Coração do Atleta
O que é o Coração do Atleta?
O coração de atleta é uma denominação que engloba um conjunto de mudanças estruturais e funcionais que ocorrem no coração de pessoas que treinam por mais do que uma hora na maioria dos dias da semana.
Essas alterações são consideradas fisiológicas, decorrentes da adaptação do coração por conta do esforço excessivo e recorrente.
Embora essas adaptações não prejudiquem o funcionamento do coração e não estejam associadas a quaisquer complicações cardíacas, a diferenciação com certas doenças cardíacas potencialmente perigosas pode ser difícil em alguns casos.
Quais as alterações características do Coração do Atleta?
Entre os achados mais comuns do coração do atleta incluem-se:
- Hipertrofia do Ventrículo Esquerdo;
- Bradicardia sinusal (frequência cardíaca baixa);
- Bloqueio atrioventricular;
- Bloqueio de ramo direito incompleto;
- Extrasístoles.
Hipertrofia do Ventrículo Esquerdo
O volume e a pressão do sangue no ventrículo esquerdo do coração aumentam durante o treinamento, gerando uma sobrecarga da musculatura cardíaca.
Por sua vez, essa sobrecarga quando prolongada leva a um aumento da massa muscular, da espessura da parede e do tamanho da câmara do ventrículo esquerdo, o que se denomina de hipertrofia do ventrículo esquerdo.
Ainda que a espessura da parede cardíaca fique aumentada, esse músculo é saudável. No entanto, é preciso fazer a diferenciação com a Cardiomiopatia Hipertrófica.
A Cardiomiopatia Hipertrófica é uma doença de origem genética e que pode estar presente tanto no atleta como em pessoas sedentárias. Nesses casos, é fundamental o afastamento das atividades físicas competitivas ou em alta intensidade, devido ao risco aumentado de eventos cardíacos graves, incluindo a morte súbita.
Em alguns casos, a diferenciação entre a hipertrofia cardíaca fisiológica e a cardiomiopatia hipertrófica pode ser bastante desafiadora. Discutimos em detalhes como fazer essa diferenciação no artigo sobre a Cardiomiopatia Hipertrófica.
Bradicardia sinusal (frequência cardíaca baixa)
As adaptações cardíacas frente ao exercício intenso fazem com que o atleta seja capaz de bombear uma quantidade maior de sangue a cada batimento.
Por conta disso, o atleta é capaz de sustentar a circulação sanguínea mesmo com uma frequência cardíaca baixa.
Como regra geral, a frequência cardíaca em repouso é considerada baixa quando inferior a 60 batimentos por minuto. Nos atletas bem treinados, é possível observar frequencia cardíaca tão baixa quanto 40 batimentos por minuto
Bloqueio Atrioventicular
A hipertrofia do ventrículo esquerdo e a bradicardia interferem na atividade elétrica do coração, podendo levar a bloqueios atrioventriculares ou bloqueios de ramo.
Por outro lado, o bloqueio pode acontecer também como resultado de certas doenças cardíacas, inclusive com risco ao paciente.
São alterações comuns ao coração do Atleta:
- Bloqueio atrioventricular de primeiro grau (em até um terço dos atletas);
- Bloqueio Atrioventricular de segundo grau (principalmente tipo Mobitz I): este achado ocorre durante o repouso e desaparece com o exercício.
Extrassistoles ventriculares
Extrassístoles ventriculares são um achado frequente tanto em atletas como em não atletas. Não está claro ainda se a prática frequente de atividade física aumenta a probabilidade de elas ocorrerem.
Embora a maior parte das extrassístoles sejam fisiológicas e associadas a um coração normal, deve-se sempre ter a preocupação com uma menor parte de pacientes que apresentam uma doença cardíaca subjacente com risco para morte cardíaca súbita.
Uma vez identificada a extrassístole, a monitorização com holter é um teste fundamental para a avaliação da ‘carga arrítmica’, ou seja, o número de batimentos ventriculares prematuros durante 24 horas e sua tendência a apresentar extrassístoles de diferentes tipos, como isoladas, monomórforficas, polimórficas, pareadas, bigeminismo, trigeminismo e/ou taquicardia ventricular (TV) não sustentada.
Pacientes assintomáticos ou oligossintomáticos, com extrassístoles monomórficas e carga arrítmica baixa, na presença de função ventricular preservada, podem ser liberados para o esporte e acompanhados clinicamente.
Na presença de sintomas ou em pacientes com alta carga arrítmica ou com extrassístoles polimórficas outros exames devem ser feitos buscando-se identificar eventuais doenças miocárdicas.