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Como manter a motivação no esporte

Para muitos atletas, manter a motivação no esporte pode ser um grande desafio, devido às adversidades que podem ser vividas no decorrer do desenvolvimento da carreira. No entanto, existem medidas que podem contribuir para o aumento da motivação nessas situações, embora não existam métodos mágicos e infalíveis.

Tudo está relacionado com a singularidade do sujeito, sempre respeitando os seus limites. Com base nisso, fizemos este conteúdo com uma série de sugestões, orientações e recomendações a respeito da motivação no esporte. Acompanhe e saiba mais.

Influências na motivação no esporte

Antes de iniciarmos o tópico de como manter a motivação no esporte, podemos pensar em algumas contingências e circunstâncias que podem impactar na motivação que o atleta cultiva no seu dia a dia. Assim, torna-se possível refletir sobre elas e pensar em estratégias voltadas àquilo que possa estar “faltando” na rotina do indivíduo. Veja a seguir:

1. Suporte da família e amigos
Em algumas situações, a falta de suporte da família e dos amigos pode acarretar problemas de motivação no atleta. Quando este não recebe apoio das pessoas importantes, pode se sentir pouco motivado para seguir adiante.
O problema pode se agravar quando além de não apresentar suporte, a família também apresenta comportamentos contrários à decisão do atleta, ou seja, minam a tomada de decisão com relação ao sonho de perseguir a carreira como esportista.
A comunicação e o diálogo são importantes nessas situações. Ser sincero com os familiares e amigos, deixar claro como você se sente e explanar a sua visão sobre o esporte pode contribuir para o alinhamento de expectativas.
Sendo assim, considere ter uma conversa franca com eles e lembre-se: você não é a sua família ou o que ela quer obrigar você a ser. A sua subjetividade é só sua.

2. Infraestrutura para os treinos
Sabemos que, em alguns locais do país, a falta de infraestrutura para os treinos é a realidade de muitos atletas e jovens que aspiram a carreira esportiva. Essa falta de estrutura pode ocasionar a falta de motivação, afinal, se falta espaço para desenvolver as habilidades profissionais, como o indivíduo poderá se sentir instigado a ir adiante?
Contudo, buscar patrocínio e formas de contornar o problema é uma medida válida. Não é fácil, tampouco simples, mas se o atleta deseja seguir adiante, é importante buscar meios de lidar com essa adversidade.

3. Condições financeiras
As condições financeiras também podem servir de motivação ou desmotivação para os atletas. É o caso de o indivíduo ter dificuldades para se locomover até o centro de treinamento, que pode ser em outra cidade, devido à falta de recursos financeiros para ir até lá.
Bem como a falta de dinheiro também pode atrapalhar na hora de pagar pelos treinos, materiais de suporte, entre outros custos referentes à prática esportiva.

4. Cultura de incentivo ao esporte
Sabemos que nem todos os esportes recebem o mesmo prestígio pela mídia e pelas pessoas no geral. Isto é, algumas práticas esportivas tendem a receber mais incentivo por parte das pessoas, enquanto outras não têm tanto estímulo assim.
Nesse segundo caso, a desmotivação pode aparecer devido à falta de reconhecimento da modalidade escolhida pelo atleta, como se ela não fosse importante para a sociedade e, logo, não fizesse sentido dispor esforços sobre essa atuação.

5. Características individuais e resiliência
Sem dúvidas, as singularidades e características individuais do sujeito também têm relação direta com a motivação no esporte.
Uma pessoa com características resilientes, por exemplo, pode conseguir lidar com mais facilidade com o fracasso no esporte, enquanto outra pode ficar extremamente desmotivada diante de uma perda.
Por isso, não podemos generalizar os fatores que contribuem para o aumento da motivação ou a redução dela, pois cada indivíduo é único e pode ter as suas próprias fontes de inspiração.

Como manter a motivação no esporte?

Agora que pudemos ter uma visão mais clara de alguns dos componentes envolvidos com a motivação no esporte, chegou o momento de pensarmos em alternativas para elevar essa disposição para os treinos e, até mesmo, para a participação nas competições.

Novamente, reiteramos que não se trata de um método único e infalível, pois a motivação está muito associada à singularidade do sujeito. Ainda assim, podemos pensar em ferramentas que podem trazer bons resultados, de acordo com os limites pessoais de cada um. Vamos adiante!

1. Cuidados com a autocobrança
A autocobrança excessiva pode, em muitos casos, minar a motivação no esporte. O sujeito que cria metas irreais para atingir pode se sentir extremamente pressionado, a ponto de reconhecer-se como incapaz de seguir adiante.
Ao não atingir as metas estabelecidas, pode se sentir frustrado e desmotivado, o que reduz o desempenho e o foco na prática esportiva.
Dessa maneira, cuidado com a autocobrança que você tem depositado na sua atuação. Fique atento aos seus próprios limites, pois isso pode ajudá-lo a criar métricas e metas que realmente estejam alinhadas às suas características pessoais.

2. Traçar metas e objetivos alinhados à realidade
Seguindo o que acabamos de propor acima, é interessante que o atleta comece a traçar metas e objetivos que estejam alinhados à realidade. Isto é, traçar metas que possam ser cumpridas sem que o atleta precise anular a sua saúde ou a sua vida pessoal, por exemplo.
Isso porque pode ser mais interessante buscar subir uma verdadeira “escadinha de crescimento”, do que querer pular etapas e atingir o ponto mais alto da carreira da noite para o dia.
Além de ser impossível na maior parte dos casos, essas metas irreais, como vimos anteriormente, podem provocar efeitos na motivação.
Em contrapartida, metas alinhadas à realidade e que podem ser bem exploradas, sendo atingidas gradualmente, podem servir de combustível para que o atleta enxergue o seu próprio crescimento e busque, a cada dia, por melhorias que estejam verdadeiramente ao seu alcance.

3. Propósito por trás da prática esportiva
Muitas vezes, o maior objetivo de um atleta pode ser a vitória em campo. Ou seja, não existem propósitos pessoais por trás da prática esportiva.
Embora a vitória seja verdadeiramente importante, os propósitos tendem a servir de combustível para a manutenção da motivação, especialmente em dias difíceis.
Sendo assim, refletir sobre os motivos pelos quais a prática de esportes é importante para o sujeito é algo que pode ser bem-vindo nessa situação.
Por que você quis ser um atleta? Qual o real motivo por trás da prática esportiva? Superar desafios? Crescer na vida? Ajudar, financeiramente, os seus familiares? Ser um exemplo para as novas gerações? Incentivar crianças carentes? Encontrar-se no seu próprio hobby que, agora, transformou-se em um trabalho incrível?
O processo de trazer o propósito à tona pode exigir tempo, dedicação e autoconhecimento. Ao mesmo tempo, é uma prática que tende a promover bons resultados, oferecendo uma nova visão sobre a sua maneira de atuar.

4. Ressignificação da perda
Ressignificar a perda também é uma medida que tende a alimentar a motivação no atleta. Isso porque, em algumas situações, a perda pode ser vista como catastrófica, como se ela fosse a pior coisa do mundo.
O atleta pode se culpar, sentir-se diminuído, entre outras consequências provenientes da hipervalorização do ganho.
Se o esporte é visto apenas como uma oportunidade para “ser melhor que o outro” e “ganhar”, o indivíduo pode se sentir muito impactado com a perda. Por isso, aprender a perder é uma forma de minimizar esse tipo de questão.
Não estamos dizendo que é fácil, mas buscar enxergar outras questões relacionadas à perda é um caminho interessante. Por exemplo, ao invés de vê-la como um mero fracasso no esporte, que tal considerá-la como uma etapa importante para o seu crescimento? Com ela, é possível aprender muitas coisas, enxergar pontos de melhoria, e assim por diante.
Claro que isso não significa que o atleta não sofrerá com a perda, pois isso é praticamente inviável. Contudo, enxergar a perda como algo que faz parte do processo de crescimento pode ser mais saudável do que enxergá-la como “o fundo do poço”.

5. Treinos alinhados aos limites do indivíduo
Os treinos devem ser alinhados aos limites psíquicos e físicos do sujeito. O excesso de treino pode acarretar em um aumento de estresse, bem como pode elevar as chances de ocorrer situações de lesão no esporte.
Por isso, é interessante se manter atento aos sinais do corpo e da mente: se a exaustão começa a aparecer com frequência, fique de olho. Lembre-se de que não somos máquinas, somos pessoas, com limites que têm como objetivo manter a nossa saúde e o nosso bem-estar.
Quando nos forçamos a ultrapassá-los a qualquer custo, e não de forma gradativa e com base em crescimentos, podemos estar nos expondo a situações desgastantes e que geram desmotivação.

6. Foco em trabalho em equipe
O trabalho em equipe também pode servir como uma ferramenta de motivação. Quando o grupo recebe apoio mútuo e desenvolve-se com foco no bem maior, os indivíduos ali presentes podem se sentir parte de uma comunidade que possui objetivos semelhantes aos deles. Assim, podem se sentir mais acolhidos e instigados em ir adiante.
O relacionamento interpessoal dentro da equipe também pode acarretar esse tipo de efeito interessante.

7. Alinhamento de expectativas
A frustração e a desmotivação podem aparecer quando não ocorre um alinhamento de expectativas entre a realidade e o atleta. Ou seja, ele pode estar almejando um objetivo que, ainda, não faz parte da sua realidade, embora possa fazer algum dia.
Não estamos dizendo que o indivíduo não possa sonhar alto, mas, sim, estamos dizendo que ter os pés no chão e agir de acordo com a realidade pode evitar frustrações intensas que poderiam minar a motivação.
Por isso, antes de focar apenas naquela vitória memorável, que tal pensar sobre as habilidades que necessitam de aprimoramento? Ou pensar na rotina que pode ser posta em prática para elevar a qualidade dos resultados? Ou ainda, pensar nos passos que precisam ser dados antes de chegar àquela vitória memorável? Pense sobre isso.

8. Cuidados com a saúde mental
A saúde mental está intimamente relacionada com a motivação de qualquer pessoa. Quando as questões emocionais são negligenciadas, não só a motivação fica abalada, como outras esferas da vida psíquica do indivíduo.
Sendo assim, separar um tempo para se dedicar à saúde mental, reduzindo as fontes de estresse e ansiedade; trabalhando para a produção de prazer e bem-estar; aproximando-se das pessoas queridas e que fazem bem; colocando em prática hábitos saudáveis diversos; entre outros fatores, é uma forma de auxiliar na manutenção da saúde mental do indivíduo.
Essa manutenção pode vir a ser uma peça chave na hora de manter a motivação no esporte.

9. Autoconhecimento
O autoconhecimento também pode ser considerado quando pensamos em manter a motivação no esporte. Quando o sujeito conhece a si mesmo, ele enxerga os seus potenciais, seus limites, suas emoções por trás das situações, entre outros pontos.
Esse conhecimento pode ajudá-lo a tomar melhores decisões, bem como pode ser o estopim para que ele mantenha a disciplina, mesmo em dias difíceis.
Afinal, devemos ter a consciência de que nem sempre estaremos motivados, pois é impossível acordar super disposto todos os dias. Mas, com a prática do autoconhecimento, podemos aprender a lidar melhor com nós mesmos nos dias ruins, projetando caminhos saudáveis para percorrermos nessas situações.

10. Psicologia Esportiva
Ao lado do processo de autoconhecimento, encontramos a psicologia Esportiva como uma fonte de conhecimento, aprendizagem sobre as emoções e mudanças de perspectivas sobre as situações.
Por conta disso, esse é mais um processo que pode ajudar a manter a motivação no esporte.
O atleta terá um espaço aberto para falar dos seus medos, angústias e anseios, bem como poderá refletir sobre os seus objetivos, metas, etc.
Além disso, ele receberá orientações e direcionamentos que podem ajudá-lo a tomar melhores decisões, que elevam a inteligência emocional, a qualidade de vida e a saúde como um todo.
Logo, essa manutenção da saúde mental e essa abertura para o autoconhecimento, que a psicoterapia propõe, podem cultivar uma maior motivação frente aos desafios vividos na carreira esportiva.

11. Compreender a desmotivação
Compreender a ideia de que nem sempre estaremos motivados também é importante. Muitas vezes, vemos a mídia falando sobre motivação como se ela fosse uma pílula mágica que devesse ser tomada todos os dias. Porém, nós somos humanos e as nossas emoções oscilam por uma série de motivos.
Sendo assim, é injusto querermos que as nossas emoções sejam sempre 100% positivas. Primeiro porque as motivações negativas possuem funções importantes em nossas vidas – como oferecer reflexões para que mudemos algumas atitudes; segundo porque sem as emoções ruins, não poderíamos aferir as emoções positivas; terceiro porque não somos máquinas e, diante de situações ruins, teremos emoções mais negativas.
Portanto, considere compreender a desmotivação como algo que faz parte da vida, ou seja, é algo que poderá aparecer de vez em quando. Isso significa que chorar, reclamar e lamentar algumas coisas é mais do que normal.
Agora, querer se privar completamente das emoções vistas como ruins, acreditando que elas são vilãs, é algo que pode sobrecarregar a saúde mental.
Respeite os seus momentos e os seus limites. Contudo, em casos de desânimo excessivo, lembre-se de conversar com um psicólogo, ok?

Como o treinador pode incentivar a motivação no atleta?

Além do processo que o próprio indivíduo atleta pode colocar em prática para lidar com os seus momentos de desmotivação, também podemos considerar a ajuda do treinador nesta jornada. A seguir, descrevemos algumas dicas que podem ser consideradas com base nesse objetivo:

1. Escuta ativa e acolhimento
Escutar os atletas, dando espaço para que eles possam falar sobre as suas emoções e angústias é uma forma de contribuir para a saúde mental deles. Afinal, por meio da fala nós podemos expressar o que sentimos, e quando somos acolhidos, tendencialmente podemos nos sentir melhores diante das situações difíceis.
Embora a sua escuta e o seu acolhimento não possam eliminar a desmotivação do atleta, demonstrar esse olhar cuidado pode fazer muita diferença.

2. Respeito aos limites
Cuidado com as cobranças excessivas que vêm sendo depositadas nos atletas. Lembre-se sempre de que estamos falando de seres humanos, e não de máquinas com superpoderes. Além de um atleta de alto rendimento, existe uma pessoa com limites emocionais e físicos.
Saber reconhecer esses limites é peça-chave para não sobrecarregar o sujeito com metas e rotinas intensas e excessivas.

3. Traçar metas em conjunto
Procure traçar metas em conjunto com os atletas. Assim, eles se sentirão incluídos e acolhidos, além de poderem opinar de acordo com os desejos de cada um.
Ao mesmo tempo, incentivar a prática de traçar metas e objetivos também é uma forma de fomentar o desenvolvimento do atleta.

4. Incentivo diante das perdas
Além de escutar e apoiar diante das situações difíceis, como nas perdas, lembre-se de ser um incentivo para o atleta. Ajude-o a enxergar as possibilidades e as aprendizagens por trás do fracasso, sem colocá-lo em uma posição de falho como, infelizmente, a mídia pode fazer muitas vezes.
Todo mundo erra e todo mundo pode perder alguma coisa de vez em quando. Aceitar essa realidade e incentivar a busca por melhorias a partir disso é algo relevante e interessante.

E lembre-se: você, enquanto treinador, também pode e deve cuidar da sua saúde mental, a fim de construir uma atmosfera saudável para você e, consequentemente, para os seus atletas. Cuide-se!

Referências
LOPES, Priscila; NUNOMURA, Myrian. Motivação para a prática e permanência na ginástica artística de alto nível. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 21, n. 3, p. 177-187, 2007.

STEFANINI, Filipe. A psicologia interferindo na motivação: uma ferramenta essencial para o sucesso de um personal trainer. 2008.