Alimentação Kosher (judaica)
Alimentação Kosher
A alimentação kosher refere-se a um conjunto de leis dietéticas judaicas que determinam quais alimentos são considerados adequados para consumo por pessoas que seguem essa tradição religiosa.
A palavra “kosher” significa “adequado”, “correto” ou “próprio” em hebraico. Ou seja, refere-se a tudo o que é apropriado para o consumo do povo judeu.
Os alimentos kosher obedecem a um conjunto de regras chamadas kashrut, que estão descritas na Torá, o livro sagrado do judaísmo, e essas regras são aplicadas, principalmente, aos alimentos de origem animal.
Portanto, para que um alimento seja considerado como kosher, ele deve se enquadrar nesse conjunto de regras que estabelecem normas para a produção e o preparo.
Neste artigo, saberemos mais sobre a alimentação kosher, incluindo seus objetivos, os alimentos permitidos, a produção e o modo de preparo.
Qual o objetivo da alimentação kosher?
Existem alguns objetivos ou finalidades que esse estilo alimentar proporciona. Os principais são os seguintes:
1. Cumprimento religioso
A alimentação é um aspecto importante da prática religiosa e da preservação da identidade cultural do judaísmo.
Para muitos judeus observantes, seguir as leis da alimentação kosher é uma forma de cumprir um dos mandamentos da Torá e de se conectar com a sua fé e a tradição religiosa.
Além disso, seguir esse estilo alimentar é uma forma de cumprir a vontade divina e o propósito para o qual o alimento foi criado. Essa também é uma forma do povo judeu de se conectar a Deus.
2. Preservação da identidade cultural
Seguir as leis dietéticas kosher é um aspecto importante da identidade judaica e da preservação das tradições e práticas ancestrais.
Essa alimentação ajuda a manter uma ligação com a história, os costumes e os valores do povo judeu. Por isso, é tão importante para essa população seguir essa dieta específica.
3. Consciência e disciplina
Segundo as leis kosher, essa alimentação proporciona um consumo de alimentos mais puros e nutritivos, tanto para o corpo quanto para a alma.
Além disso, essa dieta exige uma atenção especial em relação aos alimentos consumidos e ao modo como são preparados, como veremos de forma mais detalhada no decorrer deste artigo.
Este aspecto pode promover a disciplina pessoal, a consciência sobre a origem dos alimentos e uma conexão mais profunda com o que se consome.
4. Comunidade e união
Seguir uma dieta kosher pode promover um senso de comunidade e união entre os judeus que compartilham essa prática, mesmo quando estão dispersos em países diferentes.
Comer juntos e compartilhar refeições kosher é uma forma de solidariedade e identificação com a comunidade judaica.
5. Tratamento melhor aos animais
As regras do kashrut proporcionam um tratamento mais humano aos animais que fazem parte da alimentação kosher, tendo em vista que minimizam o sofrimento dos mesmos.
6. Higiene e saúde
Algumas das regras alimentares kosher envolvem práticas de higiene e segurança alimentar que podem contribuir para proporcionar uma alimentação mais segura e saudável.
Por exemplo, o método de abate ritual (shechitá) tem como objetivo minimizar o sofrimento do animal e facilitar o escoamento do sangue.
As práticas de higiene e saúde garantem uma maior pureza dos ingredientes utilizados e a garantia de que não haverá contaminação cruzada, já que devem seguir todas as regras do kashrut. Isso evita a contaminação alimentar e proporciona um alimento mais seguro para quem consome.
Vale ressaltar que, embora a alimentação kosher tenha significados religiosos e culturais específicos para os judeus e até alguns benefícios, essa prática alimentar não possui benefícios comprovados em termos de nutrição ou saúde quando comparada a outras dietas com comprovação nos resultados.
Cada pessoa tem suas próprias escolhas alimentares e deve procurar orientação médica ou nutricional adequada para atender às suas necessidades individuais.
Quais são os alimentos considerados kosher?
Os alimentos kosher estão classificados da forma como seguem abaixo:
1. Carnes
A carne kosher deve ser proveniente de animais considerados “puros” de acordo com as leis judaicas.
Animais como bovinos, ovinos e aves, que foram abatidos de acordo com o método de abate ritual (shechitá), são permitidos.
Por outro lado, animais como porcos, coelhos e carnívoros não são considerados kosher.
2. Peixes
Peixes com barbatanas e escamas são geralmente classificados como kosher. Os exemplos mais comuns incluem salmão, truta, atum e bacalhau.
Por outro lado, mamíferos marinhos, mariscos, crustáceos e moluscos, como camarões, lagostas, caranguejos, ostras e mexilhões, são proibidos.
Isso porque, para ser kosher, o peixe deve ter barbatanas e escamas.
3. Aves
As aves kosher incluem frangos, perus, patos e gansos, desde que sejam abatidos de acordo com o método de shechitá.
No entanto, aves de rapina e abutres não são classificados como kosher.
4. Outros animais
Outros animais, como anfíbios, répteis, insetos e vermes não são considerados kosher.
5. Laticínios
Os laticínios classificados como kosher são aqueles derivados de animais considerados “puros”.
Leite, queijo, iogurte e manteiga produzidos a partir do leite de vacas, ovelhas ou cabras são permitidos.
Para serem kosher também, todos os produtos devem ser supervisionados por um rabino desde a ordenha.
No entanto, misturar laticínios com carne é totalmente proibido nesse estilo alimentar judaico.
6. Ovos
Todos os ovos são considerados kosher, contanto que a casca não esteja suja de sangue.
7. Frutas, vegetais e grãos
As frutas, vegetais e grãos são considerados alimentos kosher, desde que não estejam contaminados com insetos ou substâncias que não são permitidos durante o processo de cultivo e colheita.
8. Produtos processados
Produtos industrializados podem ser kosher desde que atendam às diretrizes específicas de produção e certificação das regras desse estilo alimentar.
Isso pode envolver o uso de ingredientes kosher, bem como a utilização de equipamentos e utensílios exclusivos para produtos kosher.
Além disso, esses alimentos precisam passar por um órgão fiscalizador e receber um selo que comprove que é um alimento kosher.
Quais são as regras para o preparo de alimentos kosher?
É importante observar que, além dos alimentos em si permitidos na alimentação kosher, a produção, o modo de preparo e o armazenamento dos alimentos também devem seguir as diretrizes desse estilo alimentar.
Isso inclui:
- A forma de abate dos animais;
- A separação completa de equipamentos, utensílios e superfícies usados para carnes e laticínios;
- A certificação kosher de utensílios de cozinha;
- A inspeção rigorosa dos alimentos em busca de insetos e impurezas;
- A combinação permitida de alimentos.
Abaixo seguem algumas das principais regras de produção, preparo e combinação dos alimentos kosher:
1. Animais kosher
Como vimos, não são todos os animais que são permitidos na alimentação kosher. Apenas certos animais são permitidos, incluindo animais ruminantes com cascos fendidos, como bovinos e ovinos. Consequentemente, seus produtos também são permitidos, como ovos e leite.
No item sobre animais permitidos está de forma detalhada os animais que podem ser consumidos.
2. Abate ritual
A carne kosher deve ser proveniente de animais que tenham sido abatidos de acordo com o método ritual judaico.
Esse método envolve um corte preciso na garganta do animal para garantir um sangramento completo.
O abatimento dos animais deve ocorrer por meio de uma técnica considerada indolor, dentro dos princípios do shechitah.
Após o abate, há a remoção de certas partes do animal e uma delas é o nervo ciático, pois a carne precisa ter pouco nervo e vasos sanguíneos, a fim de que seja adequada ao consumo do povo judeu.
3. Remoção do sangue
A lei judaica proíbe o consumo de sangue. Portanto, a carne kosher deve ser cuidadosamente lavada e salgada para remover todo o sangue residual antes de ser preparada e consumida.
A filtragem do sangue é feita logo após o abate. O sangue é filtrado quando se adiciona sal kosher em toda a carne para que seja feita a drenagem. Por fim, retira-se o sal e a carne é lavada. Esse processo garante uma carne livre de sangue.
4. Inspeção de órgãos
Após o abate, é necessário realizar uma inspeção minuciosa dos órgãos internos do animal para garantir que não haja nenhuma doença ou anomalia que invalide a confirmação da carne como sendo kosher.
5. Separação de alimentos
A lei judaica proíbe a combinação de carne e laticínios em uma mesma refeição. Isso inclui a preparação, o cozimento e o consumo desses alimentos juntos. Também não podem ser ingeridos um após o outro. É necessário haver um tempo de espera.
Além disso, os utensílios de cozinha utilizados para carne e laticínios devem ser separados.
As carnes de peixes também não podem ser consumidas junto com outras carnes. Porém, ao contrário de carnes e laticínios, é permitido consumir peixes após outro tipo de carne e vice-versa.
6. Alimentos neutros
Os alimentos neutros, também chamados de parve, são aqueles que crescem na terra, como frutas, vegetais e cereais.
São considerados neutros porque podem ser combinados com qualquer outro alimento que seja kosher.
No entanto, devem ser bem inspecionados em busca de insetos e vermes e lavados cuidadosamente para remover qualquer tipo de impureza.
Os ovos provenientes dos animais permitidos pelas regras kosher também são considerados neutros. Porém, a casca não pode estar suja de sangue, como já citamos.
7. Vinhos e sucos de uvas
Para que sejam considerados kosher e obterem esse selo, os vinhos e sucos de uva precisam seguir regras específicas, como:
- A matéria-prima para a produção dessas bebidas deve ser kosher;
- As videiras não devem ser cultivadas junto com outras plantas no mesmo local do vinhedo;
- As videiras devem ter mais de quatro anos de idade;
- Caso o vinhedo esteja em uma região com terras sagradas, ele não deve produzir uma vez a cada sete anos;
- Apenas os judeus ortodoxos podem manusear essas duas bebidas;
- Os equipamentos, máquinas e utensílios devem ser separados para evitar qualquer contaminação cruzada com os alimentos não kosher.
8. Certificação kosher
Muitos alimentos industrializados possuem certificação kosher, indicando que foram preparados de acordo com as leis judaicas e as regras específicas para a produção de alimentos industrializados.
A certificação kosher é concedida por organizações especializadas, que têm a função de verificar se os alimentos industrializados realmente foram produzidos seguindo todas as regras de produção e preparo.
Por isso, a presença de um selo ou símbolo kosher em uma embalagem garante que o produto foi supervisionado por uma autoridade confiável e que está liberado para ser inserido nesse estilo alimentar.
Diante de todas essas regras de produção e preparo que vimos, é importante ressaltar que essas são apenas algumas das regras básicas do estilo kosher. Existem muitas outras especificidades e detalhes envolvidos. Aqueles que desejam seguir uma dieta kosher estrita devem buscar a orientação de autoridades religiosas que vivem esse estilo alimentar ou as certificadoras de confiança.
Quais são as proibições na alimentação kosher?
Para uma alimentação ser considerada kosher, assim como existem regras a serem seguidas, existem as proibições, que são conhecidas pela palavra treif ou treyf.
As proibições incluem os alimentos que não fazem parte da alimentação kosher e que não estão de acordo com as leis judaicas. Por isso, não podem ser consumidos.
Muitas das restrições já detalhamos neste artigo, mas vamos enumerá-las para relembrar e facilitar o entendimento.
As principais restrições envolvem os seguintes aspectos:
- Proibição do consumo de carne de certos animais, como porcos e coelhos;
- Proibição de misturar carne e laticínios em uma mesma refeição ou consumir um seguido do outro sem que haja um tempo de espera;
- Usar os mesmos utensílios e equipamentos para o preparo e o consumo de carnes e laticínios;
- Consumir carnes com sangue ou outros alimentos sujos de sangue;
- Consumir frutas e outros vegetais com impurezas, insetos e vermes;
- Consumir alimentos que não tenham certificação kosher;
- Consumir qualquer alimento que não seja considerado kosher ou que não tenha seguido todas as regras de produção e preparo permitidos dentro desse estilo alimentar judaico.
Como saber se um alimento é considerado kosher?
Como vimos, para ser um alimento kosher, ele deve passar por todos os critérios estabelecidos, como citamos detalhadamente neste artigo. Por isso, fique atento aos alimentos permitidos e como foi a sua forma de produção e preparo.
Em relação aos alimentos industrializados, como também vimos, estes precisam conter o selo específico de identificação kosher utilizado por empresas certificadas que seguiram todos os critérios das leis do kashrut. Dessa forma, você tem a garantia de que esse alimento é permitido nessa dieta.
Esses selos são, geralmente, representados pelas letras “U” ou “K”, dentro de círculos ou outras formas, como um quadrado, e são estampados na embalagem dos produtos.
Existem selos variados ou marcas próprias que podem variar de acordo com a agência de supervisão do rabino responsável.
A alimentação kosher é, portanto, um estilo alimentar judaico preservado ao longo da história dessa população e que passa por gerações, mantendo os costumes e as tradições alimentares e, assim, a história desse povo.