Pesquisar

Corrida de rua na Infância e na Adolescência

Treinamento de corrida na infância

A corrida de rua é um dos esportes mais praticados no mundo, devido aos inúmeros benefícios para a saúde e à facilidade de acesso. Crianças e adolescentes não estão fora disso.

De acordo com um estudo de 2012 com jovens de 12 a 15 anos nos Estados Unidos, a corrida era a segunda atividade mais comum entre os meninos (33,5%), atrás do basquete e a atividade mais comum entre as meninas (34,9%) (1).

Alguns pais buscam introduzir o filho ao mundo da corrida com o objetivo de tirá-las da frente dos Ipads e Xboxes. Eventualmente, podem estar preocupados com questões de saúde e especialmente com a obesidade infantil.

Em outros casos, elas podem ser estimuladas por pais ou colegas a participarem de corridas organizadas, com finalidade competitiva. Em alguns casos, vão muito além das provas lúdicas voltadas para o público infantil ou mesmo das corridas de 5K – estão completando maratonas e triatlos na distância olímpica.

Independentemente de qual a motivação da criança para a corrida, alguns cuidados devem ser considerados para otimizar os potenciais benefícios do esporte e ao mesmo tempo minimizar o risco de lesões.

Risco de lesões

As crianças e adolescentes estão vulneráveis aos mesmos fatores de risco de corredores adultos, além de outros que são característicos de alguém com esqueleto ainda em crescimento e desenvolvimento:

  • As crianças ainda estão aprendendo como moverem seus corpos. A mecânica da corrida e a capacidade para absorção do impacto tende a ser pior quando comparado com os adultos, gerando sobrecarga;
  • As crianças têm as pernas mais curtas em relação ao tamanho do corpo, o que contribui para a menor capacidade de absorção do impacto.
  • O osso infantil apresenta uma área formada por cartilagem e que permite o crescimento, que é a cartilagem fisária. Essa é uma área de maior fragilidade do osso e maior vulnerabilidade para lesões.
  • O crescimento dos diferentes tecidos do corpo não acontece todo ao mesmo tempo e na mesma velocidade. Desequilíbrios entre o crescimento ósseo e o crescimento de músculos e tendões podem favorecer o desenvolvimento de lesões por sobrecarga.
  • a prática de corrida de rua exige um alto poder de concentração, de forma a economizar energia e manter a qualidade técnica da corrida. A criança não terá maturidade mental para isso até que passe pela puberdade.

Entre as lesões típicas de corredores infantis, destacam-se as apofisites.

São lesões por esforço repetitivo que acometem as apófises, que são centros de ossificação secundários presentes em esqueletos imaturos no ponto onde um tendão se fixa ao osso.

A tuberosidade da tíbia, na parte da frente do joelho, é o local mais comum das apofisites. Nesses casos, ela é denominada de Doença de Osgood-Schlatter.

Outras áreas comuns de apofisite no corredor jovem incluem a pélvis (tuberosidade isquiática, espinha ilíaca ântero-superior e ântero-inferior), a patela (lesão de Sinding-Larsen-Johansson), o calcanhar (doença de Sever) e o quinto metatarso (doença de Iselin).

Quando a corrida é segura?

Muitos pais ou até mesmo profissionais da saúde têm restrições com a participação de crianças na corrida de rua devido ao risco de lesões, especialmente as lesões por overusing.

Ainda que seja uma preocupação pertinente, quando a atividade é bem conduzida os potenciais benefícios superam os riscos eventuais.

A corrida é parte fundamental de muitos outros esportes, como o futebol. Dessa forma, não faz sentido, por exemplo, a prática da corrida de rua para crianças e liberá-la para o futebol.

Toda criança deve ser encorajada a praticar corrida de forma lúdica e divertida ou mesmo a competir em provas adequadas para a faixa etária.

Ainda que não existam diretrizes bem estabelecidas no meio médico ou da educação física de qual o limite seguro para a prática de corrida de rua na infância, é importante que a ênfase seja mais na participação e nas habilidades técnicas da corrida, ao invés da busca por tempo e por resultados competitivos.

Para as provas de longa distância, o bom senso sugere que se aguarde até os estágios iniciais da puberdade, por volta de 11 a 13 anos de idade.

Limitar a quilometragem semanal em 50 a 60 quilómetros por semana é uma recomendação razoável para a maioria dos corredores adolescentes.

Corredores de elite em idade escolar podem treinar com quilometragem maior sob a supervisão apropriada de um treinador ou instrutor. No entanto, é preciso ter ciência de que o risco de lesões aumenta nesses casos.

Como deve ser o treino de corrida na infância e na adolescência?

O treino de corrida na infância e na adolescência deve ser compatível com a fase de desenvolvimento em que elas se encontram. Ele não deve se resumir a uma versão reduzida do treinamento dos adultos.

O Conselho de Medicina Esportiva e Fitness da Academia Americana de Pediatria (AAPCSMF) publicou diretrizes de como evitar lesões por uso excessivo ou o burnout em todos os esportes juvenis.

Ela recomenda limitar uma atividade esportiva específica (no caso, a corrida) a um máximo de 5 dias por semana com pelo menos 1 dia de folga após qualquer atividade física organizada. Além disso, os atletas devem tirar pelo menos 2 a 3 meses de folga da corrida ao longo de um ano (1).

Independentemente de qual a meta de volume e intensidade nos treinos, a progressão deve ser feita sempre de forma lenta, com aumento de não mais do que 10% a cada semana.

À medida em que a criança cresce e o esporte se torna mais competitivo, outros cuidados como a periodização dos treinos devem ser considerados, da mesma forma como discutido no artigo sobre a corrida de rua para adultos

Eventos competitivos

A participação em vários eventos competitivos no mesmo dia ou em dias consecutivos cria uma alta proporção de carga de trabalho para tempo de recuperação, aumentando o risco de lesões.

Independente de qual a carga de treino, é preciso que os pais e os treinadores conheçam os sinais iniciais das lesões por esforço repetitivo. Nesses casos, o treino deve ser restrito até uma avaliação especializada, já que a insistência nos treinos pode levar ao agravamento das lesões.

Acredita-se que a falta de tempo de recuperação seja um dos principais fatores que resultam em lesões nos corredores pediátricos. Ao se incentivar pausas regulares nas atividades, o risco de lesões por esforços repetitivos diminui.

Treinamento de força

O corredor infantil ou adolescente deve ter cuidado também com a preparação física e o treinamento de força.

Os diferentes tecidos do corpo não crescem todos ao mesmo tempo e no mesmo ritmo. Por conta disso, desequilíbrios físicos e funcionais são comuns nessa fase da vida.

Esses desequilíbrios aumentam significativamente o risco de lesões. Assim, a realização de um trabalho paralelo com foco em melhora da força e do equilíbrio muscular deve fazer parte do treinamento de qualquer corredor.

Independentemente dos efeitos preventivos, atividades de fortalecimento são recomendadas 3 vezes por semana para todas as crianças saudáveis, incluindo os corredores (1).