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Como superar uma traição?

Superar uma traição não é algo simples que, com um “estalar de dedos” está resolvido. Sabemos que o processo pode ser bastante doloroso para algumas pessoas e, em muitos casos, a única solução encontrada pelo casal é a separação.
Nessas situações, o indivíduo pode atravessar duas dores e perdas: a perda da confiança em um relacionamento idealizado e a perda do parceiro ou da parceira que foi embora.
Esses cenários podem exigir acompanhamento psicoterapêutico, uma vez que a dor emocional pode ser bastante intensa.
Além disso, podemos, hoje e juntos, pensar em alternativas para iniciar um processo de recuperação e reequilíbrio na vida emocional e mental. Para isso, convidamos você para acompanhar este texto até o fim. Vamos adiante!

Como superar uma traição e manter-se no relacionamento?

Antes de irmos para os tópicos nos quais mencionamos algumas ações e pensamentos que podem contribuir na hora de superar uma traição e manter-se no relacionamento, é importante considerarmos alguns pontos:

  • É você quem deve analisar se a traição merece um perdão e se o relacionamento deve ser mantido.
  • As suas emoções devem ser respeitadas de acordo com as suas singularidades.
  • Não existe receita para superar a traição. Um caminho muito relevante será a psicoterapia, pois como cada caso é único, desse modo é possível encontrar mecanismos e ações que auxiliem você, de forma singular.
  • O que é considerado traição pode mudar de acordo com o relacionamento. Por exemplo, uma pessoa pode acreditar que flertar com desconhecidos é traição, enquanto outra pessoa não. Por isso, o “acordo conjugal”
  • deve ocorrer no início do relacionamento, para evitar esse tipo de desentendimento.

Visto esses pontos relevantes, vamos pensar em formas de atravessar a situação com mais equilíbrio:

1. Análise da situação e conversa franca
Analisar a situação com racionalidade é um passo relevante que pode contribuir para a recuperação, caso a opção do casal seja manter o relacionamento.
Isto é, uma conversa franca deve acontecer, analisando as fragilidades do relacionamento, quais os motivos que podem estar envolvidos com a situação (sem querer apontar “um culpado, mas pensando em todas as questões que vêm desencadeando efeitos no relacionamento com o passar do tempo), entre outros pontos.
A traição não precisa ser vista como algo que só tem a separação como resolução. Mas sim, para que seja possível elaborar a situação e seguir adiante, a comunicação no relacionamento se faz necessária, a fim de pensar na continuidade do relacionamento ou na interrupção.
Desse modo, torna-se possível compreender o que aconteceu; quais pontos podem ser melhorados no relacionamento; entender se o outro se arrepende e deseja continuar o relacionamento; analisar se a pessoa traída pretende se manter na relação, e assim por diante.

2. Viva o luto da traição
A traição pode ser bastante dolorosa, e isso é inegável. Ela remete à perda de uma confiança, de uma idealização que tínhamos da outra pessoa. Por isso, é muito normal que a pessoa traída se sinta muito ferida.
Sendo assim, como estamos diante de perdas significativas, podemos vivenciar a dor do luto. Afinal, o luto não está associado apenas com a morte, mas sim, com todas as perdas significativas que podemos ter em nossas vidas.
Por conta disso, permitir-se viver esse luto é importante. É primordial reconhecer que a traição aconteceu, no sentido de não tentar “apagá-la e pronto”. Mas sim, compreendendo que foi algo que aconteceu dentro da relação a dois e que deve ser elaborada, por meio do luto.
Portanto, não tenha medo de chorar, de se sentir deprimido ou até mesmo com raiva. Essas reações são comuns e, à medida que o tempo passa, elas podem ser aliviadas, conforme você consegue elaborar o que aconteceu.
Apenas tenha o cuidado de não forçar a barra. Lembre-se que o luto demanda tempo.

3. Analise qual a melhor decisão para você
Analisar qual é a melhor decisão para você é muito importante. Afinal, como seria possível superar uma traição sem tomar a decisão de seguir em frente no relacionamento ou interrompê-lo?
Essa análise não precisa ser feita de um segundo ao outro. É preciso analisar com calma, com tranquilidade, especialmente quando se sentir menos abalado emocionalmente.
Além disso, embora os amigos e os familiares possam contribuir para as suas reflexões, lembre-se de que é você quem vive e viveu o relacionamento até aqui. Logo, possui mais subsídios para analisar o que pode ser melhor para si.
Obviamente, não estamos falando de relacionamentos tóxicos e abusivos. Estamos falando de relacionamentos relativamente estáveis, que passam por turbulências que resultam na traição.
Nesses casos, o casal deve conversar de forma franca e a pessoa traída deve considerar os prós e contras, com base nos seus princípios, no que acredita e no que pensa, para tomar a decisão de manter o relacionamento ou não.
Inclusive, não precisa haver pressa com relação a isso. Mais vale dar tempo ao tempo do que tomar decisões precipitadas.

4. Não apresse a elaboração do que foi vivido
Partindo do que apontamos logo acima, permita-se viver o que aconteceu e elaborar a situação com calma, sem pressa.
Não tente forçar a sua decisão de continuar no relacionamento ou não. Mas sim, respeite o seu tempo de recuperação, viva e escute as suas emoções, priorizando o seu bem-estar e os limites emocionais envolvidos com o ocorrido.

5. Considere a psicoterapia de casal e individual
A psicoterapia também pode contribuir nesses casos. Tanto a opção individual, que pode auxiliar o indivíduo traído na sua busca por fortalecimento da autoestima e recuperação emocional, quanto a opção para casal, na qual ambos poderão refletir, em conjunto, sobre o que aconteceu e sobre quais medidas poderão ser postas em prática no futuro.

6. Converse e/ou escreve sobre as suas emoções
As emoções, diante de um caso de traição, podem aparecer de forma intensa. Elas podem ser difíceis de assimilar em alguns casos, devido às frustrações e decepções vividas.
Contudo, falar ou escrever sobre o que se sente pode ser terapêutico. É possível “colocar para fora” aquilo que parece nos afogar por dentro. Ao mesmo tempo, dar nome para o que sentimos nos ajuda a delimitar as sensações da mente e do corpo, ajudando a elaborar medidas que minimizem o desconforto e auxiliem na recuperação do bem-estar.
Afinal, quem nunca sentiu um “aperto no peito” e não sabia o porquê? Mas, quando começou a refletir sobre a sensação e conseguiu pôr em palavras o que sentia, a sensação, tendencialmente, reduziu?
É mais ou menos dessa forma que funciona quando falamos ou escrevemos o que sentimos.
Podemos, inclusive, falar com nós mesmos ou escrever apenas para nós mesmos. No entanto, caso tenhamos alguém de confiança e um psicoterapeuta, poderemos colocar em palavras enquanto o outro ouve e nos ajuda a, em alguns casos, desmistificar o que estamos dizendo e pensando.

7. Construção de um novo “contrato conjugal”
Se o casal toma a decisão de seguir adiante com a relação, é importante que haja a construção de um novo contrato conjugal.
Entende-se por contrato conjugal aquele acordo que é feito e esclarecido entre ambas as partes. Por exemplo, deixar claro que determinados comportamentos são considerados traição, como flertar com alguém, é algo que faz parte desse contrato.
É claro que o contrato não precisa ser feito por escrito, pois não estamos falando de algo burocrático, mas sim, simbólico.
Isto é, o casal deve conversar sobre as “regras” do relacionamento e o que se espera do futuro.
A pessoa traída pode aceitar continuar no relacionamento com a condição de que o comportamento negativo do parceiro não se repita, por exemplo. Bem como novos acordos podem ser criados, como dar mais atenção um ao outro, priorizar os momentos a dois, cuidar da vida sexual do casal, e assim por diante.
Para que esse contrato seja bem estabelecido, uma conversa franca, sincera e empática deve acontecer.

8. Reconstrução do relacionamento
A reconstrução do relacionamento acontece de forma gradativa e faz parte do processo de superar uma traição.
Tanto a pessoa traída, quanto o traidor, irão passar por mudanças na dinâmica da relação, visando o fortalecimento do vínculo e a recuperação da confiança.
Esse processo tende a ser gradativo, o que é super normal. Para isso, é possível começar com uma conversa e implementar mudanças positivas:

  • O que pode ser feito para fortalecer a relação?
  • Quais caminhos podem ser seguidos a partir de agora?
  • Como estão os planos para o futuro?
  • Quais ações podem contribuir para o fortalecimento da confiança?
  • O que se espera do relacionamento?
  • O que um espera do outro?
  • E ainda, o que cada um acredita que tem para oferecer ao outro?

Esses e outros questionamentos podem ser bem interessantes.

Como superar a traição depois de terminar a relação?

Em alguns casos, o casal pode optar pelo término da relação depois que a traição acontece. E embora não exista um passo a passo de como superar uma traição, nem nesse caso e nem para quem segue com o relacionamento, existem algumas atitudes que, sim, são positivas e podem contribuir nesses casos.

Abaixo descrevemos algumas delas:

1. Afastamento e luto
A dor do término da relação, nesses casos, pode ser somada à dor da traição. Isso quer dizer que o processo de luto também será vivido nessas circunstâncias.
No começo, o indivíduo pode sentir raiva, revolta, etc. Com o passar do tempo, a sensação de vazio, tristeza e descontentamento com a relação também podem aparecer.
No entanto, à medida que o tempo passa, e as emoções são escutadas, elaboradas e respeitadas, o indivíduo pode começar a viver o seu luto, ultrapassando-o.
É nesse ultrapassar que novas perspectivas começam a ser imaginadas para vida, bem como novos caminhos que poderão ser seguidos e desenvolvidos.
Durante todo esse processo, recomenda-se que haja um certo afastamento da pessoa que feriu, pois isso pode contribuir para que a pessoa traída consiga pensar melhor sobre as suas próprias emoções e decisões.
Afinal, ficar diante do gatilho da angústia, da tristeza e da raiva – que seria manter o contato com o traidor -, é algo que pode dificultar a forma de enxergar a situação.
Contudo, é importante frisar que cada caso é um caso. Há pessoas que conseguem atravessar o luto sem se afastar do outro, até porque, em algumas situações, há a existência de filhos, que exige esse contato frequente. Portanto, verifique até que ponto é possível “dar um tempo”, mas não deixe de viver o seu luto, respeitando o seu tempo.

2. Reencontro com a própria identidade
Quando “engatamos” um relacionamento, passamos a construir uma identidade que pode ser chamada de “eu-conjugal”. Isto é, você, embora seja um indivíduo, começa a construir uma vida que parte do pressuposto do compartilhamento de momentos, dúvidas e objetivos com outra pessoa.
É possível que vocês tenham criado a rotina de frequentar determinados lugares, iniciaram novas atividades, bem como deixaram de lado algumas coisas que faziam quando eram solteiros. Esse é o processo de construir uma identidade conjugal.
Agora, após a separação, é interessante começar a retomar a sua individualidade, a sua identidade.
Busque se autoconhecer, encontrar o que você gosta e investir naqueles objetivos que estavam no papel, enquanto você priorizava a vida a dois.
Você é o foco da sua vida, e o seu projeto para os próximos meses e anos deve ser montado de acordo com o seu desejo, seus sonhos, etc.
Embora tudo esteja mudando, sempre é um bom momento para se reencontrar com quem somos.

3. Busca por novos sentidos e construção de planos
É bem possível que você e a outra pessoa tenham construído planos e objetivos para o futuro. Inclusive, muitos dos sentidos que você deu e dá à vida podem estar atrelados ao relacionamento que foi vivido até então.
Porém, após superar uma traição e a perda do outro, deve-se pensar em novas formas de atuar nesta vida, buscando a construção de planos para o futuro e o estabelecimento de metas e objetivos. Desse modo, torna-se viável pensar no que acontecerá em seguida, minimizando o medo do futuro que tende a aparecer em casos de processo de separação.

4. Respeito às próprias emoções, dando tempo ao tempo
Não tenha pressa. Não queira parecer a pessoa mais feliz, bem-resolvida e equilibrada ao fingir que não existem emoções durante o processo de superar uma traição.
Você não merece essa auto negligência. Portanto, permita-se chorar, falar ou escrever sobre o que sente, permitindo que o tempo e as palavras ajudem a curar a ferida que se criou.

5. Fortaleça o seu autoconhecimento
Pratique o autoconhecimento. Busque saber mais sobre os seus pontos fortes, fortaleça aquilo que acredita ser mais fragilizado, e assim por diante.
Descubra o que você gosta e o que deseja para o seu futuro, engajando-se em novas atividades que tenham a ver com você.
Inclusive, a psicoterapia pode ajudar nesses casos.

6. Fortaleça os vínculos sociais
Não se afaste das pessoas que você ama. Isso porque os vínculos sociais podem contribuir para uma recuperação mais efetiva.
Afinal, receber o apoio de pessoas importantes é algo que pode ser uma peça-chave na hora de superar uma traição.
Portanto, mantenha contato com os seus amigos e familiares. Você não precisa usar esse contato para falar apenas da traição, mas sim, pode vivenciar o fortalecimento dos laços sociais como forma de viver a vida, de encontrar novas formas de fazer determinadas atividades e de, simplesmente, se divertir.

7. Faça psicoterapia
A psicoterapia pode contribuir para o desenvolvimento de todos os pontos que listamos acima. Afinal, você irá praticar o autoconhecimento, poderá viver e elaborar o seu luto, entenderá aspectos pessoais, poderá se “reencontrar” com a sua identidade, respeitará as suas emoções, e assim por diante.
Tudo isso respeitando o seu tempo e o seu espaço para recuperação.

Esperamos que este conteúdo possa ter contribuído de alguma forma! Cuide de você neste momento e lembre-se de priorizar o seu bem-estar e as suas emoções. Conte, ainda, com a ajuda de profissionais da saúde mental. Você não precisa enfrentar tudo sozinho.

Referências
FÉRES-CARNEIRO, T. Separação: o doloroso processo de dissolução da conjugalidade.
Artigos • Estud. psicol. (Natal) 8 (3) • Dez 2003.

SATTLER, Marli Kath; TAVARES, Ana Cristina Costa Nicola; SILVA, Isabela Machado da. A infidelidade no relacionamento amoroso: possibilidades no trabalho clínico com casais. Pensando fam., Porto Alegre , v. 21, n. 1, p. 162-175, jul. 2017 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-494X2017000100013&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 17 out. 2022.