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Aspectos psicológicos da infidelidade

Aspectos psicológicos da infidelidade

Pensar nos aspectos psicológicos da infidelidade nos permite abrir um leque de reflexões acerca dessa temática tão polêmica. Podemos, assim, pensar nas perspectivas de quem trai e de quem é traído, bem como pensar nas possíveis consequências da descoberta da traição.

Para tanto, convidamos você para acompanhar este texto até o fim.

Aspectos psicológicos da infidelidade - percepção de quem trai

Nem sempre a pessoa que trai o parceiro ou a parceira tem a intenção de, simplesmente, atingir o próprio relacionamento. Os aspectos psicológicos e as motivações podem ser diversas, convergindo com a história de vida e as perspectivas que o sujeito pode ter construído, ao longo de sua trajetória, sobre relacionamentos amorosos.

Vamos pensar em alguns pontos? Acompanhe:

1. Normalização da infidelidade na família
Em alguns casos de relacionamento extraconjugal é possível se deparar com indivíduos que tiveram, ao longo de suas vidas, contato com relacionamentos conturbados dentro do ambiente familiar.
Isto é, caso o indivíduo cresça em um lar no qual a traição é recorrente e, de certo modo, normalizada – ou ignorada -, ele pode compreender a traição por essa perspectiva – como algo que acontece “com todo mundo”, e que é normal e pronto.
Sendo assim, embora a traição seja vista como negativa, o indivíduo pode entendê-la como parte do cotidiano, levando-se às aventuras extraconjugais.

2. Sensação de distanciamento físico e emocional do parceiro
A rotina corrida e a quantidade de tarefas que devem ser executadas pelas pessoas, nos dias atuais, podem levá-las a um distanciamento físico e emocional dentro do relacionamento.
Esse distanciamento, muitas vezes, pode abrir brechas significativas na vida de muitas pessoas. Essas brechas, quando “preenchidas” por um terceiro, podem resultar em relacionamentos extraconjugais.
Sendo assim, um dos aspectos psicológicos da infidelidade, que podemos considerar, é, justamente, esse ato de buscar em um terceiro a falta que se encontra dentro da relação.
Embora isso não justifique o comportamento, de fato pode ser uma mola que impulsiona o sujeito.

3. Desejo de viver novas experiências
A monotonia e a “rotina” de um relacionamento pode ocasionar o aparecimento de um desejo de vivenciar novas experiências, que instiguem a curiosidade e mudanças significativas na vida sexual do indivíduo.
Sendo assim, esse é outro ponto que pode aparecer quando pensamos nos atos de infidelidade.

4. Problemas com a autoestima
A autoestima no casamento e na vida pessoal do indivíduo pode impactar na sua forma de se ver e de se sentir diante dos outros.
Quando a autoestima está abalada e um terceiro se aproxima, demonstrando interesse no indivíduo, é possível que a pessoa encontre no relacionamento extraconjugal uma forma de fortalecer o seu amor-próprio.
É como se essa aprovação alheia fosse necessária para a pessoa se sentir verdadeiramente atraente e interessante.
Esses problemas de autoestima podem ser ainda mais evidentes em relacionamentos conturbados e quando há o distanciamento entre o casal, que faz com que o indivíduo duvide de suas qualidades e pontos positivos.
Contudo, isso não justifica a traição, mas pode nos fazer pensar no quanto a comunicação no relacionamento, para o alinhamento de expectativas e esclarecimentos, poderia contribuir para que o relacionamento extraconjugal fosse, de alguma forma, evitado.

5. Desejo de findar o relacionamento
Os relacionamentos amorosos podem ser bastante complexos, uma vez que reúnem os pontos de vista e as angústias de duas pessoas com duas histórias de vida completamente diferentes.
Sendo assim, quando a necessidade de término surge, mas o indivíduo que tem esse desejo não consegue bancar o seu lugar – ou seja, o lugar daquele que solicita o término -, é possível que a traição sirva de “deixa” para que o outro tome a iniciativa de terminar o relacionamento.
Embora isso possa parecer bastante cruel, infelizmente é a realidade em muitos casos.

6. Pressão social e dos amigos
Na tentativa de ser aceito em um grupo social específico, o indivíduo pode se deixar levar pelas pressões dos amigos na hora de ter comportamentos infiéis no dia a dia. É o caso de um jovem estar com os seus amigos em uma festa e estes os instigam a ir atrás de uma determinada pessoa presente no ambiente.
Caso ele não tome essa atitude, poderá ser diminuído ou “zoado” dentro do grupo de amigos, resultando em um impacto na autoestima do sujeito.
Essa pressão e a normalização da traição em alguns grupos sociais, especialmente no que se refere à infidelidade masculina, pode ser um dos motivos pelos quais o comportamento ocorre. Em essência, seria o desejo de “ser aceito”.

7. Acúmulo de insatisfação no relacionamento
A falta de diálogo no relacionamento que pode ocasionar o acúmulo de insatisfação, dos dois lados, pode ser um dos aspectos psicológicos da infidelidade. Isto é, a infelicidade e insatisfação com a relação atual pode levar a pessoa a procurar, “do lado de fora”, algo que a ajude a suprir suas necessidades emocionais, por exemplo.
Novamente, reiteramos que isso não justifica o comportamento, apenas nos faz pensar que as motivações para a traição podem ser as mais diversas.

8. Arrependimento e culpa
Superar o arrependimento após uma traição não é algo simples. A pessoa que trai pode experimentar um sentimento de tristeza, culpa e pesar bastante intensos. Isso porque o arrependimento pode fazer com que os pensamentos repetitivos sobre a situação se tornem ainda mais frequentes.
Caso o casamento chegue ao fim, esses sentimentos poderão ser ainda mais intensos e desgastantes.
Neste caso, o ideal é procurar apoio psicológico para lidar com todas as sensações e angústias sentidas.

9. Baixa autoestima e autocrítica elevada
A autoestima baixa e a autocrítica elevada também podem ocasionar impactos psicológicos no indivíduo que trai.
Se ele se arrepende, pode se sentir uma pessoa desprezível e indigna do amor do outro. Isso pode pesar na sua autoimagem e fazer com que o sujeito seja extremamente crítico consigo mesmo no dia a dia, resultando em outras questões psicológicas e emocionais mais tarde.

10. Remorso, tristeza e desespero
O remorso caminha ao lado do sentimento de culpa, que mencionamos acima, com um acréscimo de emoções como a tristeza e um sentimento de desespero frente ao que tem acontecido na vida a dois.
Esses sentimentos podem aparecer de forma bastante intensa e desorganizada, fazendo com que a pessoa reviva, constantemente, os próprios comportamentos de traição que cometeu – resultando em impactos na vida cotidiana e na saúde mental de forma geral.

Aspectos psicológicos da infidelidade - percepção de quem é traído

Quando pensamos nos aspectos psicológicos da infidelidade, não podemos deixar de lado as perspectivas que envolvem a pessoa que foi traída.
Afinal, ela também tem um papel importante nessa história, e pode atravessar uma série de emoções distintas frente a essa situação.
Veja abaixo alguns pontos que podem servir de reflexão:

1. Frustração e quebra da idealização
Quando nos apaixonamos, costumeiramente idealizamos a outra pessoa. Jamais imaginamos defeitos que possam ser caracterizados como “intensos”. Mas sim, a paixão pode “nos deixar cegos” frente ao outro, imaginando-o como um ser perfeito e impecável.
Assim sendo, quando há a descoberta da traição, a frustração pode marcar uma presença bem intensa na vida da pessoa traída. Ela pode se sentir perdida frente à quebra da idealização, pois a pessoa que ela fantasiou e imaginou conhecer se mostrou, agora, um pouco diferente de tudo aquilo que foi imaginado na mente da pessoa traída.
Essa quebra de idealização provoca uma desilusão e uma decepção amorosa, que ocasiona efeitos nas emoções e na vida da pessoa.

2. Sentimento de baixa autoestima
Ao perceber que foi “trocada” por um terceiro, a pessoa traída pode começar a se questionar quais são os seus defeitos que podem ter levado o outro ao comportamento infiel.
Embora não necessariamente uma coisa tenha relação com a outra, a pessoa ainda se sente culpada por ser traída, diminuindo a sua autoestima ao se sentir insuficiente.
A sensação de “não dar conta”, a ponto de o outro procurar atributos em um terceiro, pode ocasionar muita dor emocional na pessoa traída.
No entanto, é importante relembrar que nem sempre a traição ocorre porque o relacionamento está ruim. Ela pode acontecer por uma série de motivos, e mesmo que a justificativa seja o relacionamento ruim, é importante considerar que nenhum relacionamento é feito com a dedicação de apenas um lado. Se há faltas na relação, ambos os envolvidos têm “culpa”.

3. Desejo de vingança contra o “rival” ou o parceiro
O desejo de vingança, tanto do parceiro, quanto do rival, também é um dos aspectos psicológicos da infidelidade, quando pensamos na pessoa traída.
Isso porque a sensação de ter o seu “ego ferido” pode resultar em uma revolta na qual a pessoa busca, de alguma forma, “dar o troco”. Seja expondo o amante, seja traindo o parceiro, por exemplo.
São diversas as formas de vingança que a pessoa traída pode arquitetar em sua mente, porém, é importante frisar que esse sentimento não é saudável, embora pareça a cura para a dor emocional.
Afinal, após concretizar a vingança, outros sentimentos negativos e mal resolvidos podem vir à tona. Por isso, procurar apoio psicológico antes de agir de forma impulsiva pode ser mais positivo.

4. Desconfiança e angústia no relacionamento
Embora a pessoa possa decidir seguir com o relacionamento, os sentimentos de desconfiança e angústia podem se tornar presentes.
Quando não escutados e elaborados, podem se acumular na vida psíquica do indivíduo, levando-o a uma sobrecarga emocional e a problemas no relacionamento.
Afinal, é necessário atravessar o luto e ressignificar a situação para que a desconfiança comece, aos poucos, a se dissolver, dando passagem para uma nova fase no relacionamento.
Porém, se os sentimentos são negligenciados, se não houver comunicação no relacionamento sobre o que se sente e se o indivíduo continuar alimentando uma desconfiança profunda, sem conseguir controlar o ciúme, por exemplo, o relacionamento pode fracassar e ambos podem sofrer psicologicamente.

5. Sentimento de desrespeito
A pessoa pode se sentir violada ao descobrir que foi traída pelo parceiro. Esse sentimento de desrespeito pode ocasionar angústia, sentimento de injustiça e revolta frente à situação.

6. Vontade de saber o motivo
Em paralelo às questões relacionadas à autoestima da pessoa traída, esta pode se sentir instigada a tentar entender o motivo da traição. Ela busca, no parceiro, compreender por que ele pode ter feito aquilo, se era única e exclusivamente para atingi-la.
Embora o parceiro possa dar as suas devidas explicações, ainda assim a pessoa traída pode se sentir instigada a “cavar” mais informações, tornando-se, de certa forma, muito focada na situação para tentar compreender a causa e efeito por trás da traição – embora uma traição seja multifatorial.
Essa “obsessão” pode ocasionar problemas emocionais em ambas as partes.

7. Raiva, indignação e decepção
Sem dúvidas, o sentimento de raiva e indignação também pode aparecer. Em concordância ao processo de luto vivido, a pessoa pode se revoltar com a descoberta, sentindo uma sensação de decepção.
8. Sentimento de tristeza e mágoa
Ainda em concordância com o processo de luto, ao atravessar a fase da revolta e da raiva a pessoa pode, mais tarde, vivenciar sentimentos de tristeza e mágoa bastante significativos.
Respeitar todo esse tempo de luto para, mais tarde, retomar o equilíbrio emocional, é muito importante. Assim, é possível dar tempo ao tempo, respeitando os limites emocionais do indivíduo e viabilizando um dia a dia mais saudável.

Reflexões na pós-descoberta

A pós-descoberta, quando elaborada, pode resultar em efeitos significativos no relacionamento. Alguns podem dar continuidade à relação, enquanto outros podem findar um casamento de anos.
Cada caso sempre será um caso, e cabe ao casal avaliar os prós e contras da situação, pensando nas suas próprias emoções, perspectivas sobre a vida, etc.
Abaixo trouxemos alguns dos cenários que podem ser vivenciados após a descoberta da traição:

1. Visão mais clara do relacionamento
Muitas vezes, o relacionamento apresenta sinais de estar desgastado, mas ambos os lados nem se dão conta do ocorrido. A rotina corrida e o excesso de atividades diárias atrapalham a compreensão do que realmente está acontecendo.
Porém, com a descoberta da traição é possível voltar um olhar mais atento para o relacionamento. O casal pode começar a ponderar sobre os seus pontos mais fracos e fortes, pensando tanto no fortalecimento da relação, quanto no término.

2. Possibilidade de reequilibrar a relação
Um relacionamento saudável não é livre de problemas e crises, mas sim, conta com a ajuda mútua para reequilibrar as situações que podem ser negativas.
Sendo assim, quando pensamos nos aspectos psicológicos da infidelidade também podemos pensar na possibilidade de o casal se reaproximar e buscar, dentro da relação, formas de lidar com a situação e vivenciar um equilíbrio no amor outra vez.
Tudo isso considerando, ainda, a ressignificação do que aconteceu. O que a traição representou para a vida de ambos? Como ela abalou e, possivelmente, fortaleceu a relação? Esses e outros questionamentos podem ser interessantes neste momento.

3. Processo de separação
Dependendo dos impactos vividos na relação, o processo de separação também pode ser cogitado por uma ou por ambas as partes. Esse processo pode ser bastante doloroso, como pode ser mais “leve” para algumas pessoas, afinal, a decisão de desmanchar por conta do distanciamento do casal, por exemplo, pode tornar o momento mais fácil de elaborar.
Contudo, não existe regra. Cada pessoa e cada casal irá lidar com a separação de forma diferente. Por isso, manter o diálogo e buscar fazer a separação de forma amigável é um caminho interessante.

A terapia de casal ou individual pode ser relevante nesses casos

A terapia de casal também pode auxiliar neste momento. Se o casal deseja manter a relação, mas as questões relacionadas à traição estão sendo difíceis de assimilar, a terapia poderá servir de base para reflexões, melhora na comunicação e abertura de novas visões sobre a vida a dois.
Ao mesmo tempo, a terapia individual pode auxiliar no fortalecimento da autoestima, nas mudanças de perspectivas e expectativas, e na criação de novos planos para o casal ou, para quem decide terminar, para a vida de solteiro.
Por meio das terapias é possível encontrar novas vias, desenvolver novos projetos de vida, atravessar as crises emocionais e encontrar novos pontos de vista para a situação vivida. Tudo visando um aumento da qualidade de vida e um cuidado a mais com a saúde mental. Cuide-se e considere essas possibilidades.

Referências
ANDRADE, M. N.; MELLO, I. S. B.; DIAS, C. M. S. B. Rev. enferm. UFPE on line ; 3(4): 882-889, out.-dez. 2009. ilus. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1032782. Acesso em 24 out. 2022.

COSTA, C. B.; CENCI, C. M. B.. A relação conjugal diante da infidelidade: a perspectiva do homem infiel. Pensando fam., Porto Alegre , v. 18, n. 1, p. 19-34, jun. 2014 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-494X2014000100003&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 24 out. 2022.