Como superar o fim do casamento?
Superar o fim do casamento não é tarefa fácil, pois exige uma reorganização mental, emocional, funcional e prática do indivíduo. Afinal, não é apenas o parceiro ou a parceira que não está por perto, mas sim, toda uma rotina que havia sido construída a dois.
Desse modo, elaboramos este texto com fundamentos e considerações que podem ser levadas em conta na hora de atravessar essa “tempestade” na vida. Acompanhe-nos.
Aspectos psicológicos do fim do casamento
Um ponto relevante que podemos considerar, logo de início, é os aspectos psicológicos presentes no fim de um relacionamento sério. Ao compreender quais são os principais reflexos emocionais nesta fase, torna-se viável desenvolver um autoconhecimento mais profundo, além de ser possível minimizar aquela sensação de que é preciso estar “100%” bem da noite para o dia.
Afinal, o processo pode ser gradativo e relativamente lento, atravessando diversos pontos relevantes da saúde emocional do sujeito. Assim sendo, este conhecimento pode ajudá-lo a compreender o que sente, o que pode estar acontecendo e, a partir disso, todos esses subsídios poderão ser usados como chave para os passos que serão dados a seguir.
Por isso, convidamos você para nos acompanhar nessa jornada de conhecimento. Sigamos juntos.
1. Dificuldades para se concentrar no trabalho
Os impactos do término de um relacionamento podem aparecer na atividade laboral do sujeito. Devido às questões emocionais que estão latentes, a pessoa pode ter uma certa dificuldade para se concentrar no trabalho e nas mais diversas atividades.
Essa falta de concentração, por sua vez, pode provocar angústia e ansiedade frente às demandas que estão diante da pessoa.
2. Distúrbios do sono
Os desequilíbrios emocionais podem ser refletidos na qualidade do sono da pessoa. Ela pode vivenciar pensamentos repetitivos sobre o que aconteceu, além de sentir extremas alterações emocionais. Tudo isso pode dificultar o sono ou gerar uma sensação excessiva de cansaço e fadiga.
3. Distúrbios alimentares
Da mesma forma que o sono pode ser abalado devido às preocupações ou ao humor deprimido, os distúrbios alimentares também podem aparecer.
A pessoa pode se sentir ansiosa e comer demais, bem como pode se sentir deprimida a ponto de perder o apetite e o interesse por se alimentar.
Esse tipo de distúrbio pode provocar impactos na saúde física, quando não bem gerenciado, devido às mudanças de peso corporal e à falta de nutrientes – ou excesso de alimentos pouco nutritivos.
4. Sentimento de infelicidade
Sem dúvidas, as pessoas buscam formas de superar o fim do casamento pois, muitas vezes, estão diante de um sentimento de infelicidade.
Toda aquela visão positiva sobre a vida, que um dia foi construída a dois, hoje, está “desmoronada”. A pessoa pode sentir desesperança e até mesmo uma sensação de desespero frente ao que acontecerá em sua vida.
5. Culpa pelo término
A culpa pelo término pode aparecer de formas diferentes. Primeiro, pode ser que a pessoa sinta culpa por ter solicitado o término, mesmo que ela tivesse motivos para isso. Segundo, porque a pessoa que “cometeu um erro” – que pode ter sido o estopim do término -, pode se sentir extremamente culpada pelo fim.
E mesmo quando não há alguém que tenha “errado”, isto é, o processo de separação envolve um esfriamento dos dois lados, ainda assim a pessoa que recebe a notícia, ou seja, a pessoa que não toma a decisão de terminar, pode se sentir culpada, crendo que tudo aconteceu porque ela não fez algo diferente.
Essa culpa pode pesar no dia a dia, causando, inclusive, sintomas psicossomáticos, como a sensação de peso no peito.
6. Dificuldades relacionadas à vida sexual
Com exceção dos casamentos sem sexo, nquanto havia um relacionamento estável, é possível que houvesse uma vida sexual relativamente ativa.
Agora, com o processo de superar o fim do casamento, a pessoa pode se ver diante de um impasse: como manter a vida sexual ativa nessas circunstâncias?
Esses questionamentos podem ser ainda mais dolorosos e desconfortáveis para aqueles que só tiveram relação sexual dentro do casamento, e durante muito tempo.
Afinal, quais passos dar em seguida, a partir de agora? Essas dúvidas são comuns e, acredite, poderão ser respondidas à medida que o tempo passa.
7. Baixa autoestima
Seja por conta da culpa, ou por ter a sensação de que “nunca mais encontrará ninguém”, a baixa autoestima pode aparecer.
Além disso, ela pode estar atrelada a outros fatores, como por exemplo: dificuldade para manter as finanças sozinho; sensação de solidão, em casos de relacionamentos nos quais a pessoa se afastou dos amigos e familiares; dificuldade para se imaginar buscando uma nova relação; vida sexual que começa a estagnar; entre outros pontos.
A quebra da autoestima é bastante comum e o processo de superar o fim do casamento, sendo que este processo, que é gradativo, passa por essa fase e vai ressignificando o que a pessoa pensa sobre si mesma – desde que não haja desorganização emocional grave.
Portanto, considere isso! Esses sentimentos de desvalia são comuns nesta fase de recuperação, mas não significam que você, realmente, seja uma pessoa ruim.
8. Humor deprimido
O humor deprimido também é uma característica do término de uma relação. A pessoa pode ter a sensação de que o que ocorre à sua volta perdeu o sentido, especialmente em casos nos quais a relação é de longa data.
Afinal, se a pessoa passou anos e anos planejando a vida a dois e construindo projetos de vida com o outro, a quebra do relacionamento pode abrir caminho para uma sensação de vazio e de tristeza profunda.
A pessoa pode ter dificuldades para remanejar esses planos que eram para duas pessoas, e a sensação de perda de sentido da vida pode aparecer. É aqui que dizemos que o indivíduo está vivendo um luto profundo.
9. Raiva do(a) parceiro(a)
Dependendo dos motivos pelos quais o término aconteceu, a pessoa também pode experimentar o sentimento de raiva do outro.
A raiva pode estar atrelada ao processo de superar uma traição ou de, simplesmente, sentir que “perdeu tempo de vida” ao lado de uma pessoa que não valia a pena.
Além disso, esse sentimento de raiva pode surgir como uma proteção psíquica contra as sensações de desamparo e de tristeza, por exemplo. Isto é, a pessoa pode ir pela via da raiva para tentar amenizar a dor de perder o outro, sem admitir que ele realmente era algo profundamente importante em sua vida.
10. Dificuldade para cuidar de si mesmo
A dificuldade para cuidar de si mesmo também é muito relatada por quem busca superar o fim do casamento. O autocuidado cotidiano pode ser negligenciado, devido ao humor deprimido, a sensação de fadiga, a falta de interesse nas mais diversas atividades, etc.
No entanto, é preciso lutar contra a negligência de si mesmo, caminhando, um passo de cada vez, rumo ao autocuidado.
Hoje você pode cuidar da sua alimentação, amanhã da sua aparência, depois dos seus estudos, e assim por diante, sem se deixar de lado.
Embora seja difícil, praticar o autocuidado pode contribuir para uma recuperação frente a uma decepção amorosa, por exemplo.
Como superar o fim do casamento?
Os relacionamentos amorosos têm um papel muito importante na vida das pessoas. Por meio deles, é possível atingir um grau de satisfação pessoal, construir uma autoestima mais fortalecida e se sentir mais acolhido frente ao mundo.
Ao mesmo tempo, as pessoas podem acabar ficando vulneráveis dentro de um relacionamento, pois qualquer tropeço, turbulência ou término pode impactar profundamente a qualidade de vida e o bem-estar do indivíduo.
No caso do processo de superar o fim do casamento, é necessário atravessar um verdadeiro luto, que pode ser bastante doloroso para alguns.
Pensando nessas situações difíceis, listamos algumas considerações, visando lhe ajudar:
1. Apoio social
O apoio social, segundo as bibliografias buscadas, pode se apresentar como um grande suporte na hora de superar o fim do casamento. Isso porque é nos laços sociais que sentimos acolhimento, amor, cuidado, proteção e consideração.
Todos esses sentimentos, quando genuínos e bem aceitos pelos outros, podem contribuir para o fortalecimento da autoestima e para o reajustamento emocional e social.
Sendo assim, cuidado com o comportamento de se isolar completamente. Embora nós possamos, sim, passar um tempo sozinhos para lidar com as emoções, o apoio externo pode ser bem importante durante a vivência de um luto.
2. Visão racional
Tentar enxergar a situação com uma visão mais racional pode contribuir na hora de superar o fim do casamento.
Isto é, ao invés de repetir pensamentos como “ele(a) só me deixou porque sou péssimo(a)”, tente entender o que realmente aconteceu.
Desde quando o relacionamento estava decaindo? Quais foram os maiores gatilhos? Será que realmente existe um só culpado, ou os dois lados estão envolvidos nesse problema? Como você pode seguir a vida positivamente? Pense bem sobre isso.
Colocar a situação em uma perspectiva mais racional pode diminuir a sensação de peso emocional.
No entanto, não estamos dizendo que você deve se enganar e esconder as emoções, mas sim, que você pode pensar em perspectivas racionais que lhe ajudem a acalmar o que você sente, ao mesmo tempo em que dá atenção à emoção que está pulsando em você.
3. Tempo e vivência do luto
Considerar o tempo de vivência do luto é muito importante. Assim como ocorre quando perdemos um ente querido, ao iniciar o processo de superar o fim do casamento, nós estamos diante de um processo de luto.
A sensação de esvaziamento, o humor deprimido, a raiva, a aceitação e as lembranças que se tornam saudade de algo que um dia foi bom são alguns dos sinais e das fases atravessadas nesse processo.
Sendo assim, não tente pular etapas para tentar “afogar” o que está sendo sentido. Mas sim, dê tempo ao tempo, viva as emoções, fale sobre o que você sente, escute o “seu coração” e permita que o processo de cura ocorra no seu tempo.
4. Escuta emocional
Escute as suas emoções. Elas estão ali tentando lhe ajudar a reajustar a sua vida. A tristeza, por exemplo, pode mostrar que algo não aconteceu como você queria, e que é preciso pensar em novos sentidos e estratégias que abram caminhos para a felicidade.
A raiva pode mostrar a frustração diante da perda ou da decepção amorosa, abrindo caminho para que você pense em formas de ressignificar os relacionamentos amorosos, buscando novos ares justos para você.
O medo pode demonstrar uma falta de habilidade frente à vida de solteiro, que deve ser amenizada à medida que você vai atravessando o luto e aprendendo um pouco mais sobre a sua vida individual. E assim por diante.
Cada emoção pode nos ensinar algo, ao mesmo tempo em que nos ajuda a refletir sobre o que podemos fazer para superar as sensações negativas que são vividas.
Em contrapartida, “esconder” as emoções é sobrecarregar o emocional, prejudicando a saúde e o bem-estar.
5. Psicoterapia
A psicoterapia também pode ser uma grande aliada nesse processo. Por meio dela você poderá praticar o autoconhecimento, poderá escutar as suas emoções, ressignificar o que aconteceu e o que pode acontecer, entender e buscar novos sentidos para a vida, e assim por diante.
Esse processo, que é gradativo, respeita os seus limites e contribui para que você tenha uma nova visão de mundo, que pode ser saudável e agradável. Além do mais, você poderá praticar o autoconhecimento que contribui para o aumento da autoestima.
6. Busca de novos projetos de vida
Durante o casamento, ambos os lados constroem sonhos e projetos de vida em volta da vida a dois. Porém, na hora de superar o fim do casamento, ambos os envolvidos precisam pensar em novos sentidos e projetos de vida, agora, individuais.
Embora seja um processo doloroso no começo, é extremamente importante para que haja uma recuperação emocional e funcional frente ao ocorrido.
Por isso, iniciar uma reflexão, tanto na psicoterapia, quanto no processo de autoconhecimento, que viabilize a construção de novos sentidos e objetivos para a vida é algo relevante.
Pode não parecer fácil, e, realmente, nem sempre é, mas é necessário começarmos, andando um pouquinho de cada vez, a pensar em estratégias e caminhos para a “nova vida”.
7. Cultivo do autocuidado
No decorrer deste texto, mencionamos o quanto a dificuldade para cuidar de si mesmo pode aparecer quando o término do relacionamento ocorre.
Porém, o cultivo do autocuidado é uma das ferramentas para superar o fim do casamento. Quando cuidamos de nós, tendencialmente aumentamos a sensação de prazer, bem-estar e satisfação com nós mesmos. Por isso, construir uma rotina que priorize esse tipo de cuidado é algo importante.
Vale qualquer tipo de autocuidado! Você pode cuidar da aparência, do seu intelectual, da sua rotina de trabalho, do seu sono, etc. É possível cuidar de si lendo um livro, estudando, descansando, passeando, tomando o seu chá favorito em um momento de relaxamento, e assim por diante.
Cuide-se, pois você é a pessoa mais importante do seu mundo.
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A dor do término pode ser fisicamente sentida (psicossomatização)
Outra consideração que podemos ter em mente sobre o processo de superar o fim do casamento, é que a pessoa pode experimentar dores físicas durante a recuperação.
Isso quer dizer que a psicossomatização pode marcar presença na vida dos indivíduos.
É o caso de sentir a sensação de aperto no peito por conta da angústia, dor na garganta por conta da vontade de chorar, enxaqueca por conta do estresse vivido, etc.
São muitos os sintomas que as pessoas podem descrever frente a isso.
Por isso é tão importante escutarmos as nossas emoções e darmos vazão a elas. Pois à medida que as vamos gastando, também permitimos que a sobrecarga no corpo diminua, reduzindo os sintomas psicossomáticos.
Considere essas premissas e lembre-se: se você sentir que não está conseguindo enfrentar tudo sozinho, procure ajuda profissional de um psicólogo.
Referências
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