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Como lidar com a mentira no casamento?

Como lidar com a mentira no casamento?

Nem sempre é fácil lidar com a mentira no casamento. Inclusive, muitas relações podem ficar fragilizadas por conta das mentiras que são contadas para ou pelo(a) parceiro(a).

Porém, uma coisa que devemos ter em mente é que a mentira existe em qualquer relação humana. Obviamente, há mentiras prejudiciais, outras nem tanto, e aquelas que são contadas apenas com o propósito de manter o que chamamos de “boa vizinhança”. Isso quer dizer que não existe uma pessoa sequer que nunca tenha mentido – mesmo sem intenção de mentir, ao ser “enganado” pela própria memória que tem de uma situação.

Portanto, refletir sobre o assunto e buscar conversar com o(a) parceiro(a) sobre os casos de mentira na relação é muito importante, e discutimos tudo isso no decorrer deste conteúdo. Acompanhe.

Por que as pessoas mentem?

Antes de pensarmos em formas de lidar com a mentira no casamento, talvez seja coerente fazermos uma reflexão acerca dos motivos pelos quais as pessoas podem mentir. O que será que leva uma pessoa a mentir? Quais são as motivações por trás da mentira?

Na realidade, cada caso é um caso. Porém, existem fatores mais amplos que podem fazer parte das mentiras que são contadas no cotidiano. A seguir, exemplificamos algumas delas:

1. Necessidade de preservação
Entende-se por necessidade de preservação aquela necessidade de proteger a si mesmo ou a um terceiro.
Dentro do casamento, a pessoa pode mentir para não ser prejudicada com a verdade, bem como pode mentir para não magoar ou prejudicar o outro.
Um exemplo seria a pessoa mentir sobre os resultados que o parceiro atingiu na cama, dizendo que ele “foi muito bom”, mesmo que isso seja uma mentira. Aqui, há a necessidade de preservar o bem-estar emocional do parceiro que não tem um desempenho tão positivo no sexo.
Outro exemplo seria mentir dizendo que não conversou com uma pessoa pela qual o parceiro tem ciúme, apenas para não abrir caminho para uma discussão ou algo que criasse uma atmosfera negativa.

2. Prejudicar algo ou alguém
Da mesma forma que existe a necessidade de preservar a própria integridade e não prejudicar o outro, também existe o desejo de prejudicar alguém.
Por exemplo, se o parceiro tem ciúme de um amigo da sua mulher, pode mentir sobre esse amigo para que ela se afaste dele.
Dito de outro modo, é prejudicando um terceiro, com mentiras e invenções, que o parceiro interage com a parceira, visando afastá-la de um “inimigo”, digamos assim.

3. Necessidades sociais
As necessidades sociais consistem em criar um senso de pertencimento no grupo no qual o indivíduo está inserido.
Vamos supor que o casal está começando a frequentar novos eventos, juntos. Durante as conversas com as outras pessoas, um dos dois pode inventar histórias para se sentir parte daquele grupo, mesmo quando são mentiras “bobas”.
Por exemplo, a pessoa pode fingir que viajou para um país que sequer conhece, apenas para ser aceita na roda de conversa em que está.
Embora isso possa não prejudicar, diretamente, o casal, ainda assim existem mentiras apresentadas a terceiros que podem, mais tarde, trazer consequências para a relação a dois – especialmente quando estes discordam do comportamento de inventar algo a terceiros.

4. Procrastinar a resolução de um problema
A necessidade de procrastinar a resolução de um problema também pode provocar o comportamento de mentir.
Vamos supor que o marido solicita de sua esposa que ela faça algo no carro do casal. Porém, ela se esquece ou simplesmente tem preguiça de fazer tal demanda. Mais tarde, quando o marido pergunta se ela resolveu o problema, ela pode mentir dizendo que não teve tempo ou que a oficina estava fechada quando ela foi lá.
Assim, ela ganha tempo para resolver o problema noutro dia.

5. Ganhar vantagem
A mentira também pode ser usada como forma de ganhar vantagem em cima de um terceiro. Dentro da relação, um dos dois pode inventar histórias para encantar o outro, fazendo-o acreditar que o parceiro é uma pessoa incrível, que conquistou resultados maravilhosos.
É o caso de dizer que foi promovido no trabalho para justificar gastos exorbitantes das finanças do casal, por exemplo. Assim, o outro pode perceber isso como uma justificativa plausível e, ainda, o mentiroso sai da história como um vitorioso.

6. Necessidade de estima
O desejo de ser apreciado e amado é algo intrínseco dos seres humanos. Nós queremos pertencer a algum grupo e sermos reconhecidos por nossas qualidades e habilidades.
Porém, diante dessa situação, algumas pessoas podem mentir para conquistar esse tipo de estima.
Por exemplo, imagine que o marido compra um bolo em uma padaria renomada da cidade, mas, na hora de oferecê-lo à esposa, diz que foi ele mesmo quem fez, apenas para que ela se sinta feliz pelo gesto e demonstre afeto diante da situação.
Esse exemplo pode parecer algo “leve”, em se tratando de mentira, porém, muitas outras mentiras podem ser contadas para atingir esse objetivo de estima.
Sendo assim, essa categoria, em específico, pode estar relacionada com uma insegurança por parte de um dos lados, bem como por conta de uma baixa autoestima.
Outro exemplo seria a pessoa se endividar ao comprar um carro e dizer ao parceiro ou parceira que o comprou à vista, de presente para ele(a), como forma de agradá-lo(a).

7. Humanos liberam endorfina quando escapam de algo negativo
Estudos apontam que nós, seres humanos, liberamos endorfina quando escapamos de uma situação negativa.
Pensando nas mentiras no relacionamento, podemos compreender porque algumas pessoas costumam mentir mais do que as outras.
Essas pessoas experimentam as sensações de prazer e bem-estar provocados pela endorfina produzida quando mentem, ao escapar de algum flagra ou confronto, por exemplo.
Assim, à medida que essa sensação é sentida, o mentiroso pode se acomodar nessa posição, contando novas mentiras que afastam qualquer chance de ter que lidar com problemas.

8. Falsas memórias
A nossa memória não é perfeita. Ninguém tem uma memória perfeita. Inclusive, podemos confundir memórias de dias diferentes, criando um novo enredo que, na realidade, só existe na nossa mente.
É por isso que as testemunhas de um crime podem contar duas versões diferentes, afinal, cada uma memoriza de acordo com o seu ponto de vista e o foco que tiveram em detalhes diferentes.
Por isso, algumas situações nas quais nos deparamos com mentiras, simples ou não, podem estar relacionadas com o fato de que a nossa mente, em algumas circunstâncias, pode “nos enganar” sem que percebamos isso.

9. Vergonha de admitir um erro
Também não podemos deixar de citar o fato de que a mentira, muitas vezes, está associada à vergonha de admitir um erro.
Embora tenha relação com a necessidade de preservação, que vimos no tópico um desta lista, ela pode ser entendida como um pouco diferente.
No caso da preservação, a pessoa não admite o erro para não se prejudicar. Já no caso da vergonha, a pessoa não o admite por se sentir culpada, diminuída, ou algo semelhante.
Assim sendo, pode ser que ela invente mentiras que ajudem a aniquilar a verdade que está a consumindo com a culpa ou a vergonha.

Como lidar com a mentira no casamento?

Acima, pudemos discutir sobre diversos pontos relacionados à mentira no cotidiano, e não apenas no casamento.
Porém, o nosso foco é trazer informações e orientações para casais que possam estar enfrentando crises matrimoniais por conta da mentira. Veja a seguir:

1. Identificação da mentira
Identificar a mentira, de fato, pode ser um bom ponto de partida. Isto é, analisar a situação com racionalidade e verificar se realmente é uma mentira é importante para que não caiamos no erro de acusar sem saber.
Portanto, analise os sinais e veja se realmente se trata de uma mentira. Caso não encontre indícios de mentira, antes de acusar, procure conversar e questionar o que realmente aconteceu, para tentar entender primeiro.

2. Conversa franca para compreender os motivos pelos quais a mentira existiu
Se você detectou sinais e provas de que determinada situação foi baseada em uma mentira, converse com o seu parceiro ou parceira.
Porém, lembre-se de que essa conversa pode acontecer um pouco depois da descoberta, ou seja, quando você se sentir mais calmo e tranquilo. Afinal, quando estamos com as emoções muito aguçadas, podemos falar sem pensar e agir por impulso, arrependendo-nos mais tarde.
Por isso, sugerimos que, ao detectar os sinais, você reflita sobre a situação e peça para conversar com o outro quando estiver mais calmo.
Nessa conversa, tente entender os motivos pelos quais a mentira existiu. Era vergonha? Medo? Analisar isso pode trazer subsídios para que você tome uma decisão mais clara diante do ocorrido.

3. Analisar a situação e os danos causados pela mentira
Quais foram os danos causados pela mentira? Quais as consequências diante dessa mentira? Pensar sobre isso também pode ser um bom caminho.
Tanto individualmente, quanto com a companhia do outro. Afinal, dessa forma é possível avaliar as consequências sentidas por quem sofreu a mentira e por quem mentiu.
Será que é possível consertar as consequências e danos? O que irá acontecer agora?

4. Refletir e dialogar sobre o que fazer diante da mentira
Depois de analisar toda a situação, o casal também pode refletir e dialogar sobre o que pode ser feito diante da mentira.
Será que o processo de separação é a única solução? Quais outras medidas podem ser tomadas frente à situação de mentira? Como lidar com o comportamento mentiroso dentro da relação?
Lembre-se de ser sincero e de não negligenciar as suas emoções diante disso. Se você se sente traído e desconfiado, diga isso ao outro. Conversem sobre como se sentem e sobre o que pode ser feito diante desses sentimentos. Será que é preciso dar um tempo? Ou permitir que, aos poucos, tudo seja reconstruído?
Apenas vocês, com paciência, é que poderão pensar em quais passos podem ser promissores para seguir adiante.

5. Honestidade como “cláusula” do relacionamento
Quando nos casamos com uma pessoa, automaticamente, mesmo que de modo não explícito, um “contrato de casamento” é criado. Esse contrato pode ter relação com o que o outro aceita ou não aceita na relação, o que pode ou não pode ser feito pelos dois, e assim por diante.
Por exemplo, nos casos de casamentos monogâmicos, fica subentendido, nas entrelinhas, que cada parceiro quer exclusividade, ou seja, o outro não pode ter relações fora do casamento.
Porém, nem sempre todas as regras desse contrato ficam claras para ambos os lados. E montá-las, em conjunto, pode ser um caminho para seguir adiante lado a lado – caso seja o desejo de ambos e não esteja prejudicando ninguém por conta disso.
Conversem sobre a necessidade de ser honesto na relação e o quanto isso impacta na confiança e, consequentemente, no laço criado entre o casal.

6. Dialogar sobre o quanto falar a verdade é mais benéfico para ambos
Embora algumas verdades possam ser dolorosas, ainda assim elas tendem a ser mais benéficas do que as mentiras.
Deixar isso claro ao parceiro ou parceira pode ser um bom caminho. Por exemplo, aponte o que poderia ter sido feito caso o(a) parceiro(a) tivesse admitido a mentira antes de ela ser detectada por você. Também fale sobre como seria possível resolver o problema se a verdade tivesse aparecido desde o começo.
Agora, compare com a situação atual e mostre o quanto a mentira pode fragilizar a confiança, muito além do que o erro pôde fazer.
Essas reflexões podem ajudar o outro a compreender que, de fato, a verdade tende a ser mais benéfica para ambos os lados.

7. Apresentar as consequências da mentira
Além de falar sobre os benefícios que a verdade pode promover para a relação, considerem discutir sobre as consequências negativas da mentira.
Como fica a confiança depois da mentira? E o clima entre o casal? Será que a conexão se mantém a mesma? Essas e outras reflexões podem ser bem-vindas na hora de restabelecer o relacionamento e priorizar a verdade nas próximas situações.

É possível recuperar a confiança no(a) parceiro(a) que mentiu?

É possível sim, bem como, em alguns casos, pode ser que a recuperação não seja tão possível assim.

Não existe forma de generalizar essa resposta. Cada casal é único, assim como cada situação de mentira é completamente diferente.

O ideal é que o casal invista na comunicação no relacionamento para pensar nos “prós e contras” do que aconteceu, além de analisar as consequências e imaginar como poderá ser o futuro do casal de agora em diante.

Lembre-se de que ninguém é obrigado a aceitar mentiras. Se você sente que a relação se abalou profundamente por isso e não quer mais continuar com a mesma pessoa, não se sinta culpado.

Você pode decidir por tentar mais uma vez, como pode decidir seguir a sua vida sozinho. Quem deve pesar a situação na balança e analisar o que pode ser mais viável é você mesmo.

Inclusive, a psicoterapia individual pode ajudá-lo a refletir sobre toda essa temática, buscando formas de lidar com o que sente e de analisar o que pode ser feito em seguida.

Afinal, há casos e casos: alguns casais se fortalecem depois de superar uma traição e uma mentira, enquanto outros podem terminar para sempre.

Psicoterapia de casal pode ajudar a lidar com a mentira no casamento

Além de refletir a dois sobre o que pode ser feito em seguida, a terapia de casal também pode servir de ferramenta para o desenvolvimento do autoconhecimento do casal e na hora das tomadas de decisão.

Portanto, considerem essa possibilidade caso percebam que o conflito interno exige algum tipo de intervenção psicológica que possa contribuir para uma melhor compreensão do que realmente aconteceu e do que pode ser feito de agora em dia.

Nós temos um conteúdo completo sobre terapia de casal aqui em nosso site. Cogite lê-lo para saber mais sobre essa abordagem psicológica de tratamento.

Não se culpe pela mentira alheia

Por fim, outro ponto de reflexão, que podemos trazer neste conteúdo de como lidar com a mentira no casamento, é o fato de que a mentira não é culpa de quem a ouve. Embora você possa sentir que tem culpa pelas mentiras alheias, lembre-se de que não está no seu controle coordenar o que o outro faz ou deixa de fazer.

Portanto, você não tem culpa se a outra pessoa optou por mentir ao invés de contar a verdade, por mais dolorosa que ela pudesse ser.

Se essa culpa estiver muito intensa em sua vida, considere buscar psicoterapia para aprender a lidar com isso e vivenciar formas de superar essas sensações.

Esperamos que este conteúdo possa ter ajudado de alguma forma. Até mais!

Referências
ANOLLI, L. Mentir: Todos mentem, até os animais. Tradução de Silva Debetto C. Reis. – São Paulo : Edições Loyola : Paulinas, 2004.

HARTLEY, G. Por que as pessoas mentem: Quando identificar rapidamente quando alguém está mentindo. Tradução de Leonardo Castilhone. – São Paulo : Universo dos Livros, 2018.