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Abordagem psicológica na bulimia

A abordagem psicológica na bulimia visa quebrar crenças distorcidas que o indivíduo pode ter com relação à alimentação e ao seu corpo. Além disso, as emoções, angústias e significações também são trabalhadas.

A compulsão alimentar, presente em alguns casos de bulimia, também é discutida e analisada, visando uma maior qualidade de vida para o paciente.

Ao longo deste conteúdo, apresentamos algumas considerações importantes sobre esse tema, visando desmistificá-lo e oferecer informações que podem ajudá-lo a compreender melhor esse quadro. Confira.

O que é bulimia?

A bulimia é um tipo de Transtorno Alimentar no qual o indivíduo sente culpa ao se alimentar, por conta do medo de engordar e aumentar de peso. Também é caracterizado como um quadro no qual o sujeito se enxerga de uma maneira distorcida, crendo estar muito acima do peso, mesmo quando isso não é realidade.

Um indivíduo bulímico coloca em prática alguns comportamentos compensatórios, como o vômito autoinduzido ou a prática exaustiva de exercícios.

Existem, basicamente, dois tipos de bulimia. São elas:

  • Bulimia purgativa: A bulimia purgativa caracteriza-se pelo ato de ocorrer episódios de vômitos autoinduzidos, bem como o consumo de diuréticos ou laxantes com o propósito de impedir a absorção de calorias e, consequentemente, “não engordar”.
  • Bulimia não purgativa: Já no caso da bulimia não purgativa, não há a presença de atos para “expulsar” o que foi consumido, mas sim, o indivíduo pode fazer longos períodos de jejum, bem como praticar exercícios de
  • maneira exagerada, com o propósito de emagrecer e perder peso.

Abordagem psicológica na bulimia

Compreendido o que é bulimia, mesmo que de maneira sucinta, vamos agora verificar como ocorre a abordagem psicológica na bulimia.

Vale ressaltar que estamos diante de um caso relacionado a muitos fatores da vida do sujeito. Isso quer dizer que não existe um método infalível para tratar as questões psicológicas presentes em um quadro de bulimia, ou seja, é necessário que o profissional da saúde sempre avalie o caso de maneira singular e subjetiva.

Contudo, alguns pontos podem ser semelhantes em muitos casos, pois servem de “norte” para algumas atuações frente aos casos de Transtorno Alimentar.

Conhecer esses pontos pode ajudar você a compreender melhor os casos de bulimia, bem como encorajá-lo a buscar ajuda, caso este seja o seu caso.

1. Análise da história de vida do paciente
A bulimia tende a estar associada à história de vida do paciente. Isso quer dizer que a trajetória vivida pelo indivíduo pode ocasionar o Transtorno Alimentar.
Claro que não encontramos uma “causa e efeito” única e cravada, mas sim, podemos ter pistas de questões emocionais que vão sendo desenvolvidas ao longo da vida e que podem resultar em um quadro bulímico.
Isso porque esse tipo de transtorno pode estar associado com problemas de relacionamento interpessoais, questões da formação psíquica do sujeito desde a infância, imposições sociais vividas cotidianamente, entre outros fatores.
Por isso, a abordagem psicológica na bulimia parte do pressuposto de entrevistar e conhecer o paciente, buscando sinais de que o transtorno possa estar envolvido com questões subjetivas do sujeito.
A partir dessa análise, algumas considerações podem ser apresentadas ao paciente, com o intuito de ressignificar alguns conceitos; analisar emoções que foram negligenciadas de alguma forma; e assim por diante.

2. Reconhecimento do quadro e autoconhecimento
Não é fácil aceitar o diagnóstico da bulimia. Ninguém está “super preparado” para ouvir algo assim. Embora a pessoa já desconfie do seu quadro, ainda assim o diagnóstico pode se tornar um marco doloroso em sua vida.
Isso quer dizer que o processo de reconhecimento da situação pode levar algum tempo. O sujeito irá atravessar uma espécie de luto, ao perceber que “perdeu” a visão de saúde plena que poderia ter de si mesmo, algum dia.
Além disso, é nesse reconhecimento que o trabalho de autoconhecimento começa a acontecer. O terapeuta dará abertura para que o paciente comece a falar sobre suas emoções, formas de se auto enxergar, sentimentos envolvidos com o ocorrido, pontos de vista, etc.
Tudo isso, pode ajudar na hora de “mergulhar” em si mesmo e começar a compreender a sua própria dinâmica psíquica interna. O sujeito passa a se ouvir à medida que fala com o seu terapeuta, o que é excelente para auxiliar na organização emocional e mental.
Isso quer dizer que ao colocar as angústias em palavras, ao mesmo tempo em que se comunica o que se sente com relação ao diagnóstico, reconhecendo-o, é possível abrir caminhos para reorganizar o que se pensa e o que se está sentindo.
Por isso, falar sobre o assunto, inclusive com amigos e familiares, pode ser um caminho terapêutico interessante.

3. Redução dos pensamentos distorcidos
Durante o desenvolvimento do transtorno alimentar, o indivíduo pode começar a desenvolver pensamentos distorcidos sobre a alimentação, seu corpo, sua imagem, o que a sociedade vê dele, sua autoestima, etc.
Sendo assim, na abordagem psicológica da bulimia são trabalhados os pensamentos que podem estar distorcidos. O terapeuta, juntamente ao paciente, analisa os pensamentos e as crenças referentes ao corpo, à alimentação e etc., visando a quebra de paradigmas que possam ter sido instaurados por fatores internos (emocionais e percepções sobre a vida) e externos (imposições sociais).
Às vezes, o indivíduo possui crenças e pensamentos distorcidos, mas não se dá conta disso. Apenas acredita no que pensa e não analisa por outras vias e pontos de vista. Sendo assim, começar a refletir sobre aquelas crenças cravadas na mente, analisando-a sob outras perspectivas, é um caminho para ressignificar alguns conceitos sobre o corpo, a autoestima e afins.

4. Análise e ressignificação das emoções do paciente
As emoções do paciente, muitas vezes, podem aparecer de forma desequilibrada devido ao abalo provocado pelo diagnóstico. Trata-se de um reflexo natural, afinal, estar diante de um diagnóstico de transtorno alimentar pode ser bastante doloroso.
Por isso, a abordagem psicológica na bulimia também considera a escuta ativa dessas emoções, enquanto o paciente fala sobre o que sente e o terapeuta o auxilia na ressignificação de cada sentimento e emoção.
Essa ressignificação não visa extinguir os sentimentos e emoções, mas sim, visa oferecer um suporte para que o sujeito compreenda melhor a si mesmo e os motivos pelos quais sente determinada emoção.
Questões como: Em qual momento você se sentiu assim? Por que se sentiu assim? Qual foi a intensidade desse sentimento ou emoção? Você acredita que isso atrapalhou alguma decisão sua? Você pensou de forma consciente sobre o sentimento?
São questões que podem auxiliar na hora de compreender o que se sente e de quais maneiras é possível reagir a essas emoções. Isso porque, muitas vezes, sequer damos atenção para o que é sentido e, em casos de transtornos alimentares, ignorar as emoções pode sobrecarregar ainda mais a saúde mental.

5. Estratégias de implementação de hábitos saudáveis
Durante o tratamento psicológico, o paciente e o terapeuta também podem discutir sobre a possibilidade de implementar hábitos e estratégias que aumentem a qualidade de vida e o bem-estar do sujeito.
É o caso de implementar uma rotina de exercícios físicos para reduzir a ansiedade, mas sempre considerando as orientações de um educador físico, por exemplo. Afinal, é muito comum o comportamento de praticar exercícios demasiadamente nos casos de bulimia, por isso o acompanhamento profissional é importante.
Além disso, o paciente também poderá analisar, durante as suas sessões, outros caminhos que podem aumentar o bem-estar, como a prática de meditação, musicoterapia, descoberta de hobbies e atividades que geram prazer, entre outras medidas.
Essa implementação de hábitos saudáveis contribui para o bem-estar geral, o que pode servir de base para a recuperação do paciente e a busca por novos pensamentos, experiências e ideias, tirando o foco central do comportamento de emagrecer e perder peso.
Vale ressaltar que esse processo não ocorre da noite para o dia. A implementação de mudanças é gradativa, mas pode ser bastante significativa para o paciente.

6. Construção de uma rede de apoio
A rede de apoio social também é um grande alicerce do tratamento de bulimia. Ao receber o suporte familiar e de amigos, tendencialmente o indivíduo pode aumentar a sua autoconfiança e autoestima, aderindo com mais afinco ao tratamento e acreditando mais nas chances de sucesso.
Além disso, construir uma rede social de apoio contribui para que o sujeito possa expressar as suas emoções, medos e angústias, de modo a ser ouvido, apoiado e acolhido.
Todo esse acolhimento pode reduzir o nível de sobrecarga emocional, causando uma verdadeira “descarga mental”, que pode levá-lo a um maior equilíbrio no dia a dia.
Pois como comentamos anteriormente, falar sobre o que se sente é algo muito terapêutico e que pode proporcionar muitos benefícios para a saúde emocional, tendo em vista que o “desabafo” ajuda a tirar a sensação de sufocamento, ao mesmo tempo em que é por meio da fala e da escuta que podemos, muitas vezes, construir insights.
Por isso, durante o tratamento psicológico será fortalecida a ideia de desenvolver uma rede de apoio. O paciente poderá analisar quem são as pessoas com quem ele pode contar, em quais momentos e com qual frequência.

7. Trabalho focado na autoestima do paciente
A autoestima dos pacientes com bulimia pode estar, em grande parte, rebaixada e muito fragilizada. Afinal, a tentativa de manter um “peso ideal” – mesmo quando esse peso é, para a saúde, não adequado – diz respeito a uma baixa autoestima e a uma visão distorcida do próprio corpo e da própria aparência.
O indivíduo pode buscar, no ato de provocar o vômito ou nos exercícios exagerados, uma forma de conseguir se manter dentro de um padrão de beleza estipulado pela sociedade, mesmo que isso cause mal-estar e angústia.
Sendo assim, na terapia serão trabalhadas questões relacionadas à autoestima do paciente, como por exemplo:

  • Quais são os atributos do paciente.
  • O que ele não gosta e por que não gosta – ressignificando esse “não gostar”.
  • Quais mudanças positivas e saudáveis podem ser implementadas na rotina.
  • Quais práticas de autocuidado, com foco na autoestima, podem acontecer.
  • Análise das habilidades que o paciente possui, mas que não costuma comentar por focar apenas no que diz respeito às qualidades da aparência.
  • Quebrar tabus e clarificar o fato de que não existe perfeição e de que a beleza não possui um parâmetro padrão, como vemos em revistas ou na televisão, por exemplo.
  • Entre outros pontos relacionados à autoestima.

A implementação de hábitos saudáveis também pode contribuir para o aumento da autoestima, pois pode auxiliar o indivíduo na sua visão de autossuficiência em muitos casos.

Como a família pode ajudar alguém com bulimia?

Até aqui, pudemos ter uma visão geral sobre a abordagem psicológica na bulimia. Agora, discutiremos algumas considerações que podem ser levadas em conta pela família na hora de lidar com um indivíduo que tenha esse diagnóstico.

Contudo, queremos destacar que não existe uma receita que pode ser seguida pelos familiares. A bulimia é um transtorno sério que exige acompanhamento multidisciplinar de clínico geral, psicólogo, psiquiatra e nutricionista. Sendo assim, as considerações abaixo são apenas pontos de reflexão que podem ser levados em conta na hora de acompanhar o indivíduo em tratamento, não como forma de “tratá-lo” em casa, ok?

Dito isso, vamos às considerações importantes:

1. Não culpar
Este tópico pode ser encarado como um dos pontos mais importantes na hora de auxiliar um familiar com bulimia. Isso porque, muitas vezes, o senso comum ainda comete o erro de culpar a pessoa que sofre de algum transtorno. É como se as doenças e questões mentais não existissem, e fossem facilmente mudadas caso a pessoa “realmente tivesse vontade de mudar”.
Mas, na realidade, não é bem assim que funciona. Como mencionamos anteriormente, a bulimia é um caso sério que exige o acompanhamento de múltiplos profissionais da saúde, visando restabelecer o equilíbrio emocional e nutricional do paciente.
Logo, não tem sentido culpar a pessoa, dizendo que ela é quem deve mudar da noite para o dia e pronto. Obviamente, devemos incentivar e motivar a pessoa, pois sua força de vontade pode impactar no tratamento, mas isso, deve acontecer concomitantemente ao tratamento, pois a compulsão de se alimentar excessivamente e vomitar, ou de se exercitar em excesso, não são escolhas controláveis, são impulsivas. Muitas vezes a pessoa sequer se dá conta do que está fazendo.
Portanto, antes de culpar e falar que a pessoa “não quer mudar”, lembre-se de que estamos diante de um transtorno alimentar, não de uma escolha.

2. Oferecer apoio e escuta
Uma pessoa com diagnóstico de bulimia pode estar atravessando um momento emocional bastante difícil. São dúvidas, revoltas, angústias e tristezas envolvidas com o quadro. Além disso, os problemas emocionais relacionados à autoestima também podem aparecer.
Sendo assim, oferecer apoio e escuta pode ser uma forma excelente de auxiliar o indivíduo. Fazê-lo se sentir acolhido pode ajudá-lo na hora de lidar com as emoções, provocando a possibilidade de haver um maior equilíbrio emocional que contribui para o processo de recuperação.
Afinal, o fato de ter o apoio da família pode servir de alicerce na hora de se encorajar para ir adiante com o tratamento, ao mesmo tempo em que se mantém motivado diante das adversidades.
Lembre-se de acolher o indivíduo nos momentos de recaída, pois isso pode fortalecer a autoconfiança do sujeito na hora de ele se reerguer.

3. Fortalecer hábitos saudáveis dentro de casa
A família pode ser o centro da construção do estilo de vida de um indivíduo. Por isso, especialmente no caso de bulimia em adolescentes, incentivar hábitos saudáveis dentro de casa é muito importante.
Não se esqueça que os pais são, na maior parte das vezes, um exemplo para os seus filhos. Sendo assim, se os pais não têm hábitos saudáveis, torna-se mais difícil estimular e “cobrar” isso dos jovens.
Portanto, fortalecer uma rotina de sono equilibrada, investir em uma alimentação saudável e estimular uma prática de exercícios que respeite os limites do corpo também são ações positivas no seio familiar.

4. Incentivar a procura pelo tratamento
A família pode incentivar o indivíduo a buscar o tratamento, acompanhando-o nas consultas e quebrando tabus relacionados ao acompanhamento psicológico, por exemplo.
Isso porque muitas pessoas podem ter “vergonha” de visitar o psicólogo, por isso, quebrar esse tipo de tabu sobre a psicoterapia é algo que contribui para a busca pela ajuda.
Demonstrar afeto, preocupação e consideração pela pessoa também pode ajudá-la a enxergar o tratamento sob novas perspectivas.
Cuidado apenas para não “forçar” a situação. A comunicação não-violenta pode ser mais promissora nesses momentos.
5. Procurar saber mais sobre a bulimia para não confrontar
Não confronte o paciente, acreditando que isso o fará parar de ter determinados comportamentos. Mas sim, busque saber mais sobre o quadro de bulimia para tomar medidas que estejam alinhadas à realidade do indivíduo.
Assim, você poderá se munir com conhecimentos que podem ajudar na hora de abordá-lo e de oferecer o apoio mais adequado.
Inclusive, em caso de dúvidas, converse com seu médico e/ou psicólogo de confiança, para compreender melhor a situação e analisar quais estratégias poderão ser desenvolvidas.

Referências
SEBOTAIO, A. L. C. et. al. Bulimia: tratamento nutricional e psicológico. XXVII Seminário de Iniciação Científica – Bioeconomia: Diversidade e riqueza para o desenvolvimento sustentável, 2019.

LEONIDAS, C.; CREPALDI, M. A.; DOS SANTOS, M. A. Bulimia nervosa: uma articulação entre aspectos emocionais e rede de apoio social. Psicologia: Teoria e Prática, vol. 15, núm. 2, mayo-agosto, 2013, pp. 62-75.