetados.
Quando começam a caminhar, as lesões se tornam mais comuns nas dobras flexoras do cotovelo e joelho.
Durante os anos escolares, a dermatite atópica geralmente melhora. Entretanto, a pele nunca se torna completamente normal.
Dermatite atópica do adulto
Habitualmente, a Dermatite Atópica do adulto se refere à continuidade da Dermatite Atópica que se desenvolve na infância. Mas, excepcionalmente, ela pode se desenvolver pela primeira vez já na idade adulta.
Em alguns casos, a Dermatite pode continuar confinada às superfícies flexoras do cotovelo e joelho. Em outros, podem se tornar difusas, acometendo todo o corpo.
Especialmente nas mulheres, o envolvimento dos mamilos e aréolas pode ser problemático.
Qual é o prognóstico da dermatite atópica?
É impossível prever se a dermatite atópica irá melhorar por si só ou não em um indivíduo.
75% das crianças com DA irão apresentar melhora entre os 10 e os 14 anos, mas 25% podem persistir com a doença na adolescência.
Uma meta-análise incluindo mais de 110.000 indivíduos encontrou que 20% das crianças com dermatite atópica persistiam com a doença 8 anos depois e que menos de 5% persistia com a doença 20 anos depois (2).
Crianças que desenvolveram dermatite atópica antes dos 2 anos de idade tiveram um risco menor de doença persistente do que aquelas que desenvolveram dermatite atópica mais tarde na infância ou adolescência.
Diagnóstico
Não existe nenhum exame específico capaz de diagnosticar definitivamente a Dermatite Atópica.
O diagnóstico é clínico e feito pelo dermatologista através da análise da lesão e da história clínica.
Em casos excepcionais, pode ser realizado uma biópsia de pele.
Diagnóstico diferencial
A lista de diagnósticos diferenciais da dermatite atópica é longa.
Entre eles, incluem-se:
Dermatite seborreica
A Dermatite seborreica é mais comum no couro cabeludo e face, enquanto a dermatite atópica é mais comum atrás dos joelhos e cotovelos.
Psoríase
A psoríase tem características muito parecidas com a Dermatite Atópica, de forma que o diagnóstico diferencial deve ser feito pelo Médico Dermatologista.
A pele, além de coçar, também provoca uma sensação de queimação, o que não é comum com a Dermatite Atópica.
Além disso, as manchas avermelhadas na psoríase têm uma delimitação mais nítida que as da dermatite.
Tratamento
O tratamento da Dermatite Atópica é baseado em três pilares: hidratação, redução do prurido e manejo da inflamação.
Medidas comportamentais, envolvendo cuidados com o banho, vestimentas e outros gatilhos são fundamentais para todos estes objetivos.
Medidas comportamentais
Sempre que possível, o paciente com Dermatite Atópica deve evitar gatilhos que provoquem a inflamação da pele.
Isso pode incluir, entre outras coisas:
- Certos tipos de tecidos;
- Produtos químicos, incluindo produtos de limpeza domésticos e produtos de higiene pessoal;
- Umidade excessiva;
- Secura excessiva;
- Tabagismo e exposição à fumaça de cigarro;
- Atividades físicas que provoquem transpiração excessiva.
Cuidados com o banho
Banhos quentes devem ser totalmente evitados. O banho deve ser rápido (máximo de 10 minutos), feito com água fria ou morna.
Isso porque a água quente resseca ainda mais a pele. Além disso, o óleo natural da pele é removido com a água quente, comprometendo com isso a barreira protetora da pele.
O sabonetes deve ser líquido, com ph fisiológico, entre 5 e 5,5 e sem corantes ou perfumes. O xampú deve ser suave e sem perfumes.
Não se deve usar esponjas ou similares.
Após o banho, a pele deve ser seca de forma suave, sem esfregar a toalha.
O hidratante deve ser aplicado em até três minutos após o banho.
Cuidados com a vestimenta
O paciente com Dermatite Atópica deve usar roupas leves, de algodão.
Tecidos sintéticos e outros que ficam muito presas ao corpo podem irritar a pele.
As etiquetas devem ser retiradas.
As roupas devem ser lavadas com sabão líquido neutro, sem branqueadores.
Amaciantes suaves sem corantes e dermatologicamente testados podem ser utilizados.
Atividade Física
Assim como para qualquer pessoa, a prática regular de atividades físicas é benéfica para a saúde e deve ser estimulada. Entretanto, é preciso ter atenção com alguns cuidados.
A escolha da vestimenta, conforme discutido acima, é importante também durante o exercício.
Atividades que desencadeiem sudorese excessiva devem ser evitadas, já que o suor causa prurido e irritação. Deve-se dar preferência por se exercitar em um horário do dia em que esteja mais fresco ou, se preferir uma atividade mais intensa, fazê-la em locais que tenham ar condicionado, arejados ou ao livre.
Também não existem contraindicações para as atividades aquáticas.
O cloro da piscina tem efeito bactericida, o que pode ser benéfico, uma vez que a colonização da pele do paciente com Dermatite Atópica com bactérias é comum. A água salgada também pode ajudar na cicatrização das lesões.
As piscinas aquecidas, por outro lado, não são indicadas. A água quente promove a remoção da gordura, que é a principal fonte de hidratação da pele. A pele fica mais seca, que é justamente um dos principais sintomas da dermatite atópica.
A hidratação por meio da ingestão de água é recomendada da mesma forma que para qualquer outra pessoa que realize atividade física.
Hidratação
Os hidratantes devem ser usados diariamente, seja na fase crônica ou na fase de exacerbação da doença. Em alguns casos, a hidratação deve ser feita mais de uma vez por dia.
A pele desidratada e seca aumenta a coceira e leva a uma maior irritação da pele, agravando o quadro da doença.
Tratamento do prurido (coceira)
O prurido é o sintoma mais marcante da Dermatite atópica. Em alguns casos, ele pode se tornar incontrolável, dificultando o sono e as atividades diárias.
Existem diferentes tipos de anti-histamínicos. Alguns deles apresentam efeito sedativo, outros não.
Os anti-histamínicos sedativos devem ser priorizados no período noturno. O sono do paciente com Dermatite Atópica costuma ser prejudicado especialmente devido ao prurido intenso, o que pode afetar consideravelmente a qualidade de vida.
Durante o dia, os anti-histamínicos não sedativos devem ser priorizados.
Tratamento da inflamação
Os medicamentos corticoesteroides são a base do tratamento das crises, em associação com a hidratação. Os Antissépticos podem ser considerados tanto para o tratamento como para a prevenção de infecções.
Corticoides
Medicamentos corticoesteroides com base oleosa (pomadas) devem ser preferidas na fase crônica. Já os cremes na fase aguda exsudativa.
A potência depende da gravidade e da localização das lesões:
- Os de baixa potência, como a hidrocortisona 1%, são habitualmente indicados para uso na face, dobras e em crianças, na área coberta pelas fraldas.
- Os de potência média, como a betametasona ou a triamcinolona são usadas nas lesões de tronco, de uma a duas vezes ao dia. Eles devem ser suspensos uma vez que ocorra o clareamento das lesões.
- Corticoides orais poderão ser considerados nos casos mais graves.
Antissépticos
É comum que pacientes com dermatite atópica desenvolvam infecções de pele.
Dependendo do aspecto das lesões, os antissépticos devem ser considerados.
Eles podem ser usados tanto para o tratamento como para a prevenção da infecção de pele.
Imunoterapia
Nos casos moderados ou intensos e persistentes de dermatite atópica, a chamada imunoterapia é um tratamento que vem se mostrando muito eficaz.
Trata-se de um tratamento realizado com o objetivo de reduzir a sensibilidade do paciente aos alérgenos associados à Dermatite Atópica.
As vacinas anti-alérgicas são tradicionalmente utilizadas no tratamento de diferentes doenças de origem alérgica ou auto-imune, incluindo alergias respiratórias como asma, rinite e conjuntivite alérgica. Entretanto, estudos recentes mostram uma ótima eficácia desse tratamento para alguns pacientes com dermatite atópica grave.