Cirurgia de Transgenitalização feminina
O que é a cirurgia de Transgenitalização Feminina?
A Cirurgia de Transgenitalização Feminina é um procedimento no qual as estruturas externas do Sistema Reprodutor Feminino são recriadas a partir das estruturas do Sistema Reprodutor Masculino em uma mulher transgênero.
Tipos de Cirurgia
Tipos de procedimentos
Existem diferentes tipos de cirurgia de transgenitalização disponíveis para mulheres transgênero.
A decisão de realizar a cirurgia de afirmação de gênero — assim como o tipo de procedimento — é profundamente pessoal. Nem todas as mulheres trans optam por cirurgias genitais, e isso não invalida sua identidade de gênero.
Fatores como saúde geral, acesso a cuidados médicos, apoio psicológico, custo e preferências individuais podem pesar nessa decisão.
Orquiectomia (remoção dos testículos)
A orquiectomia bilateral é um procedimento cirúrgico relativamente simples, realizado por um urologista, que envolve a remoção dos testículos por meio de uma pequena incisão no escroto.
Essa cirurgia é frequentemente indicada como etapa inicial da transição médica e traz os seguintes benefícios:
- Redução significativa da produção de testosterona, o que pode aliviar sintomas de disforia;
- Possibilidade de reduzir ou suspender o uso de antiandrogênicos, como a espironolactona;
- Diminuição da dose necessária de estrogênio, reduzindo riscos associados ao tratamento hormonal prolongado.
A recuperação geralmente leva cerca de duas semanas, e o procedimento pode ser realizado em regime ambulatorial.
Como a orquiectomia leva à esterilidade permanente, é importante discutir previamente com a equipe médica a possibilidade de preservação da fertilidade, como o armazenamento de sêmen, caso seja do interesse do paciente.
Vulvoplastia
A vulvoplastia é a reconstrução cirúrgica da vulva a partir dos tecidos genitais pré-existentes. O procedimento envolve a criação das estruturas externas da genitália feminina, incluindo:
- Lábios (maiores e menores): dobras de pele que circundam a abertura vaginal;
- Clitóris: formado a partir do tecido do glande peniano, preservando terminações nervosas para manter a sensibilidade sexual e capacidade orgástica;
- Capuz do clitóris: uma dobra protetora de pele sobre o clitóris;
- Abertura da uretra, reposicionada abaixo do clitóris para permitir a micção com aparência anatômica feminina.
Esse procedimento não inclui a criação do canal vaginal.
Vaginoplastia
A vaginoplastia é um procedimento mais completo que inclui tanto a vulvoplastia quanto a criação do canal vaginal, permitindo a penetração sexual vaginal.
O método mais comum é a inversão peniana, em que a pele do pênis é invertida para formar o revestimento interno da neovagina. Em alguns casos, enxertos adicionais de pele ou mucosa podem ser utilizados para atingir profundidade e lubrificação adequadas.
Essa cirurgia tem o objetivo de criar uma genitália funcional, estética e sensível, alinhada com a identidade de gênero da pessoa.
Quais os procedimentos de transgenitalização feminina mais realizados?
Um estudo realizado nos Estados Unidos com 71 mulheres trans mostrou que (1):
Apenas 9 mulheres (13%) haviam realizado algum tipo de cirurgia genital;
- 4 delas fizeram orquiectomia bilateral sem reconstrução adicional;
- 1 realizou orquiectomia e penectomia, também sem reconstrução;
- 2 optaram pela vaginoplastia completa;
- 2 não tiveram o tipo de cirurgia especificado no estudo.
Quais os critérios para indicação da cirurgia?
De acordo com a World Professional Association for Transgender Health (WPATH), os seguintes critérios devem ser atendidos antes da realização de uma cirurgia de afirmação de gênero:
- Presença de disforia de gênero persistente e bem documentada, diagnosticada por profissional habilitado;
- Capacidade de tomar decisões informadas, demonstrando entendimento claro sobre os riscos, benefícios e implicações do tratamento;
- Idade mínima de 18 anos (requisito válido em muitos países, incluindo o Brasil);
- Estabilidade clínica em relação a eventuais condições médicas ou de saúde mental coexistentes;
- Cartas de recomendação de dois profissionais de saúde mental qualificados;
- Ter realizado ao menos 12 meses contínuos de terapia hormonal compatível com o gênero com o qual se identifica (no caso de cirurgias que envolvam características sexuais secundárias).
Importância da avaliação psicológica e psiquiátrica
A avaliação com psicólogos e psiquiatras especializados é um passo essencial no processo de preparação para a cirurgia. É importante reforçar que a inconformidade de gênero não é um transtorno mental. No entanto, ela pode estar associada a questões como ansiedade, depressão ou transtornos relacionados ao estresse, especialmente em contextos de discriminação ou rejeição social.
Essas condições, quando presentes, devem ser identificadas e tratadas com cuidado, garantindo o bem-estar emocional da pessoa trans antes e após a cirurgia.
Sobre o prazo de 12 meses de vivência na transição
O requisito de viver plenamente no gênero com o qual se identifica por pelo menos 12 meses antes da cirurgia foi estabelecido como uma medida de cautela. Embora reconhecidamente arbitrário, esse período busca reduzir riscos de arrependimento em relação a um procedimento irreversível.
Vale lembrar, no entanto, que cada pessoa tem seu próprio tempo: algumas podem se sentir prontas antes de 12 meses, enquanto outras podem precisar de mais tempo para amadurecer sua decisão.
Complicações
Embora a maior parte dos pacientes evolua bem após a cirurgia, o risco de complicações existe e deve ser considerado.
Entre as principais complicações da cirurgia de transgenitalização feminina, incluem-se:
- Mudanças na sensação sexual;
- Retenção urinária;
- Vagina muito rasa ou pequena para a relação sexual;
- Estreitamento ou fechamento da abertura vaginal (estenose vaginal);
- Necrose tecidual da nova vagina;
- Formação de uma comunicação entre o reto e a vagina (fístula retovaginal);
- Estreitamento da uretra (estenose uretral).