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Como superar uma violência sexual

 

Como superar uma violência sexual

Superar uma violência sexual é algo que pode ser bastante difícil para muitas pessoas. Afinal, o trauma instaurado após o episódio de abuso pode ser devastador, impactando as relações, a autoestima e a vida do indivíduo de uma forma geral.

Por isso, neste conteúdo nós reunimos uma série de informações sobre o tema, visando auxiliar você na hora de enfrentar essa situação.

Lembre-se de que você não precisa lidar com essa dor sozinho, pois um psicólogo especialista em sexualidade poderá ajudá-lo nessa jornada.

Acompanhe o conteúdo e saiba mais!

Aspectos psicológicos da vítima de violência sexual

Antes de iniciarmos a descrição de possíveis passos que podem ser positivos quando pensamos em como superar uma violência sexual, é interessante buscarmos compreender alguns dos aspectos psicológicos da vítima.

Isso porque esse conhecimento pode ajudá-lo na hora de entender o que acontece dentro de você, buscando formas de “desabafar” as dores e reorganizar os pensamentos frente à situação vivida.

Afinal, quando conhecemos nossas emoções e sentimentos, tendencialmente podemos ter mais subsídios para encontrar caminhos que nos ajudem a superar nossos problemas. Por isso, convidamos você para acompanhar a lista abaixo e refletir sobre esses aspectos, avaliando se eles estão presentes na sua rotina ou não.

1. Nojo
A sensação de nojo pode ser uma das reações frente ao abuso sexual vivido. A pessoa pode ter nojo do próprio corpo, das genitais ou de qualquer assunto relacionado ao sexo. Afinal, o abuso sexual é uma violação profunda da pessoa, que se sente “suja” por conta do toque alheio.
Se você se sente dessa forma, saiba que essa reação inicial é normal e faz parte do processo de recuperação. No entanto, lembre-se de que o seu corpo não é o culpado pelo ocorrido, e ele merece o seu amor e a sua admiração.
Começar a olhar para si com amor é mais saudável e pode ajudá-lo a enfrentar a angústia vivida durante o abuso. Você não tem culpa do que aconteceu e o seu corpo não se transformou em algo impuro.
Se houver algum ritual que você acredite que fará bem a você, como um banho diferente, com essências e outros tipos de produtos, para minimizar a sensação de nojo, invista nessa possibilidade.
Aos poucos, uma nova visão do corpo vai sendo desenvolvida, desde que haja paciência para atingir essa visão. De qualquer forma, não se cobre agora. Vá lidando com o que sente aos poucos, vivendo a elaboração da sua dor.

2. Culpa
Vivemos em uma sociedade injusta que costuma depositar a culpa dos abusos sexuais em suas vítimas. Porém, esse comportamento é completamente errado e deturpado. Não existe cenário ou circunstâncias que faça com que a vítima do abuso seja a culpada pelo o que aconteceu com ela.
A culpa sempre será do abusador. Sempre. Em todos os casos de abuso.
No entanto, sabemos que não é tão simples tirar essa culpa de dentro de si. Mas, buscar mentalizar e repetir o pensamento de que a vítima nunca é culpada é uma medida que pode ajudá-lo a enfrentar a situação.
Além disso, se houver pessoas que julgam você e apontam a culpa para você, afaste-se dessa toxicidade. Priorize-se neste momento. Você sabe que não tem culpa e quem diz que tem não está falando uma verdade, está apenas proferindo preconceitos.
Não deixe que o discurso equivocado seja internalizado em você. Não importa o local que você estava, tampouco a roupa que vestia. Se você não consentiu o ato do abusador, a culpa é dele e jamais será sua.
Perdoe-se e evite tentar justificar o comportamento do criminoso. Não há nada que justifique o que ele cometeu com você, logo, não existe a menor possibilidade de você ter provocado a ação dele.

3. Repressão da própria sexualidade
A repressão da própria sexualidade pode ser um manifesto em decorrência do trauma vivido durante o abuso. A pessoa pode criar uma visão negativa do relacionamento sexual, enxergando-o como algo sujo, nojento ou pouco atraente.
Embora possa haver desejo sexual em alguns momentos, o toque alheio pode, ainda, ser visto como algo assustador, que faz com que a vítima de abuso acabe se esquivando desse tipo de relação.
A psicoterapia pode ser uma grande aliada neste momento, pois é por meio dela que essa questão pode ser discutida com o terapeuta e novas perspectivas vão sendo construídas para o futuro.

4. Desconfiança
A desconfiança surge em decorrência da violação de direitos que foi vivida. A pessoa vítima de abuso pode ter medo de sair de casa e de reviver tudo o que aconteceu com ela no dia do abuso.
Pode haver uma dificuldade para estabelecer novos laços afetivos, pois a vítima pode acreditar que, a qualquer momento, estará diante de uma pessoa que irá abusá-la novamente, em algum momento.
E essa desconfiança pode ser escorregada para outras áreas de sua vida. Isto é, nem sempre a pessoa irá desconfiar apenas nos relacionamentos afetivos, mas, sim, pode se sentir desconfiada com relação aos outros no trabalho, na faculdade, no dia a dia de uma forma geral, e assim por diante.

5. Transtorno de Estresse Pós-traumático
O Transtorno de Estresse Pós-traumático consiste em um quadro psicopatológico decorrente de um episódio estressante e traumático que pode colocar a pessoa diante do risco de morte, por exemplo.
O indivíduo com TEPT pode ter sintomas como:

  • Pensamentos intrusivos e recorrentes sobre o episódio traumático.
  • Pesadelos que remontam o que aconteceu no dia do trauma.
  • Evitar qualquer coisa ou situação que relembre o momento.
  • Ataque de pânico sempre que relembra a situação traumática.
  • Problemas emocionais como tristeza, desesperança, medo, angústia, revolta, etc.
  • Estresse agudo e recorrente.
  • Insônia.
  • Perda de interesse ou prazer por atividades.
  • Entre outros sinais.

Se você detectou alguns dos sintomas acima, procure ajuda psiquiátrica e psicológica.

Como superar uma violência sexual

Apesar de não haver uma receita ou um passo a passo infalível de como superar uma violência sexual, ainda assim podemos pensar em algumas atitudes e tomadas de decisão que podem contribuir para a recuperação gradativa.

Antes de iniciarmos a leitura das possíveis ações, queremos deixar claro que não existe um tempo certo ou errado para superar o abuso. Você não precisa seguir um script ou ceder às pressões da sociedade para “superar” a situação.

Um trauma profundo, especialmente de cunho sexual, pode deixar marcas em nossas vidas para sempre e, por isso, muitas vezes o caminho é aprender a seguir a vida apesar das marcas. Ou seja, o propósito nem sempre é “apagar” o problema, pois, às vezes, não é possível.

Mas, sim, o possível pode ser encontrar novas dinâmicas para a vida que permitam a sua felicidade e o seu bem-estar apesar do que pode ter acontecido no passado.

Com base nesse pressuposto, considere refletir conosco com relação aos pontos abaixo:

1. Processo psicoterapêutico
O processo psicoterapêutico é muito importante em casos de abuso sexual. A terapia pode ajudar você a enfrentar o trauma, entendendo quais são as marcas que ele deixou no seu corpo, na sua mente e na sua história.
Também é possível buscar formas de se perdoar, quebrando com o conceito de culpa por ter sofrido o abuso. A autoestima é trabalhada durante as sessões, para que o paciente possa encontrar força e amor-próprio apesar das marcas vividas pelo abuso.
Outro ponto do trabalho terapêutico é a reação emocional relacionada à vida sexual do indivíduo. Esse trabalho foca nas emoções que são sentidas com relação ao trauma e, claro, à vida atual. Assim, será possível levantar questionamentos como por exemplo: Como está sendo a sua relação com o seu próprio corpo e a sua sexualidade depois do que aconteceu?
O terapeuta estará, a todo momento, pronto para acolher as suas angústias e auxiliá-lo na ressignificação da situação.
Embora não seja possível apagar o que aconteceu no passado, ainda assim é possível pensar em um novo futuro, no qual você é o protagonista e merece toda a atenção. Isso é levado para o setting terapêutico, a fim de ajudar você na hora de seguir em frente, apesar das dores provocadas pelo trauma.
A quantidade de sessões pode variar de acordo com a abordagem psicológica escolhida e, também, com base nas subjetividades do sujeito. Cada pessoa pode ter o seu próprio tempo de recuperação e superação, e o profissional da saúde mental levará tudo isso em conta sempre.

2. Rede de apoio
A rede de apoio, baseada em amigos e familiares que você confia, também é uma ferramenta de enfrentamento da situação.
Entretanto, não estamos dizendo que você deve contar a sua história para qualquer pessoa, buscando apoio emocional. Mas, sim, conversar com pessoas queridas e que você confia pode ajudá-lo a se sentir acolhido, respeitado e amado.
Essas demonstrações de afeto, que recebemos dentro da rede de apoio, nos ajudam a nos sentirmos mais encorajados para seguir adiante em nossas vidas, apesar dos desafios experimentados contra a nossa vontade.
Além disso, a rede de apoio pode ajudá-lo na hora de restabelecer a sua vida social, tendo o apoio de pessoas confiáveis para manter a sua sociabilidade e as atividades que geram prazer e bem-estar em você.
É o caso de ter o apoio dos colegas para fazer um passeio que você gosta e, assim, pouco a pouco, recuperar a rotina que você tinha antes de viver o trauma.
Caso você se sinta seguro para contar o que aconteceu, saiba que essa prática também pode ser bastante benéfica. Quando colocamos em palavras os nossos sentimentos, emoções e perspectivas sobre o que aconteceu, tendencialmente podemos organizar melhor os nossos pensamentos, reduzindo aquelas ideias que podem estar distorcidas em nossa mente – como o caso de sentir culpa por conta do abuso.
Além do mais, falar também ajuda na hora de desabafar e de “colocar para fora” aquilo que pode estar sobrecarregando o nosso corpo e a nossa mente. Sendo assim, pode ser uma fonte terapêutica de alívio.
Você também não precisa se abrir da noite para o dia, mas, sim, pode conversar com quem confia aos poucos, abrindo as suas emoções à medida que sente confiança.

3. Grupo de apoio para vítimas de abuso
Atualmente, é possível encontrar grupos de apoio para vítimas de abuso em espaços de psicologia e saúde mental.
Nesses espaços, as vítimas são acolhidas e podem receber o suporte e a atenção de outros indivíduos que viveram situações semelhantes.
A interação que é construída e o apoio mútuo, tendencialmente, oferecem um suporte que pode auxiliar a vítima no enfrentamento de suas angústias e tristezas decorrentes do episódio.
Além do mais, a fala terapêutica também entra em cena, proporcionando os efeitos que já comentamos anteriormente.

4. Não force a barra para ter relações
Se você está em um relacionamento amoroso ou deseja iniciar uma relação com alguma pessoa que julga ser ideal para você, não force a situação para tentar se “encaixar” em um padrão ideal.
Isto é, você pode estabelecer limites para a relação sexual com a pessoa que você ama, sem que isso seja um problema.
Não tente ultrapassar esses limites de um minuto ao outro, pois, caso você sinta que a relação provoca a revivência dos sentimentos negativos do trauma, dê um tempo. Você pode ir avançando na relação aos poucos, respeitando a sua recuperação e impedindo de expor a si mesmo aos gatilhos intensos vividos durante o abuso.
Claro que isso não quer dizer que você deva permitir que os gatilhos comandem a sua vida, mas, sim, que você pode praticar o autoconhecimento e implementar mudanças de um modo gradativo, respeitando quem você é e quem está se tornando na sua vida.
Inclusive, a comunicação no relacionamento pode ajudar neste momento. Ser franco com o parceiro ou com a parceira e comunicar o que se sente, impedindo que a situação se torne insuportável para você, é algo válido.

5. Converse com o seu parceiro ou parceira
Seguindo o que acabamos de apontar acima, a comunicação no relacionamento também pode contribuir na hora de superar uma violência sexual. Afinal, é por meio da conversa com a pessoa amada que você poderá:

  • Expor os seus sentimentos e perspectivas com relação ao relacionamento.
  • Apresentar limites saudáveis para você.
  • Dialogar sobre caminhos que poderão ser seguidos na relação.
  • E assim por diante.

Caso você perceba que há uma dificuldade para estabelecer uma comunicação assertiva dentro da relação, cogite a terapia de casal. Por meio dela, o terapeuta poderá ajudá-los a solucionar conflitos e lidar com a situação vivida entre os dois, buscando a harmonia e a qualidade de vida do casal e de cada indivíduo.

6. Fisioterapia pélvica em caso de disfunções
As disfunções sexuais podem ser uma das consequências do abuso sexual vivido em qualquer fase da vida do indivíduo.
No caso de mulheres, podemos citar o vaginismo e a dispareunia, por exemplo. Esses casos, apesar de ter ligação com as questões psicológicas, podem ser trabalhados por meio do acompanhamento fisioterapêutico.
Na fisioterapia pélvica, o indivíduo tem a chance de se reconectar com o seu corpo, reconhecendo as sensações e dessensibilizando em casos de disfunções dolorosas.
Trata-se de um método que pode resgatar a conexão do indivíduo com a sua própria sexualidade.

7. Estimulação do próprio corpo e autoconhecimento
Aos poucos, é possível resgatar a sua própria sexualidade e o seu desejo sexual. Esse processo, tendencialmente, será gradativo e baseado no autoconhecimento.
Se tocar, se olhar no espelho e ter pensamentos eróticos, aos poucos, descobrindo o que você gosta e o que desperta o seu desejo é algo que pode ajudá-lo a se reconectar com quem você é.
Você não precisa voltar a ser exatamente como antes do ocorrido. Se alguma prática sexual não deixa você confortável, não há necessidade de fazê-la apenas pensando no outro. Assim sendo, estimular o próprio corpo e começar a conhecer novas possibilidades para si, que tragam prazer e segurança, é um caminho para superar uma violência sexual gradativamente.
Lembre-se: você não precisa ter uma vida sexual super ativa da noite para o dia. Respeite os seus limites e o seu tempo.

8. NUNCA se culpe
Sempre que o pensamento de culpa surgir em sua mente, dissipe-o. Como comentamos anteriormente, a culpa nunca será da vítima, e não importa o que a sociedade possa dizer sobre isso.
Se você sofreu algo contra a sua vontade, a culpa é daquele que violou a sua posição, não sua.
Coloque-se em primeiro lugar e quebre com os pensamentos de culpa. Caso sinta dificuldades para isso, não se esqueça que a psicoterapia pode ajudá-lo.