Constipação em Bebês e Crianças
Embora as mesmas causas da constipação em adultos possam também estar por trás da constipação na infância, outros aspectos típicos da população pediátrica precisam também ser levados em consideração. A maior parte dos quadros de constipação na infância estão associados a questões funcionais, como alimentação inadequada, problemas comportamentais ou mudanças na rotina. Uma menor parte dos casos estão associadas a problemas orgânicos, ou seja, condições médicas próprias da infância que podem cursar com obstipação. Constipação em Bebês e Crianças
Causas funcionais de obstipação
As principais causas funcionais de constipação na infância incluem:
- Alimentação inadequada
- Pouca ingestão de fibras (frutas, verduras, cereais integrais)
- Baixa hidratação
- Introdução de fórmulas lácteas em lactentes
- Comportamento e hábitos
- Retenção voluntária das fezes (frequente em fase de desfralde)
- Medo de evacuar devido à dor prévia
- Ambientes desfavoráveis (escola, banheiro público)
- Mudanças na rotina
- Início na creche ou escola
- Viagens e alterações no padrão alimentar
Causas orgânicas de constipação
Embora muito menos comum, é preciso considerar também possíveis causas orgânicas, ou seja, doenças próprias da infância que possam cursar com obstipação. Entre elas, incluem-se:
1. Doença de Hirschsprung
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- Condição congênita caracterizada pela ausência de células nervosas (gânglios) em um segmento do intestino grosso, geralmente no reto e parte do cólon.
- Sem esses nervos, a região afetada não consegue se contrair adequadamente, causando uma obstrução funcional.
- Acomete aproximadamente 1 em cada 5.000 nascidos vivos, sendo mais comum em meninos.
- Pode estar associada em alguns casos a síndromes genéticas, como a Síndrome de Down.
- O tratamento é cirúrgico, com remoção da parte afetada do intestino.
2. Hipotireoidismo congênito
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- condição em que o recém-nascido nasce com a produção insuficiente dos hormônios da tireoide (T3 e T4)
- Acomete 1 em cada 2.000 a 4.000 recém-nascidos, sendo mais frequente em meninas
- A maioria dos recém-nascidos não apresenta sintomas iniciais, mas pode ser diagnosticada por meio de Testes de triagem neonatal – mais especificamente pelo teste do pezinho – entre o 3º e o 5º dia de vida
- Prognóstico excelente se tratado nas primeiras semanas de vida
- Quando não tratados precocemente, a deficiência pode causar retardo mental irreversível e atraso no crescimento.
3. Alergia à proteína do leite de vaca
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- Resposta anormal do sistema imunológico às proteínas presentes no leite de vaca, como caseína, alfa-lactoalbumina e beta-lactoglobulina.
- Afeta cerca de 2% a 3% dos bebês no primeiro ano de vida, sendo a alergia alimentar mais comum na infância, especialmente nos primeiros meses de vida.
- Além de sintomas gastrointestinais, como vômitos, diarreia ou constipação, o bebê pode apresentar também sintomas como urticária (manchas na pele) ou angioedema (inchaço, principalmente nos lábios e olhos).
- O tratamento envolve evitar completamente o leite de vaca e seus derivados.
4. Malformações anorretais
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- Entre as mais comuns, incluem-se o ânus imperfurado, fístulas, estenose anal ou a cloaca persistente.
- Mais comum em meninos, com incidência estimada de 1 a cada 4.000 a 5.000 nascidos vivos.
- Pode ou não estar associada a síndromes genéticas ou malformações em outros sistemas, como o urinário, cardíaco e esquelético
Avaliação do bebê ou criança com obstipação
Na maior parte das vezes, o bebê ou a criança com obstipação pode ser tratada com medidas comportamentais com base na história clínica e no exame físico feito pelo pediatra. No entanto, é preciso ficar atento a alguns sinais de alerta merecem investigação aprofundada, incluindo:
- Constipação desde o nascimento
- Atraso na eliminação do mecônio (>48h)
- Distensão abdominal importante
- Perda de peso ou déficit de crescimento
- Vômitos frequentes
- Sangue nas fezes sem fissura anal evidente
- Histórico familiar de doenças intestinais importantes