Avaliação física pré-participação esportiva
Quais os objetivos da avaliação física pré-participação esportiva?
A avaliação física, geralmente feita por profissionais de educação física, tem por objetivo identificar necessidades específicas de cada indivíduo com a finalidade de potencializar os objetivos estabelecidos e minimizar o risco e lesões.
Algumas pessoas realizam atividade física com foco em preservar a saúde; outros o fazem com o objetivo de minimizar os efeitos de alguma condição de saúde previamente identificada; alguns buscam uma melhora da aparência física; por fim, outros buscam uma melhora de desempenho em modalidades esportivas específicas ou a prevenção de lesões nesses esportes.
Identificar esses objetivos é importante porque eles é que direcionarão a prescrição de exercícios. A avaliação pré-participação precisa ser individualizada de acordo com as demandas exigidas pelos exercícios prescritos.
Alguns tipos de avaliação podem ser fundamentais para certos atletas, mas completamente desnecessárias para outros, gerando custos e perda de tempo desnecessários.
Histórico de saúde
Após entender os objetivos, é preciso identificar particularidades individuais que possam interferir na prescrição de exercícios, incluindo:
- Problemas musculoesqueléticos, como tendinopatias, artrose ou dores articulares em geral;
- Problemas cardiovasculares que possam limitar a prática de certos exercícios;
- Histórico de lesões;
- Cirurgias prévias, como uma prótese do joelho ou quadril.
Essa é uma parte importante da avaliação, considerando-se que a prescrição de exercícios será diferente em cada uma dessas situações.
No entanto, é preciso diferenciar a avaliação física pré-participação da avaliação médica pré-participação.
Não faz parte da avaliação física a avaliação de riscos para a saúde ou a identificação de problemas de saúde que posam se agravar com o exercício físico. Isso é papel da avaliação médica, que é feita geralmente pelo médico do esporte.
Avaliação de força
Ainda que a força possa ser medida de forma objetiva, não existem parâmetros claros para dizer se uma musculatura está forte ou se ela está fraca.
A força depende de fatores como tamanho e altura, além da demanda específica de cada pessoa.
No entanto, a mensuração da força pode ajudar a identificar desquilíbrios entre os membros ou desequilíbrios entre grupos agonistas e antagonistas.
Desequilibrios superiores a 10% contribuem para o desenvolvimento de certos tipos de lesões. Eles podem ser corrigidos por meio de uma prescrição de exercícios direcionada.
Os dois principais métodos para a avaliação de força são o teste isocinético e a dinamometria.
O teste isocinético é feito em um aparelho que faz um movimento em velocidade constante, enquanto a pessoa avaliada deve fazer o máximo de força naquela velocidade. Como desvantagem, ele é pouco maleável, sendo utilizado para a avaliação de poucos grupos musculares. Além disso, ele é feito com um aparelho que tem um alto custo e que não é amplamente disponível.
Já a dinamometria mede a força máxima contra uma plataforma ou aparelho que está parado. Como desvantagem, ele tende a ser menos preciso quando não realizado com a técnica adequada. Por outro lado, a dinamometria permite a avaliação de praticamente qualquer grupo muscular.
Avaliação do movimento
Infelizmente, é muito comum entre praticantes de academia que se de valor excessivo para o peso total que está sendo levantado, sem se preocupar com a qualidade de movimento.
O maior peso alcançado muitas vezes não está associado a uma maior força, mas sim a movimentos compensatórios. Quando isso acontece, o risco de lesão aumenta e os ganhos que se pretende ter com os exercícios fica prejudicado.
Os movimentos dependem também do controle neuromuscular, que é algo treinável e que se desenvolve com os exercícios ou com as atividades do dia a dia – ainda que muitas vezes se desenvolva de maneira incorreta.
Ao fazer um agachamento, por exemplo, é preciso que tornozelo, joelho e quadris tenham um bom alinhamento dinâmico. É relativamente comum que, ao se avaliar um indivíduo parado, ele apresente bom alinhamento. No entanto, com o movimento, esse bom alinhamento é perdido.
Isso pode estar acontecendo por conta de desequilíbrios de força ou mobilidade. Mas pode também estar presente em indivíduos com força e mobilidade adequadas, por conta de uma deficiência no padrão neuromuscular
O funcionamento das diferentes articulações do corpo depende de mobilidade, estabilidade, força, potência e resistência muscular. No entanto, não basta que cada articulação isoladamente funcione bem.
No esporte e na vida diária, os movimentos são bem mais complexos, dependendo da interação entre as diferentes articulações.
Mais do que a capacidade de avaliar a força total que um músculo é capaz de gerar, é preciso compreender como o indivíduo consegue utilizar essa força.
Isso pode ser avaliado por diferentes tipos de avaliação do movimento, como o Functional Movement Screen (FMS) ou o Movement Competency Screen (MCS)
O FMS avalia sete diferentes movimentos projetados para identificar áreas de desequilíbrios e assimetrias.
Da mesma forma, o MCS é composto por cinco tarefas projetadas para avaliar a competência global do movimento.
Peso e composição corporal
Tanto o peso como a composição corporal têm forte impacto no desempenho esportivo na maior parte dos esportes. Entretanto, cada modalidade tem uma demanda específica para isso.
O atleta mais pesado tende a saltar menos, o que é prejudicial para modalidades como o vôlei, o basquete ou a Ginástica Artística.
A energia gasta para se deslocar na horizontal também é maior, o que é impacta negativamente o desempenho em modalidades como a corrida de longa distância.
Algumas modalidades são tão sensíveis ao ganho de peso que mesmo o ganho de massa muscular pode ser prejudicial. Os maratonistas são provavelmente o maior exemplo disso.
O ganho de força continua sendo importante nestas modalidades. Entretanto, este ganho não deve ser acompanhado de hipertrofia muscular.
Cada corpo responde de uma forma às variações na composição corporal. Mesmo dentro de uma mesma modalidade, é possível que uma pessoa desempenhe muito bem com 12% de gordura, perdendo desempenho quando esse percentil sobe para 16%. Já um outro atleta pode não ficar bem ao reduzir o percentil de gordura de 16% para 12%.
Os objetivos de composição corporal também devem ser individualizados:
- Esportes de força bruta, como o Levantamento de Peso Olímpico, são beneficiados por qualquer ganho de massa muscular, mesmo que isso venha acompanhado de ganho de peso e até mesmo de ganho de massa gorda;
- A maior parte dos esportes depende de um equilíbrio entre ganho de massa muscular e controle de peso. O ponto de equilíbrio tende mais para o ganho de força em esportes como o rugby ou o Futebol Americano, mas para o controle de peso, em modalidades como o triathlon ou a Ginástica Artística e mais para o centro em modalidades como futebol, basquete ou vôlei.
- Nos esportes de equipe, a composição corporal ideal varia de acordo com a posição em campo. No caso do futebol, por exemplo, um defensor precisa de mais massa muscular, uma vez que dependem mais do jogo de corpo com outros atletas. Já os meio campistas precisam de um corpo mais leve e mais ágil, uma vez que realizam muitos sprints.
- Provas de longa distância na natação (especialmente a maratona aquática) se beneficiam de uma quantidade maior de gordura, uma vez que esta auxilia na manutenção da flutuabilidade e da temperatura corporal.
- Modalidades como a corrida de longa distância, ginástica rítmica ou ballet são muito sensíveis ao ganho de peso e mesmo o ganho de massa muscular tende a ser prejudicial. O ganho de força, nestes casos, não deve ser acompanhado de hipertrofia.
Testes para avaliar a capacidade aeróbia
A capacidade aeróbia se refere à capacidade do corpo de realizar esforço físico por um longo período de tempo.
Existem diferentes testes utilizados para isso, com maior ou menor complexidade, maior ou menor exigência técnica e maior ou menor necessidade de equipamentos.
Idealmente, o teste deve se aproximar ao máximo do esforço que o atleta realiza em sua atividade esportiva principal.
Teste de Cooper
O teste de Cooper é um teste desenvolvido pelo médico Kenneth Cooper em 1968, nos Estados Unidos.
Ele tem como objetivo avaliar a capacidade cardiorrespiratória através da análise da distância percorrida durante 12 minutos, em uma corrida ou caminhada.
O Dr. Cooper demonstrou uma forte correlação entre a distância que alguém consegue correr (ou caminhar) em 12 minutos e seu valor de VO2 máximo, que é a capacidade máxima de consumo de oxigênio por um indivíduo.
No entanto, essa é uma medida indireta do VO2 máximo. Uma medida mais precisa pode ser feita por meio do Teste de Esforço Cardiopulmonar.
Teste de esforço cardiopulmonar (Teste Ergoespirométrico)
O teste de esforço cardiopulmonar avalia como o sistema cardiorrespiratório responde ao incremento progressivo do esforço físico.
Ele pode ser utilizado tanto para diagnóstico e monitoramento de diferentes condições cardiopulmonares como para a prescrição de exercício.
Como é feito o teste de esforço?
O teste de esforço cardiopulmonar pode ser realizado em diferentes tipos de simuladores, sendo os mais comuns a esteira ergométrica e a bicicleta.
O atleta inicia o teste em uma intensidade moderada e essa intensidade aumenta progressivamente ao longo do teste, até a exaustão.
Durante o teste, é utilizada uma máscara que coleta os gases inspirados e expirados a cada respiração. Além disso, é feito também o monitoramento do coração, para ver como ele responde ao exercício.
Interpretação dos resultados
Os principais parâmetros usados para a prescrição de exercício são os limiares ventilatórios 1 e 2.
O primeiro limiar é também chamado de limiar anaeróbio. Ele identifica o limite entre a fase do exercício predominantemente aeróbia e a fase que o atleta passa a desenvolver acidose metabólica.
O segundo limiar é também chamado de Ponto de Compensação Respiratória. Ele indica quando o corpo não mais consegue neutralizar o ácido lático formado pelo metabolismo anaeróbio. Com isso, espera-se que ele logo entre em fadiga.
Considerando-se a frequência cardíaca em cada um dos dois limiares e os objetivos específicos de cada treino, é possível determinar uma zona de frequência cardíaca ideal para cada treinamento.
Teste YoYo
O Yoyo test foi desenvolvido por um famoso fisiologista dinamarquês Jens Bangsbo.
Os atletas executam corridas repetitivas de 40m. Eles devem fazer uma corrida de 20m, depois contornar um cone e retornar ao ponto inicial.
A intensidade é controlada através de um estímulo sonoro, com intervalos cada vez mais curtos.
Quando o atleta não mais consegue acompanhar o ritmo do teste, o mesmo é interrompido.
O resultado do teste é indicado como a distância total percorrida ao longo do teste.
Existem diferentes protocolos que podem ser usados de acordo com o nível do atleta.
A diferença entre os protocolos é tempo para recuperação e o aumento da velocidade.
Quando o YoYo é utilizado?
O YoYo é usado especialmente em esportes caracterizados por esforços repetitivos em alta intensidade e esportes com mudanças frequentes de direção, como é o caso do futebol.
Ele é mais específico para estes esportes quando comparado com o Teste de Cooper ou o Teste Ergoespirométrico, os quais envolvem um esforço contínuo.