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Coração do Atleta

O que é o Coração do Atleta?

O coração de atleta é uma denominação que engloba um conjunto de mudanças estruturais e funcionais que ocorrem no coração de pessoas que treinam por mais do que uma hora na maioria dos dias da semana.

O treinamento intenso e prolongado provoca uma série adaptações fisiológicas no coração. O volume e a pressão do sangue no ventrículo esquerdo aumentam durante o treinamento, gerando uma sobrecarga da musculatura cardíaca. Por sua vez, a sobrecarga leva a um aumento da massa muscular, da espessura da parede e do tamanho da câmara do ventrículo esquerdo, o que se denomina de hipertrofia de ventrículo esquerdo.

As adaptações cardíacas fazem com que o atleta seja capaz de bombear uma quantidade maior de sangue a cada batimento, de forma que uma menor frequência cardíaca será necessária para bombear o mesmo volume de sangue. Quando em repouso, é normal que a frequência cardíaca do atleta seja inferior à do cidadão comum.

Como regra geral, a frequência cardíaca é considerada baixa quando inferior a 60 batimentos por minuto, mas atletas bem treinados podem ter frequência cardíaca tão baixa quanto 40 batimentos por minuto sem que isso represente qualquer problema. A isso se denomina de bradicardia do atleta.

A hipertrofia do ventrículo esquerdo e a bradicardia interferem na atividade elétrica do coração, podendo levar a bloqueios atrioventriculares ou bloqueios de ramo. Dependendo do caso, isso pode ser considerado fisiológico e sem necessidade de investigação extra.

O problema é que o esportista, como qualquer outro cidadão, também pode ter problemas no coração que não estão associadas à sua condição atlética. A grande dificuldade que existe na avaliação cardiológica do atleta, desta forma, é a diferenciação de quais achados podem ser consideradas fisiológicas e quais de fato são patológicas e precisam de tratamento.

Sintomas como dor no peito, dispneia ou palpitações não devem ser atribuídas ao coração do atleta e precisam ser investigados. O fato de um atleta estar assintomático, porém, não é suficiente para descartar uma doença cardíaca, de forma que o cardiologista do esporte sempre deve ser consultado.

Avaliação do Coração do Atleta

A maior parte dos atletas podem ser avaliados de forma segura com base no exame físico e no eletrocardiograma. Entre os achados mais comuns do eletrocardiograma do atleta incluem-se:

  • Bradicardia sinusal: raramente a frequência cardíaca é inferior a 40 batimentos / min;
  • Bloqueio atrioventricular (AV) de primeiro grau (em até um terço dos atletas);
  • Bloqueio Atrioventricular de segundo grau (principalmente tipo Mobitz I): este achado ocorre durante o repouso e desaparece com o exercício;
  • Eletrocardiograma com onda QRS de alta voltagem com alterações da onda T inferolateral (refletindo hipertrofia do VE);
  • Inversão de onda T anterolateral profunda;
  • Bloqueio de ramo direito incompleto.

A depender dos achados do exame físico e do eletrocardiograma, exames como o ecocardiograma, teste de esforço cardiopulmonar e ressonância magnética poderão ser solicitados para a diferenciação com distúrbios que causam achados semelhantes, mas que em alguns casos podem ser fatais. Podemos dizer, assim, que o coração do atleta é um diagnóstico de exclusão.

Entre os principais diagnósticos diferenciais do coração do atleta incluem-se a cardiomiopatia hipertrófica, a cardiomiopatia dilatada, a cardiopatia isquêmica e a displasia arritmogênica do ventrículo direito.

A distinção entre o coração do atleta e algumas destas patologias nem sempre é clara, uma vez que há um continuum entre o aumento cardíaco fisiológico e o patológico.

Como exemplo, a ecocardiografia geralmente é solicitada para a diferenciação entre a hipertrofia de ventrículo esquerdo característica do coração do atleta e as cardiomiopatias. O diagnóstico de cardiomiopatia hiperfrófica é altamente suspeito quando a espessura do septo ventricular esquerdo é maior do que 15mm nos homens ou 13 mm nas mulheres. Existe, porém, uma zona de sobreposição entre o coração do atleta e a cardiomiopatia:

  • Nos homens, 13 a 15 mm
  • Nas mulheres, 11 a 13 mm

Nestes casos, outros sinais sugestivos da cardiomiopatia devem ser buscados. Quando ainda assim não for possível descartar a cardiomiopatia hipertrófica, uma medida mais drástica pode ser necessária: afastar o atleta dos treinamentos esportivos por até 3 meses. A redução do treinamento físico resultará na regressão do aumento cardíaco em pacientes com coração de atleta, mas não naqueles com cardiomiopatia.

Esta é uma decisão que deve ser muito bem embasada, uma vez que pode ter um impacto enorme na vida e na carreira deste atleta. Muitas vezes é uma conduta pouco aceita, ainda mais considerando-se um diagnóstico ainda incerto, mas que em casos específicos pode salvar vidas.