Como superar o arrependimento após uma traição?

Superar o arrependimento após uma traição pode ser algo difícil para muitas pessoas. Os pensamentos intrusivos, provenientes do ato de trair, podem ocasionar angústia, tristeza e um sentimento de pesar todos os dias.

Porém, uma coisa é fato: o que ocorreu no passado permanece por lá. Ou seja, não podemos transformar o que aconteceu no passado, mas sim o que faremos, de agora em diante, com base nas aprendizagens absorvidas.

Pensando nisso, neste texto nós apresentamos algumas reflexões e considerações sobre essa temática tão importante. Confira lendo-o até o fim.

O arrependimento pode ser entendido, basicamente, como o ato de tomar consciência do equívoco. Isto é, o arrependimento aparece quando nos damos conta de que o nosso comportamento e a nossa conduta deveriam ou poderiam ser diferentes.

No caso dos relacionamentos extraconjugais, o arrependimento surge quando a sensação de ter violado os próprios princípios e os do outro vêm à tona. A sensação de cometer um erro inadmissível provoca forte sofrimento psíquico. Lidar com tudo isso pode ser bastante difícil, mas não é impossível.

Nós, seres humanos, não somos perfeitos. Embora saibamos que a traição é encarada de uma forma extremamente negativa, ainda assim é possível absorver aprendizagens quando se tem em mente a ideia de, realmente, mudar o rumo da situação e considerar novos caminhos – que não provoquem a reincidência do comportamento.

Além disso, é válido considerar que o arrependimento pode proporcionar fatores positivos, como por exemplo:

• Autocorreção positiva.
• Motivação para mudanças positivas.
• Desenvolvimento do poder de autoaceitação e auto perdão.
• Regular comportamentos que podem ser impulsivos em algumas situações.
• Oferecer novas visões e perspectivas para a vida.
• Auxiliar no planejamento para o futuro do casal.

Obviamente, todo mundo prefere não sentir arrependimento. Só que a verdade é que ele nos ajuda a pensar mais e melhor sobre as nossas ações, induzindo-nos a aprendizagens e mudanças significativas frente ao futuro.

É sabido que o arrependimento pode ocasionar desconforto, tristeza, sensação de impotência e desejo de “apagar” da mente a situação causadora de tanta dor e desconforto.

Porém, também é sabido que, em se tratando dos pensamentos e das emoções, não existe uma borracha mágica capaz de apagar todas as sensações que sentimos e vivenciamos diante de um arrependimento.

Contudo, existem atitudes e reflexões que podem contribuir para uma, digamos, “recuperação” diante do ocorrido. Abaixo descrevemos-nas:

1. O passado não existe mais
Um ponto de partida que podemos usar, na hora de refletirmos sobre o assunto, é o fato de que o passado não existe mais. Ao menos não no sentido físico e visível.
O passado está presente na nossa mente e nas nossas lembranças. O que aconteceu fica gravado como uma recordação ou um filme em nossos pensamentos.
Sendo assim, não há possibilidade de acessar o passado e tampouco de mudá-lo. E aceitar esse primeiro fator pode ajudar na hora de superar o arrependimento após uma traição.

2. O que aconteceu, aconteceu como poderia ter sido
Nós, seres humanos, crescemos, mudamos e nos desenvolvemos a cada dia. A cada momento estamos descobrindo algo novo, e sentindo sensações que, talvez, nunca tenhamos sentido.
A nossa maturidade para determinadas decisões está atrelada ao nosso nível de vivências, experiências e conhecimentos.
Quando pensamos no processo de superar o arrependimento após uma traição, podemos pensar que, no momento em que o erro foi cometido, os pensamentos e conhecimentos que existiam naquela hora eram específicos para que a situação se desenhasse da maneira como ocorreu.
Claro que isso não quer dizer que podemos simplesmente trair e dizer que é o que poderia ter acontecido no momento, porém, ter essa visão de que as circunstâncias e contingências da vida podem ter levado você a cometer tal ato, sem deixar de lado a sua responsabilidade, pode ser um caminho relevante.
Mesmo que seja um erro, naquele momento você pode ter agido de forma impulsiva, ou pensado nos prós e contras de uma maneira errada – de acordo com as emoções e visões vividas ali. Ou seja, possivelmente isso se repetiria se acontecesse nas mesmíssimas circunstâncias e caso não houvesse nenhum processo de amadurecimento e aprendizagem.

3. Desenvolver o perdão é um caminho mais justo
Aprender a se perdoar é indispensável na hora de superar o arrependimento após uma traição. Se você costuma se punir, dia após dia, por conta do comportamento que teve, então é possível que a situação se torne cada vez mais desgastante.
Como dito acima, embora exista a responsabilidade do traidor de ter cometido tal ato – em desacordo com o contrato conjugal -, ainda assim é preciso pensar que o passado passou e o que aconteceu teve suas contingências e circunstâncias envolvidas no processo de tomada de decisão.
Sendo assim, perdoar-se pode ser um caminho mais justo para consigo mesmo.

4. Aprender com o erro é uma possibilidade para não ocorrer a reincidência
O arrependimento nos mostra que a nossa conduta, colocada em prática em determinada circunstância, deveria ter sido diferente. Porém, como não é possível mudar o passado e o que aconteceu, talvez uma via que ajude a superar o arrependimento após uma traição é justamente entender que o erro do momento é uma “pílula” para que o comportamento não seja reincidente.
Podemos visualizar que o caminho e as decisões tomadas não são benéficas para nós e para os outros, e que não vale a pena cometer determinados equívocos no impulso do momento. Mas sim, que é mais válido pensar em formas de evitar a reincidência do comportamento, tendo uma maior consciência da situação.

5. Comunicação no relacionamento pode ajudar
A comunicação no relacionamento também é peça-chave neste momento. Se a intenção do casal é permanecer juntos mesmo depois do ocorrido, o ideal é que a comunicação e o diálogo apareçam com bastante frequência.
Isso porque, por meio das conversas francas é possível falar sobre o arrependimento, o sofrimento de ter cometido o ato, e outras questões que podem, aos poucos, esvaziar a dor e a angústia que ocasionam sensações de tristeza e pesar por conta da traição cometida.
Colocar tudo “em pratos limpos” é uma estratégia que minimiza aquela sensação de ficar imaginando o que o outro pode ter achado da sua conduta, o que ele pensa sobre você hoje, e assim por diante.

6. Psicoterapia de casal ou individual
A terapia de casal também pode contribuir para o processo de superar o arrependimento após uma traição. Isso porque o casal poderá falar sobre as suas emoções, perspectivas sobre o acontecido, pontos de vista de cada um, e assim por diante.
O terapeuta, que é neutro dentro da relação, poderá auxiliar na hora de descortinar tabus, medos, arrependimentos, culpas e angústias que assolam a relação.
Da mesma forma, a terapia individual também pode contribuir para o processo de autoaceitação e de perdoar a si mesmo. O processo pode ser demorado no início, mas, à medida que o tempo passa, torna-se viável a possibilidade de se enxergar novas perspectivas sobre si e sobre a relação vivida.

7. Será que é hora de repensar a relação?
A traição pode abalar a dinâmica de qualquer casal, e isso é inegável. Por isso, discutir a relação e analisar se é caso de seguir adiante juntos ou não é uma das ações que contribuem na hora de atravessar a turbulência vivida.
Isto é, apenas ignorar o fato e fingir que nada aconteceu pode ser pouco produtivo quando pensamos nas relações amorosas. Sendo assim, se houver a possibilidade de se aproximar do outro para discutir a relação de forma saudável, talvez esta seja uma boa via para o casal.
Às vezes, o processo de separação pode ser solicitado a partir dessa conversa, bem como o fortalecimento da relação pode acontecer. Cada casal é único e deve avaliar a situação sob um prisma singular.

8. Você não é a única pessoa arrependida
Outro ponto que deve ser considerado quando pensamos em como superar o arrependimento após uma traição, é o fato de que você não é o único ser humano arrependido no mundo.
Isto é, todas as pessoas experimentam a sensação de culpa e arrependimento, ao menos uma vez na vida.
Afinal, como seria possível tomar boas decisões absolutamente todas as vezes que algo importante precisa ser decidido? Parece inviável, concorda?
Sendo assim, antes de se maltratar por conta da sensação de culpa e arrependimento, considere o fato de que todo mundo, no seu lado mais íntimo, apresentará alguma espécie de arrependimento ou culpa. Isso é normal no ser humano.
Como temos a capacidade de imaginar o que poderia ter sido e o que poderá acontecer depois de determinadas ações, passamos a nutrir o arrependimento imaginando o famoso “se ao menos eu tivesse feito assim…”.
Isto é, a nossa capacidade de imaginar as situações, nos mais diversos cenários, pode nos levar a inúmeros arrependimentos em nossas vidas.
Portanto, ter a consciência de que todo mundo tem um ou mais arrependimentos na vida pode minimizar a sensação sufocante que a culpa pode proporcionar em diversos momentos. Afinal, ninguém é perfeito e tampouco tem boas atitudes o tempo todo.

9. O fato de perceber o erro agora não necessariamente quer dizer que poderia ter visto antes
O fato de você enxergar que a sua atitude foi extremamente inadequada não quer dizer que, no momento em que o comportamento impulsivo foi tomado por emoções, você tenha percebido.
Dependendo das circunstâncias nas quais a traição ocorreu, é possível que você não percebesse as consequências da sua ação. Claro que isso não tira a sua autorresponsabilidade, mas sim, apenas fortalece o que falamos anteriormente sobre o que aconteceu ter acontecido de acordo com todas as contingências do momento.
Sendo assim, refletir sobre o comportamento impulsivo, analisar as emoções que levaram a tal ato e outros pontos podem auxiliar na construção de uma reflexão mais positiva e que seja construtiva com relação ao futuro.

Em alguns casos, o processo de superar o arrependimento após uma traição está intimamente relacionado com a vivência do fim do casamento ou namoro. Esse processo pode ser doloroso, especialmente para o indivíduo que está arrependido de sua conduta.
A seguir, apresentamos alguns pontos que podem ser considerados na hora de atravessar essa importante fase em sua vida:

1. Vivência do luto e de todas as suas fases
A perda do relacionamento e do parceiro, seja em decorrência da traição ou não, pode resultar em um verdadeiro processo de luto.
Isto é, a pessoa sente um pesar intenso em sua vida, vivenciando sensações de vazio, desesperança, medo, angústia, tristeza intensa, etc.
Esse processo é semelhante ao que acontece quando perdemos um ente querido. Sendo assim, respeitá-lo e vivê-lo, dentro dos seus limites pessoais, é muito importante.
Isso significa que pode ser que você não se sinta disposto como normalmente se sentia, ao menos nos primeiros dias ou semanas após o término. Porém, esse processo de luto é natural e quando respeitado, pode ser bem elaborado, levando ao reequilíbrio emocional mais tarde.
Nesta fase de vivência de luto, evite privar-se das relações sociais, pois os amigos e familiares costumam oferecer um suporte emocional que auxilia no reequilíbrio interno.
Além disso, refletir, chorar e falar sobre o ocorrido podem ser formas de esvaziar as sensações de dor psíquica e tristeza vividos no momento.
Lembre-se de que o processo de luto se envolve com mudanças na rota de vida. Isto é, direcionamos nossos passos para novos caminhos, encontrando novos sentidos para a nossa existência – que, neste caso, não estejam mais pautados na vida a dois com a outra pessoa.

2. Retomada e fortalecimento da identidade individual
Quando uma pessoa inicia um matrimônio ou namoro, uma nova identidade pessoal passa a existir. É o que chamamos de “eu-conjugal”. Esse eu-conjugal está relacionado com a rotina do casal, os planos e projetos construídos a dois, entre tantas outras questões envolvidas com esse universo amoroso.
No entanto, quando ocorre o término e a perda do ser amado, a identidade do eu-conjugal passa a se dissolver. Aqueles planos feitos a dois talvez não tenham mais sentido. Aquela rotina construída no dia a dia do casal talvez não funcione mais. E assim por diante.
Frente a isso, é importante trabalhar na retomada da identidade individual. O que é importante para você? Quais passos deseja dar frente ao futuro? O que vai mudar a partir de agora? Quais atividades você gosta de fazer, mas estava negligenciando? O que pode ser interessante na sua rotina agora?
Pensar sobre esses pontos e praticar o autoconhecimento pode ser relevante.

3. Psicoterapia
A psicoterapia também pode contribuir, e muito, para casos nos quais há a necessidade de superar o arrependimento após uma traição. Se você sente que não está dando conta de atravessar as emoções e angústias vividas após a traição e o término, considere entrar em contato com um psicólogo.
A terapia pode lhe ajudar a entender melhor as suas emoções, aprendendo a lidar com elas de forma mais equilibrada e que sobrecarregue menos a saúde mental.
Além disso, é possível praticar o autoconhecimento, desenvolver a sua identidade individual, entre outros pontos que contribuem para a qualidade de vida.

4. Busca por novos projetos e sentidos para a vida
Encontrar novos sentidos e projetos para a vida também é interessante neste momento. Claro que isso não acontece da noite para o dia, ainda mais quando as emoções negativas estão bastante afloradas. No entanto, pensar sobre o futuro, buscar envolver-se em novas situações para aprender coisas novas, analisar novos projetos e dar passos diferentes pode abrir caminhos para um novo futuro.
Afinal, deixar para trás a história do casal e os planos que estavam sendo desenvolvidos é algo difícil e doloroso, mas pensar em novas perspectivas para o futuro pode contribuir para uma recuperação emocional qualificada.

5. Dar tempo ao tempo
Por fim, lembre-se de que o tempo passa, e que esse tempo, muitas vezes, contribui muito para a recuperação e a ressignificação de determinados acontecimentos de nossas vidas.
Sendo assim, não se apresse para iniciar um novo relacionamento. Não se sinta forçado a pular etapas apenas para cumprir um status social.
Respeite o seu tempo de recuperação, ouça as suas emoções e dê voz para si mesmo. Assim, as chances de superar o arrependimento após uma traição com mais tranquilidade poderão ser maiores.

Outro fator que pode contribuir na hora de superar o arrependimento após uma traição é o fato de pensar que cometer erros, em sua maioria, pode nos tornar pessoas mais compreensivas.
Obviamente, isso não é uma regra. Mas ter esse olhar mais positivo da situação, visando o ocorrido como uma passagem para um crescimento emocional e pessoal, pode ser um caminho bem promissor.

Reflita sempre levando em base as suas singularidades e não deixe de lado a possibilidade de contar com o auxílio de um profissional qualificado.
Boa sorte nas suas descobertas!

Referências
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