Pesquisar

Cuidados Médicos no Terceiro Trimestre da Gestação

Avaliação obstétrica

O terceiro trimestre da gestação abrange o período entre a 28ª e a 40ª semana, sendo uma fase de preparação final para o parto.

A saúde materna e fetal deve ser acompanhada de perto e a mãe deve ter cuidado redobrado com os sinais de alerta para procurar atendimento, seja por conta de eventuais complicações ou por conta do trabalho de parto.

Entre a 28ª à 36ª semana, as consultas devem ser feitas a cada 2 semanas. Após a 36ª semana, as consultas devem ser semanais. Essa frequência pode ser ajustada se houver fatores de risco que exijam um acompanhamento mais precoce, como diabetes, hipertensão ou gestação múltipla.

Nessas consultas, devem ser avaliados parâmetros relacionados à saúde materna, saúde do feto e sinais de eventuais complicações, incluindo:

  • Pressão arterial materna
  • Peso e avaliação de ganho ponderal
  • Altura uterina e crescimento fetal
  • Batimentos cardíacos fetais
  • Movimentos fetais (a partir da percepção materna)
  • Presença de edemas (inchaço)
  • Sinais de parto prematuro
  • Avaliação de contrações uterinas

A Consulta será também um momento para se discutir sobre o trabalho de parto e o parto em sí, incluindo a via de parto (vaginal ou cesárea).

Sintomas do 3º Trimestre (27 semanas até o parto)

Sintoma Incidência Estimada Causa Principal Tratamento/Orientações
Desconforto físico e cansaço > 90% Crescimento fetal, sobrecarga postural, alterações metabólicas Repouso adequado, exercícios leves, fisioterapia
Inchaço (edema) 60–80% Retenção de líquidos, compressão venosa pela gravidade uterina Elevar as pernas, hidratação, evitar longos períodos em pé, meias compressivas
Dificuldade para dormir 60–70% Ansiedade, desconforto postural, micções frequentes Boa higiene do sono, travesseiros de apoio, técnicas de relaxamento
Contrações de Braxton Hicks 70–90% Preparação uterina para o parto Reposição hídrica, repouso; observar regularidade para diferenciar do trabalho de parto
Dor lombar e pélvica 50–70% Alteração do centro de gravidade, relaxamento ligamentar Exercícios específicos, suporte postural, calor local
Falta de ar 60–80% Compressão do diafragma pelo útero aumentado Postura ereta, pausas frequentes, evitar esforço físico intenso
Secreção vaginal aumentada 70–90% Hiperestrogenismo, preparação do canal de parto Higiene íntima adequada, roupas leves, avaliar sinais de infecção
Colostro nas mamas 30–50% Ativação das glândulas mamárias Normal; utilizar absorventes de seio se necessário

Exames para o terceiro trimestre

A gestante de terceiro trimestre deve realizar exames para acompanhar a saúde tanto dela como do feto, bem como exames para identificar condições que possam precisar de intervenções durante o parto. Isso inclui:

·      Teste oral de tolerância à glicose (TOTG) (se não realizado antes).
·      Hemograma completo.
·      Tipagem sanguínea e Coombs indireto (em gestantes Rh-).
·      Sorologias de repetição (HIV, sífilis, hepatites B e C).
·      Urocultura (repetição).
·      Ultrassonografia obstétrica (terceiro trimestre).
·      Pesquisa do Streptococcus do grupo B (Swab vaginal e retal).

Ultrassom morfológico do terceiro trimestre

O ultrassom morfológico do terceiro trimestre é realizado geralmente entre 32 e 36 semanas de gestação. Embora menos detalhado que o do segundo trimestre em relação à anatomia, ele é fundamental para avaliar o crescimento fetal, a vitalidade, a posição do bebê e o ambiente intrauterino.

Posição Fetal

A posição fetal refere-se à maneira como o bebê está posicionado dentro do útero. Embora ela possa mudar até o final da gestação, a probabilidade de isso acontecer diminui com o avanço da idade gestacional, pois o bebê cresce e o espaço no útero se reduz. A probabilidade de mudança na posição fetal após 32 semanas de gestação é reduzida.

95% dos bebês estão em apresentação cefálica com posição occipitoanterior (OA). Isso significa que a cabeça do bebê está voltada para baixo e a nuca voltada para frente (em direção à barriga da mãe). Essa é a posição mais favorável para o parto vaginal espontâneo

A segunda posição mais comum, presente em 5% a 10% dos casos, é a Cefálica occipitoposterior. O bebê encontra-se com a cabeça para baixo e a nuca para a trás.

O trabalho de parto tende a ser mais demorado e é mais provável a necessidade de parto cesárea.

A posição pélvica, com as nádegas para baixo, ocorre em 3% a 4% dos casos. Ela pode dificultar ou contraindicar o parto vaginal, por diferentes motivos:

  • A cabeça, que é a parte mais larga, sai por último, podendo ficar presa no canal de parto.
  • Risco de prolapso do cordão umbilical: o cordão pode descer antes do bebê e ser comprimido, reduzindo oxigenação.
  • Maior probabilidade de intervenções obstétricas, como o fórceps ou a episiotomia, levando a risco de traumas de parto, como fraturas, deslocamento de membros, ou lesões de plexo braquial.
  • Maior risco de sofrimento fetal por demora na expulsão da cabeça, podendo levar a hipóxia perinatal.

Por fim, a posição menos comum é a transversa, com menos de 1% dos casos. O bebê fica deitado de lado (ombro sobre o canal de parto). O parto vaginal é impossível; exigindo cesariana.

Volume do líquido Aminiótico

O volume de líquido amniótico no final da gestação é um indicador importante da saúde fetal e placentária.

A avaliação é feita principalmente por ultrassonografia, por meio do Índice de Líquido Amniótico (ILA), o qual mede a soma dos maiores bolsões de líquido nos quatro quadrantes do útero.

oligoâmnio

As gestantes são classificadas como oligoâmnias quando apresentam baixa quantidade de líquido amniótico.

Na gestante pós termo, a função placentária pode começar a declinar, afetando a produção de líquido fetal.

Outros fatores que podem levar a uma gestação oligoâmnia incluem:

  • Rotura prematura das membranas;
  • Restrição de crescimento intrauterino (RCIU);
  • Malformações renais fetais.

Além de ser um indicativo fetal, o oligoâmnio pode levar a complicações como a compressão do cordão umbilical ou a deformidades fetais (em casos severos e precoces).

A decisão de quando realizar o parto depende da causa do oligoidrâmnio, da idade gestacional e do estado de saúde da mãe e do bebê. Quando outros sinais de sofrimento fetal estão presentes ou quando a idade gestacional está mais avançada, o parto deve ser considerado.

Polidrâmnio

O polidrâmnio é uma condição na gestação caracterizada pelo excesso de líquido amniótico no útero.

Ele pode estar associado a diabetes gestacional, diabetes materna pré-existente, a malformações congênitas, síndromes genéticas ou infecções congênitas. Em até 605 dos casos leves, nenhuma causa é identificada.

A maior parte dos casos leves podem ser apenas acompanhados, enquanto os casos mais graves exigem um acompanhamento mais rigoroso e podem precisar de adiantamento do parto.

Sorologias

A gestante de terceiro trimestre deve repetir sorologias importantes para identificar eventuais doenças infecciosas que possam ser transmitidas através do canal de parto, como HIV, sífilis e hepatites B e C. Cuidados específicos devem ser adotados uma vez que se identifique cada uma dessas infecções, para evitar a contaminação do bebê durante o parto.

Da mesma forma, a mulher deve realizar a pesquisa de bactérias Streptococcus do grupo B. Isso pode ser feito por meio de Swab vaginal e retal.

Sinais de Trabalho de Parto

O trabalho de parto é um processo fisiológico que indica que o bebê está pronto para nascer. Ele pode começar de forma sutil e evoluir com o tempo. Os principais sinais incluem:

  1. Contrações regulares e dolorosas: no início, as contrações são leves e com intervalos longos. Aos poucos evoluem para intervalos menores, mais intensas e duradouras. Essas contrações não aliviam com repouso ou banho morno.
  2. Perda do tampão mucoso: Saída de um muco espesso, esbranquiçado ou com sangue pela vagina. Esse não é um sinal isolado para ir à maternidade, mas indica que o corpo está “se preparando”, podendo acontecer dias antes do parto.
  3. Rotura da bolsa amniótica (bolsa rota): Sensação de perda de líquido vaginal. A perda pode ser em grande quantidade ou em gotejamento. O líquido é claro, sem cheiro forte — se for esverdeado ou com sangue, avise imediatamente seu médico.
  4. Dor lombar intensa: Dor nas costas, especialmente na lombar, que pode irradiar para a pelve e coxas. A dor costuma acompanhar as contrações.

Quando ir à maternidade?

A gestante deve ir à maternidade ou acionar o médico na presença de sinais de trabalho de parto ou na presença de sinais e sintomas que possam estar associados a eventuais complicações, incluindo:

  • Contrações regulares, a cada 5 minutos (em primíparas) ou a cada 10 minutos (em multíparas), por pelo menos 1 hora. Essas contrações são cada vez mais fortes, mesmo com repouso.
  • Rompimento da bolsa: Sempre que houver perda de líquido pela vagina, mesmo que não haja dor. Especial atenção se o líquido for verde ou com sangue.
  • Sangramento vaginal semelhante a menstruação.
  • Ausência ou redução acentuada dos movimentos do bebê.
  • Dor abdominal intensa que não melhora.
  • Dor de cabeça forte, visão turva, inchaço súbito (possíveis sinais de pré-eclâmpsia).

Considerando que tudo pode acontecer rapidamente, a gestante deve estar sempre de prontidão. Deve ter uma mala preparada com aquilo que será levado ao hospital, deve ter um familiar “de prontidão”para ajuda-la nesse momento e deve ter fácil acesso para os serviços médicos.