Cigarro Eletrônico (Vipe)
O que é o cigarro eletrônico?
O cigarro eletrônico, também conhecido como vape, é um dispositivo com formato de um cigarro convencional ou caneta.
Ele contém uma bateria e um depósito onde é colocado um líquido concentrado de nicotina. Esta líquido é então aquecido e inalado.
Além da nicotina, o cigarro eletrônico se utiliza de solventes como água, propilenoglicol, glicerina e aromatizantes para dar sabor.
A indústria do tabaco lançou esses produtos no mercado usando três estratégias principais:
- Redução de danos em relação ao tabagismo convencional
- Opção de tratamento para parar de fumar;
- Opção para ambientes fechados, uma vez que eles não produzem monóxido de carbono.
Apresentados como “saudáveis”, os cigarros eletrônicos seriam uma “solução tecnológica” para o anseio de uma importante fração de tabagistas. A ideia é poder fumar sem culpa, já que o produto “se trataria apenas de vapor de água” e não conteria substâncias tóxicas e perigosas.
Atualmente, está bastante claro que este discurso não é real. Mais do que isso, os prejuízos relacionados ao cigarro eletrônico são equiparáveis aos dos cigarros convencionais.
Frente à falta de evidência para qualquer um destes potenciais benefícios, a ANVISA estabeleceu a regulamentação que proibiu venda, importação e propaganda desses produtos (RDC 46/2009).
Este é o mesmo entendimento de pelo menos 32 países proíbem a venda de cigarros eletrônicos de nicotina. Além disso, 79 países permitem que eles sejam vendidos, porém com restrições.
Potenciais prejuízos
A composição do cigarro eletrônico é diferente da composição do cigarro tradicional. De fato, ele não tenha muitas das substâncias tóxicas liberadas pela queima do tabaco tradicional. Por outro lado, ele libera outras substâncias cancerígenas e com grande potencial para danos à saúde.
Os cigarros eletrônicos contêm cancerígenos comprovados para pulmão, bexiga, esôfago e estômago.
Seu uso está também diretamente ligado ao surgimento de várias doenças respiratórias, gastrointestinais, orais, entre outras. Por fim, eles também possuem grande potencial para causar dependência química.
De acordo com um estudo de toxicologia australiano, a análise destes dispositivos identificou 243 produtos químicos únicos. Trinta e oito deles foram listados como potencialmente prejudiciais à saúde.
Lesão Pulmonar Associada ao Uso de Cigarro Eletrônico(EVALI)
A Lesão Pulmonar Associada ao Uso de Cigarro Eletrônico, conhecida como EVALI, foi descrita em 2019, a partir do relato de casos nos Estados Unidos e em outros países.
A maioria dos pacientes afetados parece ter usado produtos contendo tetrahidrocanabinol (THC), o principal componente psicoativo da maconha. Compostos como o acetato de vitamina E também aumentam o risco para a EVALI.
Ela provoca uma reação inflamatória no pulmão, podendo causar fibrose pulmonar, pneumonia e chegar à insuficiência respiratória.
A EVALI envolve uma série de sintomas respiratórios agudos, incluindo tosse, falta de ar, dor no peito, febre e, em alguns casos, vômitos e diarreia. Esses sintomas podem variar de leves a graves, sendo que alguns pacientes podem exigir hospitalização, cuidados intensivos ou até mesmo suporte respiratório.
Mesmo no caso de sintomas leves, a avaliação por um especialista é fundamental, já que eles podem ser indicativos de problemas pulmonares.
Quem são os usuários de cigarro eletrônico?
Apesar da proibição, a comercialização online é comum e bastante difundida no Brasil, inclusive para crianças e adolescentes. A estimativa é que em 2015 havia aproximadamente 600 mil usuários de cigarros eletrônicos no Brasil (1).
Esses dispositivos atraem pessoas que nunca fumaram, persuadidas pelos aromas agradáveis, sabores variados, “inovação tecnológica” e estigmas de liberdade.
De acordo com um estudo australiano, em 2019, 53% dos usuários de cigarros eletrônicos também eram fumantes (“usuários duplos”), 31% eram ex-fumantes e 16% nunca fumaram. Entre as pessoas de 18 a 24 anos, metade dos usuários de cigarros eletrônicos nunca fumaram cigarros convencionais (1).
No Brasil, a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar de 2019 (PeNSE, 2019) mostrou que 16,8% dos escolares de 13 a 17 anos já haviam experimentado o cigarro eletrônico (sendo 13,6% nos de 13 a 15 anos de idade e 22,7% nos de 16 e 17 anos) (1)
Assim, podemos dizer que o uso de cigarros eletrônicos na maior parte das vezes não tem relação com o tratamento para parar de fumar, especialmente entre os jovens.
O cigarro eletrônico ajuda no tratamento para parar de fumar?
As principais entidades médicas no Brasil e no mundo, incluindo a Sociedade Torácica Americana, a OMS e a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia são veementemente contrárias ao uso dos cigarros eletrônicos como parte do tratamento para parar de fumar (1, 2, 3).
Enquanto outros dispositivos recomendados, como os adesivos de nicotina, permitem controlar e reduzir gradativamente a quantidade de nicotina que é ofertada, o cigarro libera sempre a mesma quantidade, além de não existir regulação para a dose de nicotina que cada marca coloca nos líquidos usados no cigarro.
Por fim, diversos estudos feitos sobre a ação dos cigarros eletrônicos para ajudar a deixar de fumar não mostraram qualquer benefício neste sentido.
O efeito dos cigarros eletrônicos é justamente o oposto. Ele acaba por contribuir para o aumento do vício na nicotina e no tabaco, já que os sabores de aparelho apelam para um grupo mais jovem, que pode acabar desenvolvendo o vício e iniciando o uso do tabaco.