Pesquisar

Aspectos psicológicos do paciente após a cura do câncer

Aspectos psicológicos do paciente após a cura do câncer

Apesar de a cura de uma enfermidade ser o desejo da grande parte dos pacientes enfermos, os aspectos psicológicos do paciente após a cura do câncer nem sempre são com base em perspectivas felizes e alegres.

Afinal, o medo de que a doença volte, a angústia de enfrentar uma nova fase da vida e outros fatores podem impactar o bem-estar do sujeito.

Por isso, o acompanhamento psicológico, inclusive depois da cura, é algo de extrema importância para o mantimento da qualidade de vida do indivíduo.

Neste texto, apresentamos tanto os aspectos psicológicos quanto algumas medidas que a pessoa pode colocar em prática para lidar com esse momento. Acompanhe para saber mais.

Aspectos psicológicos do paciente após a cura do câncer

Os aspectos psicológicos do paciente após a cura do câncer podem ser ambivalentes. Em alguns momentos, a pessoa pode sentir uma extrema felicidade de ter atravessado o câncer e se curado dele.

Em outras situações, pode sentir medo, revolta e até mesmo angústia frente ao novo futuro que tem pela frente.

Essas emoções podem ser equilibradas e trabalhadas na psicoterapia, visando uma maior qualidade de vida e bem-estar para o sujeito.

Abaixo você poderá visualizar outros aspectos envolvidos com a cura do câncer, tanto para refletir sobre si mesmo – caso você seja o curado -, quanto para ajudar algum familiar ou amigo a compreender melhor a si mesmo.

1. Medo de a doença rescindir
Sem dúvidas, o medo de a doença voltar é algo que realmente assusta e causa angústias nos indivíduos que receberam a cura.
A verdade é que assim como qualquer pessoa pode estar propensa ao desenvolvimento de um quadro de câncer, o indivíduo curado também tem essa fragilidade perante à vida e à enfermidade em questão.
Contudo, a psicoterapia pode servir de aliada para que o indivíduo trabalhe a sua ansiedade com relação ao “que pode acontecer”, focando no que está no seu controle, ou seja, na criação de hábitos saudáveis que minimizem as chances de desenvolver tanto um novo câncer, quanto outras doenças.
As emoções envolvidas com o medo de a doença rescindir também podem ser trabalhadas na terapia, visando uma melhor compreensão das angústias e uma munição interna que ajude a lidar com os sentimentos e emoções negativas.

2. Dificuldade ou facilidade para criar novos planos
Algumas pessoas podem se sentir “perdidas” diante da nova realidade. Isso porque, durante o tratamento, muitos planos e sonhos foram colocados em um modo stand-by. Porém, com a cura atingida, muitos desses objetivos podem vir à tona como uma nova possibilidade para o futuro.
No entanto, as vivências e emoções experienciadas durante o processo de tratamento podem tornar o momento de elaborar planos para o futuro mais fácil ou difícil.
Algumas pessoas podem ter medo de remontar ou montar planos e, mais tarde, se deparar com mudanças bruscas na rota outra vez. Outras podem encarar a cura como a chance de realizar sonhos que vinham sendo deixados de lado há muito tempo.
Em ambos os casos, existe a possibilidade de se pensar sobre o futuro e sobre os próximos passos com o auxílio da psicoterapia, a fim de lidar com as emoções provocadas pelo medo das mudanças, por exemplo.

3. Questões relacionadas à vida sexual
O tratamento do câncer pode ocasionar uma série de efeitos colaterais no corpo e na saúde da pessoa. Dentre eles, existe a possibilidade de a vida sexual ficar abalada, devido à baixa libido, por exemplo.
Essas questões podem vir à tona depois da cura. Isso porque é possível que o indivíduo ainda encontre dificuldades para restabelecer a sua vida sexual, o que pode causar angústia em alguns casos.
Contudo, conversar com o parceiro ou parceira e encontrar alternativas que aproximem o casal, sem “forçar” uma vida normal da noite para o dia, são medidas que podem ser relevantes.
Da mesma forma, a falta de confiança e a baixa autoestima envolvidas com a vida sexual também podem ser trabalhadas por intermédio do acompanhamento psicoterapêutico.
Se o casal enfrentar dificuldades para lidar com as questões sexuais provenientes da situação, a terapia de casal também pode ser interessante.

4. Medo de ser tratado diferente e os impactos na autoestima
O diagnóstico de câncer pode ser visto como algo “assustador” pela maior parte das pessoas. A doença, embora tenha chances de cura em muitos casos, ainda é vista como a maior catástrofe que pode acontecer na vida de uma pessoa.
Consequentemente, é muito comum que o círculo social do paciente mude a conduta diante do diagnóstico, inclusive após a cura.
Isso quer dizer que, muito provavelmente, algumas pessoas tratarão o paciente curado de uma forma diferente que, em muitos casos, pode causar desconforto e angústia no indivíduo.
Esse medo de ser tratado diferente e visto como “frágil” pode afetar a autoestima, resultando em aspectos psicológicos do paciente após a cura do câncer que impactam na qualidade de vida.

5. Angústia ao tentar buscar um sentido para o que aconteceu
Buscar um novo sentido para a vida pode ser um grande desafio para o indivíduo. Em alguns casos, a sensação de estar perdido diante dos próximos passos pode existir. Outros indivíduos podem experimentar a sensação de que houve um “tempo perdido” durante o tratamento.
Embora não exista uma generalização na forma de encarar os sentidos da vida após a cura, existem medidas que podem ser colocadas em prática por meio do auxílio psicológico.
Isso porque na psicoterapia o indivíduo poderá praticar o autoconhecimento, resgatar sonhos, tecer novas páginas para a história da sua vida, e assim por diante. Sempre respeitando os seus limites emocionais, obviamente.

6. Temor dos efeitos colaterais que possam se manter
Os tratamentos para o câncer podem ser bastante agressivos em algumas circunstâncias, e isso é bastante veiculado no senso comum. Por conta disso, os efeitos colaterais podem ser assustadores, inclusive após a cura.
Isto é, o paciente pode ter medo dos efeitos que viverá à medida que o tempo passar. Nesta situação, o conselho é que o indivíduo busque informações em fontes confiáveis, conversando com o médico que o tratou, para compreender o que pode vir a acontecer nos próximos meses e, quiçá, anos.
Esse conhecimento, por mais que possa colocá-lo diante de angústias ao saber que, por exemplo, os cabelos não crescerão com a mesma força de antes, poderá ajudá-lo a se preparar psicológica e praticamente para as situações adversas que talvez venha a enfrentar.

7. Redescoberta da vida profissional
A vida profissional, muitas vezes, pode ser pausada durante o período de tratamento do câncer. Em alguns casos, a pessoa pode perder o interesse em se manter antenada no que acontece em sua empresa ou área de atuação, durante todo o tratamento.
Após a cura, a necessidade de redescobrir a vida profissional pode ocasionar conflitos emocionais, como questionamentos voltados à: será que estou no caminho profissional certo? Será que eu deveria pensar em novas possibilidades profissionais? Quais trajetórias devo seguir de agora em diante? Será que é válido retomar o que já tinha, ou é melhor iniciar algo novo?
Perceba que esses questionamentos mergulham o indivíduo em uma redescoberta profissional que, em muitos casos, pode ser difícil de assimilar. Novamente, a orientação e o acompanhamento psicológico podem auxiliar na compreensão de tudo o que está se passando neste momento, visando um plano de ação, perante à vida profissional, que contribua para a saúde mental e a satisfação do sujeito.

8. Momentos de desânimo, medo, revolta e/ou angústia
Sem dúvidas, os momentos de desânimo também podem aparecer. Isto é, haverá dias ruins, como ocorre em todas as fases e esferas de nossas vidas.
No entanto, esses dias ruins podem estar associados aos acontecimentos e consequências do câncer, mesmo após a cura.
É o caso de sentir revolta pelo “tempo perdido” – na mente do indivíduo ele pode encarar o momento do tratamento como tempo perdido -, revolta pelo sofrimento vivido e gerado à família, angústia de ter muitas coisas para reequilibrar e reorganizar na vida, desânimo gerado por todos os aspectos psicológicos do paciente após a cura do câncer, entre outros fatores.
Apesar de ser muito doloroso lidar com os momentos desanimadores, é preciso criar a consciência de que os dias ruins fazem parte da história da vida de qualquer pessoa. E, inclusive, quando eles se tornam aparentemente insuportáveis, o apoio psicológico pode contribuir para uma maior compreensão do que se sente e do que fazer com o que é sentido.

9. Novas emoções envolvidas com a saúde física
A saúde física pode começar a receber outra visão e perspectiva por parte do paciente curado. Ele pode começar a enxergar a sua saúde com outros olhos, buscando cuidar de si mesmo com mais afinco.
No entanto, ao mesmo tempo, é possível que o medo de adoecer apareça, transformando a rotina e fazendo com que uma ansiedade, perante à necessidade de praticar exercícios e cuidar da alimentação, por exemplo, ocasione mudanças significativas nas emoções do sujeito.
Buscar apoio de profissionais da saúde para estabelecer uma rotina saudável e que não se transforme em uma obsessão é um bom caminho.

10. Problemas de relacionamento interpessoal
Os problemas de relacionamento interpessoal também podem aparecer. Primeiro, por conta das questões relacionadas à autoestima, uma vez que o corpo e a aparência podem mudar após o tratamento. Segundo, porque o sujeito pode se sentir estagnado em sua vida, devido à “pausa” dada em prol do tratamento, em muitos casos. Terceiro, porque a doença pode ter provocado um isolamento social, como no caso de internações recorrentes ou o simples recolhimento em casa.
Tudo isso pode ocasionar ansiedade e angústia frente às relações interpessoais. Além disso, a pauta sobre o câncer, que pode vir à tona na maior parte das interações sociais, pode causar a vivência de sentimentos negativos, a exploração de lembranças dolorosas e a dificuldade de manter um equilíbrio emocional frente a tudo isso.
Portanto, o acompanhamento psicoterapêutico também se faz necessário nessas circunstâncias. O paciente pode encontrar, na terapia, oportunidades de se posicionar e se portar de forma que minimize a angústia gerada por tudo o que ele atravessou antes de retomar a vida social.
Além disso, a terapia pode ajudá-lo a resgatar as habilidades sociais que podem ter sido fragilizadas com o passar do tempo.

11. Novas perspectivas sobre o autoconhecimento e o autoconceito
Ao longo de nossas vidas, vamos montando uma visão bastante singular de nós mesmos e de nossa personalidade. Também agimos de determinadas formas que achamos coerentes em diversos momentos.
Porém, dentre os aspectos psicológicos do paciente após a cura do câncer, estão as mudanças nas perspectivas sobre a vida, sobre as atitudes, sobre os valores e os princípios que possui, etc.
Assim sendo, após a cura acontecer, pode haver mudanças na visão de si mesmo, abrindo caminho para uma nova fase de autoconhecimento. O indivíduo pode encontrar novos caminhos para seguir, descobrir novos amores, reelaborar emoções, enfim, são diversas as transformações emocionais e práticas que podem emergir da cura do câncer.
Às vezes, a pessoa pode atravessar “conflitos existenciais”, ao ficar diante de mudanças que deseja, projetos que quer abrir mão, emoções que podem ser difíceis de compreender, etc. Novamente, a psicoterapia pode auxiliar na decodificação de tudo isso.

12. Angústias e “segredos” que podem ser revelados e elaborados
Outro ponto que pode ser considerado, quando pensamos nos aspectos psicológicos do paciente após a cura do câncer, é o fato de que a pessoa pode se ver diante de angústias e segredos que não foram trabalhados ao longo de sua vida e que, agora, depois da cura do câncer, podem aparecer com mais força.
É o caso de haver conflitos internos mal resolvidos, que vêm à tona ao vivenciar a possibilidade de seguir a vida mesmo após a vivência de uma grande adversidade.
Pode ser que esses conflitos sejam dolorosos e difíceis de atravessar, pode ser que a pessoa não queira dar atenção a eles, como também pode ser que a pessoa os guarde ainda mais.
De todo modo, conversar com um psicólogo sobre esses conflitos pode ser uma forma de ressignificar o que se sente e visualizar um futuro mais saudável emocionalmente.

Como lidar com os aspectos psicológicos do paciente após a cura do câncer?

Os aspectos psicológicos do paciente após a cura do câncer podem impactar a vida do sujeito de diversas formas. Embora não exista uma única maneira de encarar a cura do câncer, nem uma única forma de atravessar a cura e seguir a vida de forma sadia, ainda assim existem medidas que podem contribuir, em muitos casos, para a construção de uma vida e de uma rotina mais saudáveis.

A seguir, apresentamos algumas orientações que podem ser pertinentes, mas lembre-se de não excluir o acompanhamento profissional e as recomendações médicas, ok? Vamos adiante:

1. Rede de apoio
Construir uma rede de apoio sólida pode ser um bom ponto de partida. Para isso, aproximar-se das pessoas que se importam e que são queridas e amadas pode ser um bom caminho.
Como somos seres sociais, construir laços fortes e saudáveis contribui para a autoestima, sensação de pertencimento, felicidade e bem-estar.

2. Procura de novos prazeres e atividades
Encontrar novos prazeres e hobbies também pode ser bem interessante. Embora no começo possa parecer difícil reencontrar atividades prazerosas, a persistência em experimentar novas situações para encontrar novos prazeres é algo interessante e válido.
Aos poucos, é possível construir uma rotina que se baseie em atividades que aumentam a satisfação com a vida, a felicidade, o bem-estar, etc.

3. Práticas de autocuidado
Praticar o autocuidado também pode fazer toda a diferença. É o caso de seguir as recomendações médicas e psicológicas de cuidados com a saúde, cuidar da aparência, praticar atividades que priorizem o bem-estar, descansar adequadamente, manter uma boa alimentação, e assim por diante.
Lembre-se de que você é a pessoa mais importante da sua vida.

4. Ações que contribuem para o aumento da autoestima
Investir em ações que contribuem para o aumento da autoestima também é uma forma de enfrentar essa nova fase da vida.
É o caso de estudar algo novo, que fortaleça a autoconfiança; mudar a aparência ou o estilo de se vestir, visando novas descobertas; cuidar da saúde da pele após o tratamento do câncer; fortalecer laços sociais que contribuem para a autoconfiança; investir na psicoterapia para praticar o autoconhecimento e conhecer ainda mais os pontos fortes que possui; etc.

5. (Re)construção da vida social
Reconstruir a vida social também é relevante. Quando nos aproximamos de outras pessoas, conhecemos novas realidades e expandimos os nossos contatos sociais, podemos aprender coisas novas sobre a vida, quebrar tabus internos e enxergar a vida sob novas perspectivas.
Tudo isso pode auxiliar na reconstrução da rotina, da vida, dos eventos que são frequentados, etc.
Além do mais, viver novas experiências, na companhia de pessoas diferentes, nos ajuda a conhecer mais sobre nós mesmos, e a abrir caminhos adormecidos dentro de nós.

6. Psicoterapia
Sem dúvidas, como mencionamos no decorrer de toda a descrição dos aspectos psicológicos do paciente após a cura do câncer, a psicoterapia tem um papel muito importante na restauração do olhar sobre a vida e o futuro.
Por meio da psicoterapia é possível trabalhar angústias, medos, sonhos, felicidades, tristezas, enfim! É possível ressignificar a vida, aprender a lidar com o que se sente, desenvolver a inteligência emocional e praticar o autoconhecimento.
Por isso, investir nessa possibilidade pode ser algo muito interessante. Considere essa alternativa e lembre-se de que o atendimento profissional é uma ferramenta riquíssima de enfrentamento para esta nova fase que se inicia.
Boas descobertas para você!

Referências
RZEZNIK, C.; DALL’AGNOL, C. M. (Re)descobrindo a vida apesar do câncer. Rev. Gaúcha Enferm., Porto Alegre, v. 21, p. 84-100, 2000.

ABERTO, Instituto Peito. Vida após o câncer: o que muda com o fim do tratamento? Artigo de blog. Disponível em: https://peitoaberto.org.br/vida-apos-o-cancer-o-que-muda-com-o-fim-do-tratamento/. Acesso em 26 out. 2022.